É incrível que após tantos meses de suspense, de terrorismo
político, de manipulação de vazamentos para interferir nas eleições, a famigerada
Lista do Janot seja um apanhadão baseado quase que exclusivamente em delações
premiadas de Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa.
E delações baseadas, na maioria das vezes, num “ouvi falar”
altamente questionável.
Temos a impressão que os promotores e os delegados da
Polícia Federal simplesmente não trabalharam.
Eles apenas ouviram os dois delatores, conferindo peso de
verdade a tudo que disseram. Quer dizer, nem tudo. O que os delatores falavam
sobre o PSDB era solenemente ignorado ou desprezado.
Nem a contradição entre um e outro foi considerada.
Os depoimentos sobre Lindberg Farias, Humberto Costa e
Palocci foram contraditórios.
Paulo Roberto Costa falou uma coisa, Albertou Youssef negou.
No caso de Lindberg, nem a delação de Costa o incrimina,
porque o petista foi conversar com ele, quando Costa ainda era um homem
imaculado, sem acusações, para lhe ajudar a obter arrecadação oficial, legal,
para a sua campanha.
Agora todos esses nomes serão usados para a mídia construir
o seu tribunal particular, tendo já julgado e condenado e sentenciado todos.
Nem importa se os casos forem arquivados mais tarde. Se isso acontecer, a
imprensa gritará pizza e o objetivo estará cumprido de qualquer forma:
enfraquecer politicamente o PT.
Os senadores do PT foram incluídos para que o governo
perdesse o seu núcleo de apoio no Senado. O inquérito serve para
desestabilizá-los em várias frentes: emocionalmente, politicamente e até
financeiramente, visto que precisarão contratar escritórios milionários de
advocacia. Fragilizados, e ocupados com suas próprias defesas, terão
dificuldade para defender Dilma ou o governo.
Parece tudo um jogo político.
O caso Palocci volta à instância do Paraná, onde o juiz
Sergio Moro voltará a fazer suas estrepolias seletivas, tentando atingir Dilma
Rousseff.
O escândalo todo serve maravilhosamente à oposição
midiática, serviçal de obscuros poderes econômicos.
Com um congresso enfraquecido e um governo instável, a mídia
amplia seu poder.
Para a maioria da população, oprimida entre uma mídia
manipulada e um governo afônico, os políticos listados são culpados por
antecipação.
O caso mais sólido da Lista de Janot, o senador Aécio Neves,
cujas implicações nos desvios de Furnas não são baseadas apenas nas delações,
mas em documentos inúmeros presentes em outro inquérito, foi arquivado a pedido
do próprio Janot.
Não se pode acusar, todavia, o Ministério Público Federal de
ser incompetente em matéria de comunicação. Esse defeito é um privilégio do
governo federal.
O MPF fez um hotsite espetacular sobre a Lava Jato, com
diagramas detalhados.
Claro que o MPF jamais faria algo assim para investigar o
trensalão, a compra de votos para a reeleição, a privataria, o Banestado, o
mensalão tucano, a lista de Furnas, o Suiçalão.
No caso da AP 470, o MPF mandou fazer até uma historia em
quadrinhos para criança.
Ainda está lá, no site do MPF: a “turminha do MPF” fala de
um assunto bem sério, o mensalão.
É o único escândalo político que recebeu esse tipo de
atenção do MPF.
Quando o escândalo serve a um propósito midiático, o MP não
mede esforços, não economiza recursos.
O MP jamais gastou tempo ou dinheiro mandando promotores à
Suíça para investigar o trensalão ou Suiçalão, mas já mandou seus melhores
quadros à Itália para pressionar o país a extraditar Pizzolato.
No caso do trensalão, havia depoimentos consistentes; não de
bandidos contumazes, mas de executivos honestos, acusando tucanos e o governo
de SP de receber propinas. Há provas, contas na Suíça, valores.
Não valeram de nada.
O procurador “esqueceu” o processo numa gaveta por anos, só
o encontrando após o caso se tornar um vexame internacional, quando o
ministério público suíço fez uma reclamação formal pública contra a negligência
de nossas autoridades.
O procurador foi absolvido. E o trensalão vai sendo
novamente engavetado e esquecido.
No caso da compra de votos, tínhamos a confissão de dois
deputados. E, sobretudo, tínhamos a emenda da reeeleição, um caso absurdo de
governante que muda a lei em benefício próprio. Os bolivarianos, quando fizeram
algo parecido, tiveram ao menos o escrúpulo democrático de eleger uma nova
assembléia constituinte, e consultar o povo através da realização de
plebiscitos.
Aqui, não. Foi uma patranha palaciana blindada e apoiada
pela grande mídia.
Quando os depoimentos sobre a compra de votos vazaram,
ninguém se interessou em aprofundar as investigações.
E agora estamos diante de nova patranha.
Não importa se as acusações contra diversos parlamentares
são inconsistentes. O caso servirá de pretexto para quebras de sigilo e
perseguições midiáticas implacáveis. Senão forem encontradas provas, o MP
tratará de montar alguma teoria mirabolante, como fez na Ação Penal 470, onde a
ausência de provas para condenar Dirceu fez a procuradoria lançar mão da Teoria
do Domínio do Fato.
Lembrando: os mesmos procuradores que assessoram Gurgel a
escrever a acusação da Ação Penal 470 são responsáveis pela Lava Jato.
O mesmo Sergio Moro que escreveu o texto fascista de Rosa
Weber, dizendo que condenaria Dirceu mesmo sem provas, é o responsável pela
Lava Jato, mantendo executivos presos a mais de 100 dias em troca de delações
que atinjam o governo. Já conseguiu com os mais descarados e os mais doentes,
como Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef e Barusco.
Agora parece estar conseguindo com executivos da Camargo
Correa.
As delações, como se vê, não precisam sequer ter
consistência.
Os delatores dizem ter “ouvido falar isso e aquilo”, e
pronto, são absolvidos por Sergio Moro.
Esperemos agora que os acusados tenham a inteligência que os
réus da AP 470 não tiveram, e entendam que é preciso montar uma estratégia
política em conjunto. E denunciar o golpe em andamento.
Até mesmo a inclusão de Eduardo Cunha e Renan Calheiros pode
ser parte de uma armação. Porque se a acusação contra eles não for consistente,
e for arquivada, os dois irão tentar resgatar sua imagem perante a mídia
entrando no jogo, assumindo o papel de inquisidores implacáveis.
Meu Brasil brasileiro! Até o momento, está tudo dominado.
As coisas, pelo jeito, ainda devem piorar muito antes de
começarem a melhorar.
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