Por Bepe Damasco, em seu blog:
Não é que já tem gente do campo da esquerda democrática
dourando a pílula das manifestação do último domingo? Na minha visão, é um
grave equívoco dizer que os atos reuniram gente de todas as classes. Isso não é
verdade. Conta-se nos dedos o número de pobres nestas marchas fascistas,
integradas na sua quase totalidade pelas classes média e alta. Também em nada
contribui para a leitura correta do dia 15 acreditar que aquelas pessoas
estavam ali para protestar contra a corrupção, conforme a pesquisa do Datafolha
detectou. A corrupção está para a mobilização de domingo assim como o passe
livre esteve para 2013,ou seja, é um mero pretexto. Puro embuste.
Se fossem militantes sinceros da causa anticorrupção,
estariam defendendo a reforma política e o fim do financiamento privado. Parte
expressiva dos que estiveram na Avenida Paulista berra contra a corrupção, mas
dá propina para a PM, quando flagrada em infração de trânsito, e não hesita em
sonegar impostos. Dispensemos, por favor, bobagens do tipo "uma minoria
pediu intervenção militar", ou "alguns usam palavrões em seus
cartazes e gritos de guerra contra a presidenta Dilma, Lula e o PT ", ou
ainda "um número pequeno de extremistas pregou o assassinato da presidenta
e de Lula e deram demonstrações de intolerância e violência." Chega de
tergiversações: minoria é uma ova.
Confesso que não esperava viver para ver tantos brasileiros
abastados abraçarem sem cerimônia a teses mais antidemocráticas, intolerantes,
preconceituosas, violentas e fascistas. O que assistimos é um movimento de
massas da direita como não se via no Brasil desde 1964, quando a expressão
máxima da mobilização dos reacionários foi a marcha com Deus pela Família. As
pessoas que estão nas ruas destilam o ódio disseminado pela mídia e não têm
quaisquer compromissos com a ordem democrática. Não respeitam o resultado das
eleições e se lixam para a soberania popular. É gente com claro déficit de
conhecimento da história do Brasil. Analfabetos políticos e ignorantes, merecem
como diz um amigo, uma surra de livro, isto sim.
Eles são brancos e nunca passaram privações. São portanto,
minoritários, na sociedade brasileira. Mas dão a impressão de que são
gigantescos, uma vez que estão mobilizados e com a faca entre os dentes. Sem
falar no apoio incondicional e decidido do monopólio midiático. Enquanto isso,
a maioria da população ( pobres e classe média baixa) se divide entre os que
estão perplexos, os que foram contaminados pela febre golpista dos
conservadores, os que se dizem decepcionados com Dilma e desanimados e os que
ainda topam defender suas conquistas nos últimos 12 anos.
Em vez de enxugar gelo com platitudes como "acatamos
com humildade o recado das ruas" ou "isso faz parte da
democracia", o governo deve correr para se repactuar com sua base social,
sinalizando com medidas concretas. O nosso governo deve ser o único no mundo em
todos os tempos que insiste em afrontar quem tem coragem de ir para as ruas em
sua defesa, como a CUT, o MST e a UNE. E isso num momento de crise de extrema
gravidade. De domingo para cá, parece inacreditável, mas uma das poucas
respostas que o governo deu às manifestações foi dobrar a aposta na aprovação
do ajuste fiscal pelo Congresso Nacional. Justamente o ajuste abominado pelos
seus aliados.
Sinalização concreta para o povo significa dar uma guinada à
esquerda, com algumas medidas objetivas :
1) Acatar as sugestões de mudanças feitas pelas centrais
sindicais nas MPs 664 e 665, que dificultam o acesso a direitos
previdenciários. Se preciso, retirar as MPs.
2) Mudar o ministério, mandando embora o Levy e a Kátia
Abreu, e levando para o coração da articulação política palaciana o Jaques
Vagner, por exemplo.
3) Falar todos os dias em reforma política, explicando para
a população porque o financiamento privado das campanhas está por trás de quase
todos os esquemas de corrupção.
4) Discutir com a sociedade e, finalmente, mandar para o
Congresso um projeto de regulação econômica da mídia.
5) Incluir entre as prioridades do governo uma luta de apelo
popular, tipo a implantação gradual da tarifa zero dos transportes em todos os
municípios. É um assunto que cabe ao Executivo municipal ? É evidente, mas o
governo federal pode desempenhar um importante papel indutor nessa questão.
Alimento poucas esperanças, porém, de que o
governo tenha coragem política para operar essa mudança de rota. Vamos torcer e
pressionar. Mas está
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