Por Douglas Belchior, no blog Negro Belchior:
Mais uma vez propostas para a redução da maioridade penal
estão em tramitação no Congresso. Após ser desarquivada em fevereiro, a PEC 171
foi levada à Comissão de Constituição e Justiça e da Cidadania (CCJC) da Câmara
dos Deputados, onde deve ser aprovada.
Se confirmada a aprovação na CCJC, a proposta deve seguir
para uma comissão especial e na sequência ir à plenária, onde precisa ser
aprovada em dois turnos, antes de ser avaliada pelo Senado.
A PEC 171, de 1993, de autoria do deputado federal Benedito
Domingos (PP), propõe a modificação do artigo 228 da Constituição Federal para
que a idade penal seja reduzida de 18 para 16 anos.
Um dos argumentos é conter supostas ondas de criminalidade
protagonizadas por adolescentes, que se beneficiariam de impunidade garantida a
eles pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
“Existem muitos mitos no sentido de que a redução da
maioridade penal seria a solução para a questão da criminalidade no País. Os
fatos, dados públicos e experiências em outros países, porém, mostram que isso
é ilusão”, ressalta Vivian Calderoni, advogada da Conectas. “Devem ser adotadas
medias urgentes para solucionar esse problema, mas a redução da maioridade
penal não é uma delas”, completa.
Além de ser cláusula pétrea na Constituição – ou seja, não
poder ser alterada -, uma eventual reforma da idade penal iria contrariar
recomendação da ONU. Esta diz que a medida representa uma ameaça para os direitos
de crianças e adolescentes e contraria tendências mundiais na gestão da justiça
juvenil.
“Ao contrário do que se pensa, no Brasil os adolescentes
infratores já são punidos. E, além disso, os dados não deixam dúvidas de que os
jovens são muito mais vítimas do que autores da violência em nosso País”,
enfatiza Rafael Custódio, coordenador de Justiça da Conectas. “A criminalidade
só se reduz com altos investimentos em prevenção. Um dos caminhos mais
importantes no que diz respeito a criminalidade juvenil é o investimento em
educação”, explica.
Para esclarecer por que a Redução da Maioridade Penal não
funciona, a Conectas traz abaixo 6 mitos e dados sobre o tema:
Mito: Prender adolescentes que cometerem crime em presídios
em vez de mantê-los em unidades socioeducativas irá reduzir a criminalidade
Prender não é a solução. Ao contrário do que pregam alguns,
o Brasil prende muito e prende mal. Dados do Ministério da Justiça mostram que
o sistema prisional brasileiro tem a quarta maior população carcerária mundo –
com 574 mil presos, de acordo com as informações de junho de 2013 -, ficando
atrás apenas dos EUA, Rússia e China.
Entre 1992 e 2013, o Brasil elevou sua taxa de
encarceramento (número de presos por cada grupo de 100 mil pessoas) em 317,9%.
A velocidade é tanta que quase metade destes detidos ainda não foi
definitivamente condenada – 43,8% são presos provisórios.
Mas, apesar disso, o País não está mais seguro. Ao
contrário, junto com o aumento da taxa de encarceramento houve um crescimento
dos índices de criminalidade. O índice de homicídios, por exemplo, subiu 24% em
8 anos, conforme aponta dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Mito: Os adolescentes que cometem crimes ficam impunes
Na atual legislação brasileira, os adolescentes autores de
atos infracionais podem ser punidos com a privação de sua liberdade, assim como
os adultos. O ECA prevê até três anos de reclusão.
Atualmente, mais de 20 mil estão reclusos em unidades de
internação, de acordo com o 8º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Apesar
de diferenças em relação a penitenciárias, na prática, a perda de direitos e a
disciplina são semelhantes.
Os adolescentes recebem visita uma vez por semana e suas
famílias devem ser submetidas à revista vexatória, procedimento que envolve desnudamento,
agachamentos repetidos sobre um espelho e inspeção vaginal e anal.
Apesar de receberem cursos e aulas para estimular sua
reintegração social, há denúncias de tortura e maus tratos cometidos por
agentes do estado.
Além disso, o ECA, assim como o Código Penal, prevê outros
tipos de punição, como a liberdade assistida, na qual o jovem responde em
liberdade, porém sob vigia constante de um tutor ou guarda e fica obrigado a
comparecer na presença do juiz periodicamente.
Mito: os adolescentes são responsáveis por boa parte dos
crimes cometidos no Brasil
Segundo informações da Senasp (Secretaria Nacional de
Segurança Pública), adolescentes de 16 a 18 anos são responsáveis por apenas
0,9% do total de crimes no Brasil. O índice cai para 0,5% se for considerado
somente homicídios e tentativas de homicídio.
Mito: a maioria dos crimes cometidos por adolescentes é
violenta
Entre os mais de 20 mil jovens cumprindo medidas
socioeducativas no Brasil, quase 90% não são acusados de terem cometido crime
contra à vida, segundo o 8º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Mito: crianças e adolescentes negros e pobres frequentemente
seguem a vida do crime
Na realidade, crianças e adolescentes em situação de
vulnerabilidade social são as principais vítimas de crimes e violência. Segundo
o Mapa da Violência de 2014, mais da metade (cerca de 30 mil) das 56 mil
pessoas assassinadas em 2012 eram jovens entre 15 e 29 anos, dos quais 77% eram
negros.
Além disso, cerca de 151 mil crianças e adolescentes, com
até 17 anos, vítimas de maus-tratos e agressões, foram atendidas pelo Disque
100, entre janeiro e dezembro de 2014.
Mito: países desenvolvidos e em desenvolvimento fixam a
idade penal em menos de 18 anos
De 54 países estudados pela Unicef (Fundo das Nações Unidas
para a Infância), 78% fixam a idade penal em 18 anos de idade ou mais. Entre
eles, estão França, Espanha, Suíça, Noruega e Uruguai.
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