Autor: Miguel do Rosário
A Globo passa por uma profunda crise de imagem, e que só
tende a piorar, porque o seu jornalismo piora a cada dia.
Seu jornalismo torna-se cada dia mais e mais manipulador,
mais e mais mentiroso.
As verdades são transformadas em mentiras, através de um
processo de manipulação cada vez mais sofisticado e mais cínico.
As mentiras são transformadas em verdades aplicando-lhes, na
superfície, um verniz de meia-verdade.
Uma de suas apresentadoras, Angelica, é fragorosamente
vaiada ao visitar uma universidade (Unirio), no Rio de Janeiro.
Seus jornalistas, igualmente, não podem mais pisar nenhuma
universidade pública sem serem recebidos por vaias.
Em São Paulo, 60 mil professores marchando nas ruas também
entoam coros contra a Globo. Entendem que a Globo é contra eles, ao não dar
informações honestas sobre a greve, sobre as condições de trabalho, puxando
sempre a sardinha para o lado do governo estadual.
No complexo do alemão, moradores em protesto contra a
polícia militar, que matou inocentes durante operação na favela, incluindo uma
criança, hostilizam a equipe da Globonews.
Por que isso?
A Globo não é um político, um estadista, a quem as pessoas
endereçam sua irritação em relação aos problemas econômicos do dia a dia.
A irritação com a Globo é algo bem mais profundo, bem mais
consciente, bem mais politizado.
A presença da imprensa deveria ser comemorada por grevistas,
manifestantes de uma comunidade, e universitários, porque seria a oportunidade
de transmitir ideias à opinião pública.
Não é o que acontece.
Manifestantes, trabalhadores ou estudantes, protestam contra
a Globo antes mesmo de saberem o resultado da cobertura, porque a experiência
lhes ensinou que a Globo sempre vai distorcer a informação, contra o
trabalhador, contra o estudante.
Blogueiros e jornalistas independentes sabem que a Globo é
seu principal adversário, até porque a emissora não esconde isso.
Sempre que tem oportunidade, produz matérias para agredir e
difamar jornalistas independentes.
Nos sindicatos e partidos de esquerda, cresce o entendimento
de que a Globo se tornou o principal partido político da direita.
Um partido conservador que faz oposição à qualquer coisa que
cheire a nacionalismo, qualquer coisa que beneficie o trabalhador ou o
estudante.
A Globo sustenta o castelo de cartas da mídia corporativa
brasileira. Um castelo de cartas que, por sua vez, sustenta o que existe de
mais atrasado e reacionário em nosso país.
Toda a estrutura midiática nacional repousa sobre a Globo e
seus milhares de tentáculos.
A Globo é o principal adversário, e admite isso, em
editoriais, de uma regulamentação democrática da mídia, porque sabe que o seu
monopólio seria o primeiro a ser atingido se o universo midiático deixasse de
ser o ambiente selvagem de hoje, em que prevalece apenas o mais forte.
E o mais forte de hoje deve sua força ao regime ditatorial,
por um lado, e a financiamentos ilegais dos Estados Unidos, de outro.
É uma força, portanto, duplamente ilegal, duplamente
antidemocrática.
Ilegal por nascer do arbítrio interno, do golpe; e ilegal
por violar nossa soberania, ao nascer do capital estrangeiro.
Antidemocrática por ter articulado o golpe e depois tê-lo
sustentado; e antidemocrática por se posicionar contra o povo brasileiro, em
benefício de minorias endinheiradas.
Os outros canais de TV também são ruins, mas a estrutura
midiática, como um todo, tem a Globo como principal ponto de apoio.
Não é por outra razão que a Globo é blindada por todo o
corpo midiático oficial.
Sem a oposição política da Globo, haveria condições de uma
regulamentação democrática de TV e rádios no Brasil, introduzindo dispositivos
para garantir a pluralidade política.
O trabalhador brasileiro não pode usar o controle remoto.
Num canal temos Sheherazade incitando linchamento de jovens pobres, no outro
Boris Casoy humilhando garis, no outro Arnaldo Jabor festejando “golpe
democrático” em Honduras e sugerindo algo parecido no Brasil.
Em São Paulo, o sujeito que escolhe ver a TV pública, se
depara com Augusto Nunes, blogueiro da Veja, apresentador do Roda Viva,
entrevistando golpista bancado pela CIA estimulando manifestações contra o
governo.
Com esse congresso, de fato, será difícil aprovarmos alguma
mudança, mas isso ocorre justamente porque a mídia ajudou a elegê-lo.
As forças mais retrógradas do congresso, com Eduardo Cunha à
frente, são os fiadores dessa mídia ainda tão poderosa, embora já tão decadente
em termos de ética e moral.
Em todo o mundo desenvolvido, há pluralidade nos meios de
comunicação.
Nos EUA, não há nada parecido com a Globo.
Estados e municípios tem jornais e TVs locais. Em muitos
condados, há tvs públicas locais.
Fox e MSNBC, uma republicana, mais à direita, outra
democrata, mais à esquerda, disputam a liderança dos canais fechados.
Na Europa, então, nem se fala.
O jornal em língua inglesa com mais audiência de internet no
mundo é o The Guardian, de centro-esquerda.
Mesmo se você ler um grande jornal conservador americano ou
europeu, como o Washington Post, nos EUA, ou o Le Figaro, na França, notará uma
profunda diferença em relação à nossa imprensa: eles respeitam o outro; há um
padrão civilizatório que eles não ultrapassam.
No último final de semana, houve eleições locais na França.
A direita ganhou disparado. Na França, é assim. Há uns seis anos atrás, a
esquerda tinha levado tudo. Agora é a direita que leva a melhor.
Le Figaro, jornal da direita, não trata a esquerda, contudo,
como um inimigo a ser eliminado do mapa. Há respeito pelo adversário.
Organizações de esquerda (partidos, sindicatos) são respeitadas.
Esses jornais, de qualquer forma, são apenas jornais: não
possuem concessões públicas de rádio e tv.
Não há essa contínua tentativa de criminalizar a política,
que assistimos aqui.
Não há essa excrescência que é termos um jornal privado,
fortemente partidário, distribuindo prêmios a juízes em função de sua
perseguição a um determinado partido.
Enfim, a nossa democracia, para se consolidar, precisará se
livrar desses entulhos da ditadura.
Não tem nada a ver com socialismo ou comunismo.
A regulamentação democrática de sistemas de oligopólio e
monopólio são medidas liberais, comuns e necessárias ao capitalismo.
O oligopólio asfixia a livre iniciativa, trava o
empreendedorismo, sufoca a criatividade.
Um país tão rico e tão diverso acorrentado aos pés de um
monstro criado na ditadura?
Nossa democracia, nossos filhos, merecem mais que isso.
Boa Páscoa a todos
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