Um dos focos das investigações da Justiça americana sobre o
escândalo de corrupção na Fifa são transações comerciais em que a Rede Globo,
da família Marinho, atua diretamente há décadas; parceira incondicional da Fifa
desde o mundial 1970, a Globo é detentora da transmissão no Brasil de
praticamente todos os eventos investigados pelo FBI: Copa do Mundo,
Libertadores, Copa América e até a Copa do Brasil; o elo mais forte entre Globo
e Fifa é o brasileiro José Hawilla, da Traffic Group, que assumiu os crimes de
extorsão, fraude, lavagem de dinheiro e vai devolver US$ 151 milhões; além
disso, J. Hawilla é dono da TV TEM, maior afiliada da Globo no país; apesar das
ligações perigosas, a Globo se limitou a dizer, no Jornal Nacional, que "o
ambiente de negócio do futebol seja honesto"; também afirmou que
"sobre essas empresas de mídia não pesam acusações ou suspeitas" (Fonte: Brasil 247)
29 de Maio de 2015 às 04:57
247 – As investigações do Departamento de Justiça americano
e do governo da Suíça sobre o escândalo de corrupção na Fifa, que sacudiram o
mundo do futebol e levaram à prisão cartolas como o brasileiro José Maria
Marín, envolvem transações comerciais em que a Rede Globo, da família Marinho,
atua diretamente há décadas: a compra de direitos de transmissão de eventos
esportivos nacionais e internacionais.
Segundo a polícia federal (FBI) e a receita federal
americanas, as investigações na Fifa tiveram início por causa do processo de
escolha das Copas do Mundo de 2018, na Rússia, e de 2022, no Catar, mas foi
expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos.
A investigação atua em várias frentes. Sobre a compra dos
direitos de transmissão o esquema funcionava basicamente assim: para ter
contratos de direitos de transmissão de eventos organizados pela Fifa, como a
Copa da Mundo ou Copa Libertadores, empresas de marketing esportivo pagavam
propinas milionárias aos dirigentes da Fifa. De posse dos direitos de
transmissão, as empresas revendia-os a grupos de comunicação do mundo todo. Só
em relação aos direitos de transmissão da Copa América de 2015, 2019 e 2023, a
Datisa, formada formada pela Traffic, do brasileiro J. Hawilla, e duas
companhias sul-americanas, aceitou pagar US$ 352,5 milhões e mais US$ 110
milhões em propinas para os presidentes das federações sul-americanas. A Rede
Globo comprou da Datisa os direitos de transmissão da Copa América no Brasil.
A empresa da família midiática mais rica do planeta não é
citada nas investigações do FBI. Mas faz transações com a Fifa sobre
transmissão de eventos esportivos desde o mundial de 1970. Em 2012, a Globo
anunciou a compra dos direitos de transmissão das Copas do Mundo de 2018, na
Rússia, e de 2022, no Catar. Os valores dos negócios não são divulgados
oficialmente.
Na época do anúncio, o presidente das Organizações Globo,
Roberto Irineu Marinho, comemorou a compra da transmissão dos mundiais. “Por
mais de 40 anos, a Globo e a Fifa desenvolveram uma parceria muito frutífera,
que trouxe ótimos resultados para ambas as partes. Durante todos estes anos, a
Fifa conseguiu fazer do futebol o esporte mais popular, com um grande público
em todo o mundo, e a Globo se sente orgulhosa de ser parte desta história. Por
esta razão, nós estamos orgulhosos de prolongar esta parceria’, afirmou
Marinho.
J. Hawilla, parceiro dos Marinho
Entre a Fifa e a Globo aparece um elo de ligação que é peça
chave nas investigações de corrupção das autoridades americanas: o empresário
José Hawilla, dono da Traffic Group, maior empresa de marketing esportivo da
América Latina.
J. Hawilla, como gosta de ser chamado, confessou à Justiça
dos EUA ser culpado pelos crimes de extorsão, fraude eletrônica, lavagem de
dinheiro e obstrução da justiça - ele é o único brasileiro entre os réus
confessos declarados culpados pela Justiça dos EUA. Ele se comprometeu a
devolver US$ 151 milhões de seu patrimônio - US$ 25 milhões deste total já
teriam sido pagos no momento da confissão. O mandatário da Traffic já foi
classificado diversas vezes pela imprensa nacional como "dono do futebol
brasileiro".
A ligação entre J. Hawilla e a família Marinho inclui a
transmissão de eventos esportivos de peso. A Traffic teve exclusividade na
comercialização de direitos internacionais de TV da Copa do Mundo da Fifa no
Brasil, em 2014. A empresa de J. Hawilla é a atual responsável pelos direitos
de torneios como a Copa Libertadores, cujo direito de transmissão foi comprado
pela Rede Globo.
Além relações perigosas no futebol, Rede Globo e J. Hawilla
têm parceria comercial também nas Comunicações. Ex-repórter da área de
esportes, ele se tornou afiliado da Rede Globo a partir da Traffic. Em 2003,
ele fundou a TV TEM, no interior de São Paulo – hoje a maior subsidiaria do
grupo, cobrindo 318 municípios e 7,8 milhões de habitantes, alcançando 49% do
interior paulista. J. Hawilla também comprou, em 2009, o "Diário de
S.Paulo", mas vendeu o jornal logo em seguida.
Sonegação na Copa de 2002
A Rede Globo criou um "antecedente criminal" em
sua relação comercial com a Fifa, intermediada por empresas como a Traffic. A
emissora disfarçou a compra dos direitos de transmissão dos jogos da Copa do
Mundo de 2002, na Coreia do Sul e Japão, da qual o Brasil foi campeão.
A engenharia da Globo para disfarçar a operação envolveu dez
empresas criadas em diferentes paraísos fiscais. Todas essas empresas pertencem
direta ou indiretamente à Globo, segundo os documentos. O esquema funcionava de
modo que o dinheiro para a aquisição dos direitos era pago através de
empréstimos entre empresas pertencentes à Globo sediadas em outros países.
Deste modo, a empresa brasileira TV Globo, não gastava dinheiro diretamente com
a operação. Posteriormente, as empresas que detinham os direitos de transmissão
eram compradas pela TV Globo.
“Essa intrincada engenharia desenvolvida pelas empresas do
sistema Globo teve, por escopo, esconder o real intuito da operação que seria a
aquisição pela TV Globo dos direitos de transmitir a Copa do Mundo de 2002, o
que seria tributado pelo imposto de renda”, afirma em relatório do processo o
auditor fiscal Alberto Sodré Zile.
A artimanha fiscal resultou na sonegação de R$ 183,14
milhões, em valores da época. Segundo a Receita Federal, somando juros e multa,
o valor que a Globo devia ao contribuinte brasileiro em 2006 sobe a R$ 615
milhões.
Em 2013, o blog O Cafezinho divulgou 29 páginas do processo
da Receita Federal contra a Rede Globo. O relatório divulgado comprova que as
organizações Globo criaram um esquema internacional envolvendo diversas
empresas em sedes por todo o mundo para mascarar a compra dos direitos da Copa
de 2002. O objetivo principal seria o de sonegar os impostos que deveriam ser
pagos à União em pela compra dos direitos (leia mais).
Via Bonner, Globo diz querer “futebol mais honesto”
A única manifestação da Rede Globo até o momento sobre o
escândalo na Fifa foi um editorial lido por William Bonner no "Jornal
Nacional" nessa quarta-feira, 27, quando a emissora ressaltou que apoia as
investigações promovidas pela justiça americana.
"A TV Globo, que compra os direitos de muitas dessas
competições, só tem a desejar que as investigações cheguem a bom termo e que o
ambiente de negócio do futebol seja honesto. Isso só vai trazer benefícios ao
público, que é apaixonado por esse esporte, e às emissoras de televisão do
mundo todo, que como a Globo fazem um esforço enorme para satisfazer essa
paixão", acrescentou Bonner.
No "Jornal da Globo" desta quarta (29), também
disse que "não pesam acusações ou suspeitas sobre as empresas de mídia de
todo o mundo que compraram desses intermediários os direitos de
transmissão", caso da Globo.
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