Por Emanuel Cancella, no blog Viomundo:
Cai a máscara de Sérgio Moro. Ao pedir ajuda aos Estados
Unidos para investigar duas das maiores empresas do Brasil – Odebrecht e
Andrade Gutierrez – o juiz da Lava Jato quer colocar a raposa cuidando do
galinheiro.
Sérgio Moro é um Dom Quixote às avessas. O que parece ser um
gesto “corajoso e nobre” de quem tenta a todo o custo acabar com a corrupção,
esconde intenções nefastas.
Em 2009, a Wikileaks publicou que o então candidato à
Presidência da República José Serra (PSDB) estava comprometido com interesses
da Chevron, a petrolífera estadunidense que protestou quando foi aprovado o
modelo de partilha.
A lei aprovada no governo Lula mantém a Petrobrás como
operadora única do pré-sal e também assegura à empresa brasileira, de saída, a
propriedade de 30% em cada campo a ser prospectado. Sem dúvida, representou um
avanço em relação ao que existia antes.
Aparentemente “bem intencionado”, Sérgio Moro caminha par e
passo com o vendilhão José Serra. Enquanto o primeiro chama os ianques para
“ajudar a investigar empresas brasileiras”, o senador do PSDB de São Paulo já
conseguiu que o Congresso aprovasse a votação em regime de urgência do projeto
de sua autoria que derruba o modelo de partilha e retoma o modelo de concessão,
estendendo para o pré-sal a fatídica Lei 9.478/97, de FHC, que, na prática,
acabou com o monopólio estatal do petróleo.
O modelo de concessão é o pior possível para o Brasil e os
brasileiros, deixando escoar pelo ralo toda a riqueza que deveria ser utilizada
para sanar os problemas sociais do país. Se o projeto de Serra for aprovado,
quem perde e a Petrobrás e o povo brasileiro.
Vão para o ralo, inclusive, os recursos que já estavam
destinados à saúde e educação, através dos royalties que seriam pagos à União.
Casado com uma advogada que está a serviço do PSDB e de
petrolíferas estrangeiras, as ações de Sérgio Mouro prejudicam a Petrobrás e
favorecem os interesses de petrolíferas como a Chevron. É inadmissível que a
Justiça não coloque o juiz Moro em suspeição, pelo envolvimento direto dos interesses
dos clientes de sua esposa com esse caso.
Apurar a corrupção é legítimo. Mas prejudicar a economia, a
engenharia e os projetos sociais do país é ilógico e deslegitima a forma como
esse processo caminha. Juntas, Odebrecht e Andrade Gutierrez são responsáveis
por mais de cem mil empregos. As duas empresas são as maiores prestadoras de
serviço do país e da Petrobrás, no Brasil e no exterior. As concorrentes
estadunidenses a essa altura estão festejando as consequências da Lava Jato.
Com que autoridade um juiz do interior consegue abalar as
maiores empresas do país, sem medir as consequências do desemprego em massa?
Favorecendo abertamente os interesses das empresas norte-americanas que, com
certeza, se investigadas fossem, também cairiam nas malhas da corrupção? Qual o
plano B para evitar os prejuízos sociais e econômicos para o país e a evasão de
divisas?
Os Estados Unidos, agora chamados por Moro para ajudar a
investigar empresas nacionais, não reconhecem o mar territorial brasileiro (200
milhas).
Caso Serra consiga derrubar a Lei de Partilha e Moro, no
rumo que segue, consiga inviabilizar da concorrência as empresas nacionais e
impor novos prejuízos a Petrobrás, estarão esticando o tapete vermelho para
facilitar o domínio do imperialismo estadunidense no pré-sal.
O dono do WikiLeaks, Julian Assange, por suas incômodas
revelações, amarga no exílio, escondido há anos na Embaixada do Equador, em
Londres. No Brasil, o cinismo dos tucanos e da grande mídia não tem limites.
Insistem em travestir de heróis aqueles que querem acabar com o regime de
partilha, com a observância do conteúdo nacional e insistem em destruir a
Petrobrás – patrimônio do povo brasileiro – e a engenharia nacional.
O juiz João Batista Damasceno, em um artigo corajoso,
declarou: “Tenho vergonha de ser juiz, mas não perco a garra e nem me dobro ao
cansaço”. Referia-se à impossibilidade de melhorar as condições do povo no país
em que vive, em face das dificuldades estruturais e institucionais.
Como João Damasceno, existem inúmeros juízes que honram as
suas togas. Mas também existem aqueles que as envergonham. Sérgio Moro é um
falso herói. No Paraná, onde está jurisdicionado, os juízes fazem farra com o
dinheiro público, o que não parece causar qualquer desconforto ao chefe da Lava
Jato.
Os magistrados paranaenses têm regalias maiores comparados
com o resto do Brasil. Seus salários são 12 vezes maiores que a renda do
brasileiro médio (e seus abonos sequer estão incluídos nessa contagem),
contabilizando cerca de R$ 303,2 mil reais anuais a juízes em início de
carreira. Enquanto o trabalhador comum tem direito a 33% de adicional de
férias, apenas uma vez ao ano, os magistrados paranaenses têm direito a 50% de
abono e duas férias por ano.
Existem confortos maiores aos desembargadores. Eles não só
têm direito a carro com motorista e café da tarde, como também recebem frutas
em seus gabinetes. Sem esquecer que os juízes de todo o país ganharam
recentemente o auxílio moradia, mesmo os que já possuam residência. Mas o juiz
Sérgio Moro se cala diante de tanta mordomia.
Tem juiz que se insurge e é punido, como Siro Darlan que foi
afastado da Vara da Infância e Juventude por criticar a aprovação do
recebimento pelos juízes de quase mil reais por mês, por dependente, como
acréscimo ao já vultoso salário. Os juízes não são deuses e muito menos
infalíveis. Alguns têm vergonha, outros são sem-vergonha mesmo. Ou pior,
utilizam-se de seus superpoderes sem levar em conta os interesses nacionais.
* Emanuel Cancella é secretário-geral do Sindipetro-RJ.
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