Por Fernando Brito
Recebi um texto ótimo, de um companheiro de profissão que
prefere não se expor (o que, nestes tempos de cólera, é mais que
compreensível).
É um precioso resgate de como nasceu a onda do impeachment.
Com pai, mãe, data, hora e local de seu partejamento.
Nos estúdios imundos da “TV Veja”, apenas cinco minutos
depois que os resultados, ainda parciais, das eleições evidenciavam a vitória
de Dilma Rousseff.
Joyce Hasselman, a Sheherazade da revista, e Reinaldo
Azevedo – que dispensa apresentações não deixaram passar cinco minutos da
definição da vitória de Dilma para defender sua derrubada.
Ah, sim, claro que “democraticamente”, como se disse em
todos os golpes, que vierem defender a liberdade com repressão e a vontade do
povo com a imposição de seus próprios ditames.
Falo menos e deixo que você acompanhe o texto. Ao final,
mostro, editado, o vídeo que registra o nascimento do “bebê de Rosemary”,
devidamente editado porque seria um atentado reproduzir as massacrantes nove
horas e pico do bombardeio da Veja no
dia das eleições que, para os céticos, podem ser vistos – não recomendo a
tortura – aqui.
Preferi editar um resumo, que sustenta e comprova o que meu
amigo falou.
É um documento histórico, embora vergonhoso, sobre um
atentado à democracia que se iniciou mesmo antes de concluídos os resultados
eleitorais.
O momento zero do impeachment,
cinco minutos após o resultado das urnas
O clima era de descontração. Falavam alto, riam, porque
falavam mal de Lula. Reinaldo Azevedo havia até imitado o ex-presidente.
De repente, chega a hora que todos esperavam. Com as urnas
fechadas no Acre, o TSE divulgava o resultado da eleição presidencial, e a
parcial eleitoral de 95% das urnas era soprada pelo ponto eletrônico no ouvido
da apresentadora de Veja.
O humor dos 3 debatedores – além de “Tio Rei”, Augusto Nunes
e Ricardo Setti – muda na hora. Silêncio e consternação no estúdio da “TVeja”,
a “TV de Veja”. Dilma Rousseff havia ganhado as eleições de 2014.
Há quase um ano o Brasil perde tempo com a tentativa
infantil de parte da oposição, liderada pelo derrotado inconformado Aécio
Neves, de reverter o resultado das urnas.
Quando exatamente começou essa bobagem?
A palavra, a possibilidade de “impeachment” surge da boca da
jornalista condenada por plágio Joyce Hasselman apenas 5 minutos depois de
anunciado o resultado eleitoral. É a primeira pergunta que ela faz aos
debatedores, não sabemos se de sua autoria, ou se alguém da produção lhe soprou
esse vento na sua cabeça.
Naquela época não se perguntava nas redes se “quem assumia é
o Aécio”, a cada pessoa que cai de qualquer função. Eduardo Cunha ainda não era
presidente da Câmara e não sabíamos que seu Porsche era propriedade de Jesus.
Ninguém tinha discutido ainda a questão de que um presidente
reeleito não pode sofrer impeachment por atos cometidos no mandato anterior.
Kim Kataguiri era apenas um estudante frustrado de economia de uma universidade
pública criada por Lula no ABC. A Câmara não tinha ainda empurrado
“pautas-bomba” e uma agenda conservadora, enfim, o país não tinha perdido tempo
com todas as bobagens com as quais se desgastou.
Mas lá estava Veja.
Antes do resultado, destilando seu ódio contra Lula (nunca
pararam e voltarão ainda com mais força quando tiverem que aceitar de vez a
eleição) , decretando que Aécio era o líder da oposição, o Caprilles
brasileiro, e que o resultado eleitoral não era verdadeiro.
Quanto custou ao Brasil essa discussão estúpida de impeachment?
Quanto fragilizou nossa economia em um momento difícil, quanto palco deu para
todo o tipo de picareta (Agripino, Paulinho, Alexandre Frota, Lobão, Diogo
Mainardi) essa discussão imbecil de impeachment?
Levou apenas cinco minutos depois da eleição para os
golpistas arregaçarem suas mangas. O anúncio do
resultado eleitoral sei em meros cinco minutos surge a palavra impeachment .
E desde então, há um ano, não para mais, numa discussão que os democratas brasileiros devem colocar
no seu devido lugar.
A mão que balança o berço do impeachment tem bem claras suas
digitais.
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