Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos
e cientistas políticos brasileiros
- Quero a verdade. Tragam-me números.
Essa ilusão quantitativa que por tanto tempo teve vigência
na opinião pública não leva em conta o quanto os números escondem ou podem
esconder a realidade. O desmascaramento das pesquisas do Datafalha escancara a
manipulação feita pelas pesquisas e como trataram de influencias na opinião
pública.
Por si só o fato de que os dois mais importantes institutos
de pesquisas até aqui – o Ibope e o Datafolha – tivessem vínculos políticos
muito diretos – um com a Globo, o outro com a Folha -, que tem posições
partidárias claras há anos no Brasil, já demonstrava a falta de isenção deles.
Ainda mais se sabemos que faziam as pesquisas quando lhes interessava, sobre os
temas que lhes interessavam, com as perguntas voltadas para as respostas que
lhes interessavam.
À luz desse desmascaramento do Datafalha, podemos olhar para
tras e reconsiderar os consensos fabricados na opinião pública, que se tornaram
verdades estabelecidas, embora forjadas na cozinha dos institutos de pesquisa.
Passaram a ideia de um isolamento formidável do Lula em 2005, mas um ano depois
o Lula foi reeleito. Massacram o Lula durante todo seu segundo mandato, mas ele
o concluiu com popularidade de 87%.
Mais recentemente, as manipulações foram mais escandalosas.
Imaginar que a Dilma poderia, em poucas semanas, baixar de mais de 50% de apoio
a menos 10%. E se valer disso para propagar que a voz das ruas pedia o
impeachment, o que serviu como argumento político para parlamentares que não
tinham argumento sobre crimes de responsabilidade, mas que diziam estar
sintonizados com as ruas. Mesmo quando obviamente as ruas passaram a ser
ocupadas pelos movimentos populares, a mídia seguiu, nos seus editoriais, a se
apropriar das ruas, como se as antigas pesquisas, manipuladas, lhes dessem esse
direito.
Agora tanto as ruas, como as próprias pesquisas, feitas
pelos mesmos órgãos da direita, apontam em outra direção: a voz das ruas quer
Fora Temer. 81%, escondidos na pesquisa do Datafolha, não querem Temer, não
querem o golpe, querem o Fora Temer.
Apesar de perderem todas as eleições presidenciais desde
2002, os editoriais da velha mídia usam plurais majestáticos para tentar passar
seus interesses particulares pelos interesses do país. O Brasil não quer o
golpe, não quer o Temer, não acredita mais na velha mídia.
Depois de intoxicar a cabeça dos brasileiros de que o
problema fundamental do pais é a corrupção (do PT, claro), buscam confirmar
isso nas suas pesquisas, com as formulações capciosas, que favorecam as
respostas que lhes interessam, que serão destacadas devidamente nas manchetes.
Mas nessa mesma pesquisa já devidamente desmoralizada, se
anunciar que a corrupção seria a principal preocupação dos brasileiros. Mas
logo em seguida vem a saúde, o desemprego, a educação que, somados, superam a
corrupção. Portanto os problemas sociais seguem sendo a maior preocupação dos
brasileiros, ao contrário do que anunciam os arautos do golpe.
O país mudou muito desde aquele vergonhoso
domingo circense preparado pela mídia, de que fazia parte uma suposta voz das
ruas a favor do golpe. Agora a voz das ruas, vista nas ruas, e presente nas
pesquisas, é outra: a grande maioria dos brasileiros, mais de 4 em 5, quer o
Fora Temer
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