Por Eduardo Guimarães
A conduta do juiz Sergio Moro fez a ONU adiar para o final
de janeiro o prazo que o organismo havia dado ao governo Temer para explicar o
processo do Estado brasileiro contra o ex-presidente Lula.
Explico: o que ocorre é que, conforme a Lava Jato, nas pessoas
do procurador Deltan Dallagnol e do juiz Sergio Moro, vai dando seus shows
antipetistas, a defesa do ex-presidente vai informando à ONU esses passos de
modo a corroborar a afirmação de que a Operação e seus condutores agem com
motivações político-partidárias.
Há cerca de dois meses, o Comitê de Direitos Humanos da ONU
recebeu novos documentos enviados pelos advogados de Lula. Em carta, os
advogados citam apresentação em powerpoint dos procuradores da Lava Jato que,
apesar de reconhecerem que não têm provas, acusam o ex-presidente de ser “chefe
de uma organização criminosa”.
Segundo o jornal O Estado de São Paulo, “ao manter o
processo vivo em Genebra, os peritos da ONU (…) apontaram que (…) a pressão
sobre a Justiça brasileira continuará criando uma espécie de habeas corpus
internacional” para Lula.
O que significa isso? Significa que, apesar de a ONU não ter
poder de decisão em território brasileiro, ao acompanhar o caso de Lula o
organismo impede que medidas abusivas sejam tomadas contra aquele que os
brasileiros consideram o melhor presidente da história e que é o líder em todas
as pesquisas para a sucessão presidencial de 2018.
Para quem não sabe, a ONU, ao aceitar investigar a condução
dos processos contra Lula no Brasil, está meio que auditando esses processos e,
também, os que o conduzem, com destaque para Sergio Moro, que, de longe, por
seu gosto incontrolável por holofotes e elogios está produzindo uma fartura de
provas de que o que menos busca é justiça.
Nesta semana, o juiz paranaense se superou. Dois momentos
foram particularmente simbólicos em relação à sua parcialidade contra Lula e a
favor de tucanos.
Momento um: apareceu ao lado do cantor Fagner, em um
restaurante, aplaudindo uma música que diz que a função dele é “enjaular vagabundo”
em vez de julgar com serenidade e isenção acusados pela Justiça.
Momento dois: durante evento da revista IstoÉ realizado na
noite da última terça (6) em São Paulo, o superstar foi Sérgio Moro. Premiado
como o “Brasileiro do Ano na Justiça”, Moro ofuscou artistas e políticos.
Inebriado pela condição de celebridade, produziu cenas bizarras para alguém
cujo trabalho deveria se pautar pela circunspeção e isenção.
Fotos de Moro confraternizando e trocando confidências com
políticos do PSDB, muitos deles investigados pela Lava Jato, correram o Brasil
e o mundo. Fotos em que ele se entrega à tietagem dos “fãs”, todos inimigos
políticos do PT, idem.
O senador tucano Aécio Neves, citado em delações da
Odebrecht e da OAS, trocava confidências com Moro. Sorridentes, ambos
conversavam de forma descontraída ao longo da cerimônia. Aécio é investigado
por sua atuação na CPI dos Correios e por supostamente ter recebido propina da
estatal Furnas.
A conduta de Moro nesse evento fez a festa das redes sociais
Esse farto material revelando o envolvimento político de
Moro corrobora ipsis-litteris as queixas de Lula à ONU, que afirmam, entre
outras coisas, que o juiz federal não tem isenção para julgar o ex-presidente
por manter ligações políticas cada vez mais inegáveis.
Várias pessoas me perguntaram por que Moro age com tanta
desfaçatez, deixando todos verem sua ligação estreita com o PSDB e com os que
conduziram o golpe de Estado que substituiu o governo eleito do Brasil por um
governo sem legitimidade popular.
A resposta é muito simples: porque ele pode. Não há mais
Justiça no Brasil. E os órgãos de controle da magistratura estão de quatro para
Moro. Não têm coragem de puni-lo por condutas como essas.
Moro já deixou claro que não está preocupado com a imagem do
Brasil. Está mais preocupado com os aplausos, elogios e homenagens que recebem
em terras tupiniquins, sobretudo lá na sua doce República de Curitiba.
Entretanto, o primeiro passo para restabelecer a democracia
no Brasil é provar ao mundo que houve um golpe no país e que as instituições
foram subvertidas pelos golpistas. E isso está acontecendo, sem dúvida.
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