Um contingente de 14 milhões de desempregados, que podem representar cerca de 60 milhões de pessoas, se contamos os dependentes. E os que perdem suas casas – especialmente os do programa Minha Casa Minha Vida, mas todos em geral –, por não poder continuar pagando suas prestações. E os que se mudam para a casa de parentes, porque não conseguem pagar aluguel.
Por Emir Sader*, na Rede Brasil Atual
Fabio Rodrigues Agência Brasil
E os que vão diretamente morar nas ruas, sem capacidade de ter um lugar próprio para morar. E os que perdem o Bolsa Família e ficam sem os recursos mínimos para comer todos os dias, para dar leite para os filhos. E os que trabalham sem careira assinada, precarizados. E os que trabalham com medo de perder o emprego. E os que aceitam trabalhar em quaisquer condições. E os que têm os salários atrasados e não sabem quando vão receber. Os que acumulam dividas. Mais os que não puderam seguir a universidade, os que não puderam continuar na escola técnica. Somados a todos os que perderam a esperança, os que perderam a confiança no Brasil, na democracia, na força do povo para manter seus direitos. Aos que têm medo do presente e do futuro. E aos que temem pela ameaças aos seus direitos.
Um Estado que protege os interesses do 1% mais rico e vira as costas para a grande maioria da população, deixa o povo desprotegido. Tira os seus direitos, antes de tudo o direito a um emprego, e o impede de lutar, de se organizar, de protestar. Joga a maioria dos trabalhadores no desamparo. Ao criar uma enorme massa de desempregados, enfraquece a capacidade dos trabalhadores e dos seus sindicatos, de defender seus direitos. Pressiona para que os trabalhadores aceitem ganhar menos com a chantagem do risco da perda do emprego.
É um Estado que abandona os brasileiros para se situar do lado dos ricos. Que protege os investimentos, os favorece, os privilegia, sem se importar se produzem bens e empregos. Que compra lá fora em lugar de incentivar a produção e o emprego aqui, que escancara o mercado interno aos gringos, que vende patrimônio nacional a preço de banana para empresas estrangeiras. Que reduz impostos dos ricos, fecha os olhos para a sonegação, mas cobra rigorosamente impostos dos trabalhadores e da massa da população. Que tira recursos da educação e da saúde, mas preserva os privilégios de todos os que ganham mais, no serviço público antes de tudo.
Uma gangue deu o golpe, assaltou o Estado e o colocou a seu serviço. Blinda os banqueiros que dirigem a economia, barganha com os ladroes que colocaram no Congresso com o dinheiro das grandes empresas privadas, intensificando a exploração dos trabalhadores e elevando seus superlucros.
O modelo neoliberal trabalha ativa e conscientemente para isso. Para neutralizar a ação do Estado e deixar que as regras do mercado se imponham de forma selvagem sobre o pais e sobre a população.
E quem defende o povo, se o Estado age sistematicamente contra ele e desarma suas formas de resistência? Quem defende e ampara o desempregados? Como se garante o direito humano inalienável ao trabalho? Como se protegem as pessoas contra a pior situação de todas, o abandono?
A diferença entre um governo que cuida das pessoas e um governo que cuida do mercado é abismal. Um cuidas das pessoas, dos seus direitos, do seu bem-estar. O outro cuida do capital, do dinheiro dos ricos, das suas fortunas.
Numa democracia, o Estado garante o direito das pessoas. Os governantes são eleitos para defender os interesses da maioria.
Num golpe, esses direitos são expropriados do povo e concentrados nas mãos dos golpistas e das elites a serviço de quem está o governo. Multiplicam o desemprego para desvalorizar o poder de negociação dos trabalhadores. Liberam a especulação financeira. Escancaram o pais para o capital estrangeiro.
O povo brasileiro precisa urgentemente da democracia, não somente para recuperar sua liberdade política, mas também reaver seus direitos sociais e se defender do sofrimento e do desamparo a que o golpe o condena.
*Emir Sader é sociólogo e cientista político
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