1. INTRODUÇÃO
O
I Congresso Internacional Um Novo Tempo na Educação foi promovido pelo
professor Renato Casagrande e parceiros, nos dias 15 e 16 de julho de 2020. Ocorreu
de forma on-line, envolvendo 10 países e tendo a participação de mais 120 mil
educadores. Diversos debatedores, de várias áreas da educação, apresentaram as
suas contribuições sobre os desafios que os docentes estão enfrentando no
período de pandemia do Novo Coronavírus (COVID-19). Questões sobre o ensino
remoto e o enfrentamento dos problemas da educação no pós-pandemia, com um
“novo normal”, foram largamente debatidas. O congresso abordou as seguintes
temáticas:
•
Um novo tempo na educação;
•
A implantação da BNCC com o impacto do
Coronavírus;
•
Perspectivas e desafios do ensino híbrido na
educação básica;
•
A avaliação da aprendizagem durante e após a
paralisação das aulas;
•
Formação de professores na era digital;
• A
inteligência socioemocional na melhoria do ensino e aprendizagem.
As ricas contribuições dos
palestrantes lançaram luzes para os desafios que professores, gestores, governos,
pais e alunos terão que enfrentar após a reabertura das escolas. Foi chamado
atenção para a necessidade de o professor construir um novo planejamento, com novas
metodologias de ensino e novos critérios de avaliação. O “novo” docente deve estar
aberto para abraçar a chegada do ensino híbrido, valorizar as múltiplas inteligências
dos alunos e as diversas formas deles aprenderem. Para isso é necessário o professor lutar pela
valorização profissional, pelo progressivo
aumento do financiamento da educação, pela valorização do salário, pela implementação
do PNE, da BNCC e pela formação permanente.
Apesar das lacunas desse artigo,
apresentaremos as principais contribuições dos debates, assim como indicaremos
uma série de desafios sobre o papel do Estado, do professor, da escola, dos pais
e alunos, diante deste “novo normal” para a construção de um “novo tempo” inspirado
na música de Ivan Lins, (1984).
Apesar de tantas incertezas com a pandemia, uma
certeza apresentou-se nesse Congresso, inspirada na música de Lulu Santos
(1983), a frase que parece ser consenso para os educadores: “nada do que foi
será de novo do jeito que já foi um dia”. Neste contexto, atentamos para outras
premissas: mudanças profundas na escola, na educação e em toda sociedade se
farão necessárias para o enfrentamento dos complexos problemas políticos,
econômicos e sociais que já são uma realidade, consequências do neoliberalismo,
mas, pior ainda, estes problemas se
agravarão no pós-pandemia. Precisaremos manter a utopia acesa para a construção
de um “novo tempo”, mas com os pés no chão, participação nas lutas sociais e de
olho na correlação de forças de cada momento.
Um novo tempo não será um
presente simplesmente da vontade subjetiva dos educadores, por mais importante
que ela seja, nem muito menos da vontade só dos governantes que temos. Vai além disso, será
uma conquista real que deve envolver educadores, pais, alunos, várias correntes
ideológicas, governantes comprometidos e amplas massas. Esse novo tempo vai
precisar também de muita criatividade na educação, muitas ideias e muitas
formas de lutas sociais. Por fim esse artigo vai procurar investigar e
responder qual é a relação desse novo tempo com o desenvolvimento do senso
crítico do aluno, com crescimento da consciência política geral do povo, com o
aperfeiçoamento e evolução da nossa democracia e com o papel do Estado nacional.
2.
COMO SERÁ O “NOVO NORMAL” NAS ESCOLAS?
A
palestrante, Dra. Ana Escobar (2020)
– Médica - Consultora do Bem-Estar – Rede Globo, integrante
do PAINEL: “Como voltar às aulas nas escolas: O que devemos e podemos fazer?”. Recomendou
que isso deve ser feito com muito cuidado e segurança, destacando ainda a
importância do papel da família e dos professores nesse processo, até o
surgimento de uma vacina contra a covid-19. Entre as recomendações de Escobar (2020)
destacamos:
·
Crianças acima de 02 (dois) anos deve usar
máscaras, com tecido de duas camadas, que deve ser trocada pelo menos a cada 4
(quatro) horas;
·
Os ambientes escolares devem estar ventilados,
pois as gotículas pesadas do Coronavírus caem, mas as gotículas mais leves
ficam suspensas no ar por cerca de dois metros. Com a ventilação elas são
espalhadas para distante das pessoas;
·
Todos devem lavar as mãos regularmente com água
e sabão em casa e na escola;
·
Desinfetar o material escolar e não
compartilhar com os colegas;
·
Manter o distanciamento de pelo menos 1 (um
metro) de pessoa para pessoa;
·
Utilizar só 35% das salas de aulas e
desinfetá-las a cada turno.
Além disso, a educadora chamou
a atenção de todos da escola para o cuidado com os adolescentes e crianças com
necessidades especiais.
3.
QUAIS AS MUDANÇAS QUE SERÃO NECESSÁRIAS NO
CAMPO DA EDUCAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO TEMPO?
Conforme constatações deste I Congresso,
a nova realidade que os professores estão vivendo com o ensino remoto pegou
todo mundo de surpresa. De uma sexta-feira para uma segunda-feira, eles tiveram
que abandonar a escola e iniciar uma nova experiência pedagógica, no entanto,
os docentes, chamados de heróis nesse congresso por muitos palestrantes, estão
dando conta do recado, cada um à sua maneira, de acordo com as suas debilidades, potencialidades e realidades.
É importante ressaltar também que
na volta às aulas, além do uso da máscara, distanciamento entre professores e
alunos e dos cuidados com a higiene, os professores precisam refletir sobre “as
formas de aprender dos alunos”, que são variadas e daqui para frente deve
comportar um trabalho pedagógico diferente chamado de ensino híbrido. O papel
do professor nesse processo deve ser o de “mediador, orientador e curador”,
conceitos bastante abrangentes para um profissional, mas que exigem também uma
nova formação continuada. Além disso, desafios como o novo planejamento, o
currículo, a seleção de conteúdo, as metodologias de ensino e os critérios de
avaliação deverão tomar uma nova forma, dado os inúmeros desafios que os
docentes terão daqui para frente.
4.
A NECESSIDADE DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PERMANENTE
Na palestra: “A formação do professor para a BNCC e
a educação na era digital,” foi apresentada por Guiomar Namo de Mello (2020),
membro do CEE-SP. Ela destacou as 10 (dez) Competências
Gerais da Base Nacional Comum Curricular que acompanham o desenvolvimento dos
alunos desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.
Para
Melo (idem), o Brasil ainda precisa avançar muito na formação dos professores e
na implementação dos Planos Políticos Pedagógicos nas escolas para atingir as
competências da BNCC. Ela também lembrou que existe a BNCFP, que trata da
formação dos professores, mas questionou: como isso está ocorrendo na prática? Sobre os critérios de avalição, Melo (2020),
sugeriu que o professor precisa trabalhar outras competências nos alunos, como
a socioemocional, pois essas competências são trabalhadas em outras profissões.
Ela argumenta também que as pessoas aprendem de acordo com a prática, a partir
do que elas conhecem, mas “a matemática que se ensina é diferente da matemática
que se pratica”, disse ela.
Destaca-se na palestra dela outro
desafio para o professor avaliar e, acrescenta-se que esse desafio não é
pequeno. O professor precisa conhecer o contexto, a realidade de cada aluno, a
situação econômica e social da família. Mas pergunta-se: como conhecer essa
situação geral com salas de aulas superlotadas?
A palestrante fez questão de lembrar,
quando se afirma que não devemos abandonar nenhum aluno, que também o professor
não deve ser abandonado pelos governos, quando se trata da situação salarial e
das condições de trabalho.
A palestrante Melo (2020),
ainda disse que, além dos desafios da educação que virão com o ensino híbrido,
um deles é otimizar o tempo: “precisamos de uma mistura de coisas, novos temas,
novos conteúdos”. Nesse sentido sugere que é necessário aprender com as
experiências educacionais de outros países, a exemplo dos países asiáticos que
usam a formação coletiva, metodologias ativas, projetos para enfrentar e
resolver problemas etc.
Ela também destacou que a formação
de professores precisa ser permanente para que eles “não cuspam o conteúdo em
sala de aula”, “isso é ruim”. Ainda afirmou que é preciso tornar o ensino mais
atrativo e desenvolver o senso crítico do aluno. Ainda sobre a formação, Contin (2019),
citando Melo, destaca que “A formação de
professores não é um problema novo, mas está despertando uma atenção cada vez
maior porque a elaboração da BNCC trouxe junto o seguinte problema: “se o
professor não for formado, a base vai morrer na praia.” Nessa linha de
raciocínio percebemos que se exigem mudanças. Melo (2020), concluiu dizendo que
“o novo tempo vai precisar de novos pensamentos e de novas ideias”.
5.
O PROFESSOR DEVE
TRABALHAR AS 10 COMPETÊNCIAS GERAIS DA BNCC COM OS ALUNOS PARA A CONSTRUÇÃO DO
NOVO TEMPO
Na
intervenção de Melo (2020), discorrendo sobre “A formação do professor na era
digital” e destacando a importância das 10 competências das aprendizagens
essenciais definidas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), dá-se importante
contribuição para a construção desse novo tempo na educação no Brasil. Para
reforçar e complementar a importância dessas competências, a revista Cel.Lep,
(2018). no artigo “Entenda as 10 competências gerais da BNCC”, defende a tese
de que essas competências, além de serem direitos dos discentes na educação
básica, são muito importantes para o desenvolvimento na aquisição de
conhecimentos. Segundo a publicação, além dos conceitos, procedimentos,
habilidades, práticas cognitivas e socioemocionais, as competências devem
também contribuir para que os discentes tenham atitudes e defendam valores
indispensáveis ao exercício da cidadania nas três etapas do ensino: infantil,
fundamental e médio.
Os
comentários críticos de Penido (2018), nesse artigo, pontuam que os dois eixos
estruturantes do ensino infantil, Interações e Brincadeiras, são base para
garantir seis direitos de aprendizagens e desenvolvimento, a saber: “Conviver,
Brincar, Participar, Explorar, Expressar e Conhecer-se”. Aqui já percebe-se a
dimensão dessa tarefa docente para o aprendizado
e desenvolvimento do aluno, que deve garantir a eles o desenvolvimento do: “Eu,
o Outro e o Nós; Corpo, Gestos e Movimentos; Traços, Sons, Cores e Formas;
Escuta, Fala Pensamento e Imaginação; e Espaços, Tempos, Quantidades, Relações
e Transformações”.
Essa
dimensão complexa da aprendizagem do aluno, tendo o professor como principal
protagonista dessa tarefa, deve trabalhar as 10 Competências da BNCC, inicialmente,
para que o aluno adquira um conhecimento que promova a valorização e a
utilização histórica sobre o mundo cultural, social, físico e digital. Esta
última aprendizagem, que deve ser adquirida pelo aluno, requer um professor que
também esteja incluído no mundo digital, pois a pandemia de 2019 e 2020,
mostrou as dificuldades e precariedades ainda existentes na escola e na
sociedade nesse item. Portanto, reclama-se uma nova formação docente e novos
investimentos estatais. Além do mais, essa competência precisa produzir um
aluno que compreenda e explique a realidade na qual está inserido e prossiga
aprendendo para poder contribuir com a edificação de uma sociedade que promova
a justiça social e valorize a democracia com inclusão social.
O “novo
aluno” precisa ter pensamento científico, crítico e criativo, treinar a
curiosidade intelectual, recorrer a questionamentos próprios das ciências, ser
capaz de seguir investigando, refletindo e analisando criticamente, por
intermédio de uma imaginação criativa, pesquisando causas, levantando e
confirmando hipóteses, formulando e solucionando problemas, incluindo os tecnológicos.
Além
disso, outras duas competências importantes para o aluno, dizem respeito ao
Repertório Cultural e a Comunicação. Nesse sentido, o aluno precisa produzir,
dar valor, gozar, utilizar e divulgar a arte, as culturas locais e mundial. Os
alunos ainda devem desenvolver competências relacionadas a comunicação por
intermédio de diferentes linguagens: verbal (oral e escrita), visual-motora, de
libras, corporal, do som e digital. E, ainda deve utilizar linguagens
relacionadas as Artes, a Matemática e a Ciência, produzindo sentidos que
conduzam a entendimento mútuo.
Diante
desse grande e complexo desafio que as 10 competências apresenta para os discentes e, ainda, do processo evolutivo em
um mundo cada vez mais tecnológico, o aluno deve também ter a competência de compreender
a Cultura Digital, fazer uso dela, criando tecnologias da informação, comunicando-se
de forma crítica, relevante, prudente e ética nos mais diversos fazeres
sociais, inclusive no espaço do educandário, onde deve transmitir, obter,
divulgar informações, criar conhecimentos, resolver enigmas, desempenhar e ser
o figurante principal e autor da sua
vida individual e coletiva.
O novo tempo vai precisar
também de um aluno, conforme a sexta competência da BNCC, que valorize as
culturas diversas, os saberes em ralação a profissão, as disciplinas, o currículo
e experiências para entender “o mundo do trabalho” e, quando fizer escolhas, fazê-las niveladas
ao exercício da cidadania, ao seu projeto de vida, com livre arbítrio, com
independência, consciência crítica e responsabilidade.
Esse
novo aluno deve ter também a competência de apresentar fatos e ideias lógicas,
negociar e fazer a defesa das ideias, pontos de vistas e decisões comuns. Essas
decisões devem respeitar “os direitos humanos, a consciência socioambiental, o
consumo responsável”, tanto no local que vive, na região e no mundo, com
caráter, posicionamento ético, no que diz respeito aos cuidados com os outros e
com o planeta.
O novo
aluno deve também aprender a conhecer a si próprio, apreciar e cuidar da sua
própria saúde física e emocional, compreender a diversidade humana, reconhecer
suas emoções e as emoções dos outros, “fazer autocrítica e ser capaz de lidar
com elas”.
Por
fim as duas últimas competências orientam que o docente deve procurar
desenvolver no aluno a Empatia e a Cooperação, a Responsabilidade e a Cidadania.
Na primeira, o discente deve praticar a empatia: compreender emocionalmente o
outro, dialogar com o próximo, cooperar, respeitar e promover o respeito ao
outro e aos direitos humanos. E ainda, ele
deve aceitar e receber o outro, dar valor as diversidades individuais e
grupais, aos saberes, as identidades, as culturas e as potencialidades do outro
na sociedade, livre de qualquer preconceito.
A segunda e última competência, deve ser desenvolvida proporcionando ao aluno
habilidades que promovam o “agir pessoal e coletivamente com autonomia,
responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação”. O indivíduo, além
de precisar adquirir a capacidade de lidar com as adversidades, ainda deve agir
de forma sustentável em relação ao meio ambiente, ser solidário e democrático
com o outro.
Percebe-se,
com base neste pequeno relato das 10 Competências gerais da BNCC, que não será uma
tarefa fácil para os professores trabalharem todas no dia a dia em sala de aula,
haja vista, que só podemos desenvolver no outro aquilo que desenvolvemos em
nós. Estamos prontos para todas elas? Isso quer dizer que elas precisam ser
trabalhadas em todas as formações dos professores, pois além de complexas,
precisam ser assimiladas, vivenciadas e praticadas por cada educador e por cada
aluno para a construção de um novo tempo na educação. Estes eixos estruturantes
da educação demandam também que aos alunos, devem ser assegurados ainda seis
Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento. São eles: “Conviver, Brincar,
Participar, Explorar, Expressar e Conhecer-se”.
Mas
é necessário que todo esse processo de construção de um novo tempo ocorra em um
ambiente democrático, pois além de alunos e professores precisarem de liberdade
em sala de aula para exercerem o contraditório, ao vivenciarem essas
competências, precisarão também da
democracia em todo país, já que a escola não é um ambiente isolado do todo.
Fontes:
Texto da terceira versão da BNCC Infantil e Fundamental, MEC, Porvir e Anna
Penido, diretora do Instituto Inspirare e integrante do Movimento Pela Base
(leitura crítica).
6.
O GRANDE DESAFIO DOCENTE DA AVALIAÇÃO
Maria Inês Fini (2020), Ex-Presidente
do INEP, proferiu a palestra: “Currículo e avaliação em tempo de BNCC e
pandemia”. Ela iniciou discorrendo sobre a avaliação recomendando aos
professores que é preciso questionar: estamos medindo o quê? Avaliando para
quê? Como avaliamos? Segundo ela o professor avalia a partir de uma proposta
curricular. E questiona: quais são as
práticas que fazem nossos alunos aprenderem? Mesmo destacando os avanços
históricos sobre a avaliação no Brasil, desde o Ministro Paulo Renato, chegando
a BNCC e a Reforma do Ensino Médio, ela disse ainda que há uma diferença entre
memorização e conhecimento. Em suas palavras “precisamos ter cuidado com o lado
perverso da avaliação”. E esclarece: não se trata de aprovar todo mundo, mas “é
preciso valorizar as criatividades dos alunos no ensino remoto”. Para ela “o
erro ensina mais do que o acerto”; “E pede: por favor não usem a avaliação como
forma de controle”. E concluiu dizendo
que: “o aluno agora precisa da homologia de processos”. Que, segundo o Centro
de Referências em Educação Integral, 2019 é:
Homologia de processos. Também conhecida como
isomorfismo, que em suma propõe aproximar os discursos e valores da educação ou
de uma rede ou escola das ações e metodologias desenvolvidas em seus processos
formativos, também alinhados com o currículo. (Educação Integral.org.br, 2019).
O painel: “Currículo e avaliação em tempo de BNCC e
pandemia.” Ficou a critério dos professores:
José Francisco Soares – Ex-Presidente INEP; Ghisleine Trigo Silveira –
Coordenadora Geral da BNCC no Brasil; Marcelo Ferreira da Costa – Presidente
UNDIME-GO e Vice-Presidente UNDIME Nacional. A Moderadora foi:
Roberta Bento – Fundadora do SOS Educação e do site de educação do Portal do
Estadão.
Soares
(2020), disse na sua palestra que “a BNCC é a garantia de direitos. Mas sugeriu
aos professores fazerem os seguintes questionamentos: “eu estou na escola para
quê?” Estamos ressignificando os conteúdos? O que devo ensinar? Como devo
ensinar? Como devo avaliar? Nessa linha de raciocínio ele destaca que o
conhecimento, as habilidades, os valores e o caráter, ensinados nas escolas
devem servir para a sociedade.
Ele
abordou também a importância da forma como são trabalhados os conteúdos e
chamou a atenção para as competências. Para ele os alunos devem ser mobilizados
para resolverem problemas. E pontua: a avaliação que o professor está fazendo é
da ou para a aprendizagem? E explicou: a primeira é padronizada, somativa; a
segunda é formativa, para resolução de problemas. E disse, se dirigindo aos
professores, “precisamos aprender a aprender”. E concluiu sugerindo que não
está na hora de prova de múltipla escolha e que seria importante pedir aos
alunos para eles contarem para os outros o que aprenderam nesse período
remoto.
Costa
(2020), fez uma relação histórica sobre esse período da covid-19 com a gripe espanhola
e disse que hoje, assim como naquela época, existem aqueles que negam a Ciência.
Mas
sobre avaliação ele pediu que os docentes não usassem a avaliação para “acertos
de contas”, pois a educação deve servir para formação da cidadania e que “escola
atrativa não é só conteúdos”. E sugeriu ainda que a avaliação deve levar em
conta todo o processo.
Rodrigues
(2020), discorrendo sobre a diversidade nas escolas sugere que as avaliações externas
devem levar em conta as realidades diferentes de cada região do país, pois, para
ela, “o Brasil não é só o Sudeste”. Explicou em seguida o que é preconceito
linguístico e propôs que devemos ouvir os estudantes e considerar as suas
vivências nesse processo. Ela defendeu também que “nós educadores devemos
querer uma sociedade com equidade e que respeite a diversidade”.
A
palestra: “A inteligência socioemocional no mundo em transformação.” Ficou a
critério do Dr. Augusto Cury – Psiquiatra e Escritor. Na sua fala ele disse que
“educar é muito mais do que transmitir conhecimentos. Para ele, “a escola deve
trabalhar a “inteligência sócio emocional”, procurar desenvolver a empatia, ou
seja, a pessoa deve aprender a se colocar no lugar do outro. Os pais devem
dialogar com os seus filhos, perguntar a eles onde erraram. E finalizou dizendo
que a escola deve ensinar a matemática da emoção, pois “dividir é fazer o bem”.
7. QUAL
DEVE SER O PAPEL DO PROFESSOR NA CONSTRUÇÃO DE UM NOVO TEMPO?
Godoy
(2020), refletindo sobre o papel do professor perguntou qual é a nossa missão
aqui na terra? Qual é o nosso propósito? O que eu, professor, estou fazendo
aqui? O que posso fazer para aprender mais? E sugere aos docentes no ato de
ensinar e avaliar: “olhem para a alma do aluno”. Sempre é possível o docente ir
além, mesmos com tantas dificuldades. Nunca desistam! Concluiu ela.
Eduardo
(2020), fez o uso da palavra AMOR e foi a raiz dela. Do latim, A
significa ausência; mor significa morte. Ou seja: Ausência da morte. O
educador é fonte de amor e é preciso continuar sonhando. Para ele ensinar no EJA é resgatar vidas. E finalizou
tirando conclusões sobre esse momento remoto e sobre a educação. “O professor é
único, especial, essencial, insubstituível e deve continuar fazendo a diferença”.
Costin
(2020), disse na sua intervenção que o novo tempo vai precisar “assegurar uma
educação inclusiva, equitativa e de qualidade”. Ela levantou alguns
questionamentos: educação para quem? O que é qualidade na educação? E defendeu
que qualidade não se trata só de uma escola bem estruturada, com piscinas etc.
E continuou questionando: de onde partimos? E na sequência, utilizando os
números do PISA, apresentou diversos números que mostraram a nossa situação
educacional ainda está muito atrasada em relação a outros países do mundo. E mesmo
pontuando nossos enormes desafios, nas esferas do ensino Básico e do Superior,
reconheceu que avançamos na educação no Brasil. Mas criticou o MEC pela
ausência nesse período e torceu para que o MEC, com novo ministro, atue.
Ampliando
a discussão para a esfera econômica e política ela criticou o populismo tanto
de direita como de esquerda, provocando a gente para questionar: mas qual é a
essência do populismo de esquerda? Quais as diferenças entre o populismo de
direita e o de esquerda? Quais são as alternativas aos populismos?
Na
sequência, Costin (idem) abordou os enormes desafios para os professores e para
a sociedade, nesse novo tempo, pois, segundo ela, somos o segundo país mais
desigual em educação nos números do Pisa. Ela disse ainda que “os nossos alunos
ricos, perdem para alunos pobres de outros países” e só 2,7% dos nossos alunos,
querem ser professores. Ela defendeu que
agora, com a 4ª Revolução Industrial, os professores precisam preparar os
jovens para competências mais sofisticadas.
Falando
sobre os desafios do ensino remoto e, futuramente hibrido, Costin citou a
experiência do Maranhão, onde se utiliza o rádio como aliado do governo nesse
período, cita também a importância de ter impressos nas escolas para os alunos
que não tem internet, elogia os professores que se reinventaram nesse período e
defende uma formação emergencial dos professores para o retorno de forma física
às escolas.
Ela
disse ainda que agora é preciso “pensar fora da caixa” e pontuou: “infelizmente
é nas crises que a gente aprende por que temos que sair da zona de conforto”. E
assegurou: “as crises são momentos de quebras de paradigmas”. E propôs que fosse
feito um projeto interdisciplinar com o tema da covid-19 nas escolas, defendeu
também que o governo deveria proporcionar a inclusão digital aos alunos, se
referindo ao Estado do Maranhão, que está oferecendo chip para os alunos dos 3º
anos do Ensino Médio. E concluiu dizendo: a escola deve trabalhar com metodologias
ativas, com resolução colaborativa de problemas, tornar os alunos
protagonistas, ensiná-los a pensar para que eles sejam autores da sua própria
vida.
8. PARA
CELSO ANTUNES “O PROFESSOR DEVE VESTIR A CAMISA”
O
Professor Celso Antunes (2020), entre outras questões, discorreu sobre “Como
ficará a escola após o vendaval da pandemia”. Ele disse que, além de ter
orgulho de ser chamado de professor, pois, esse vocábulo vale muito mais do que
os títulos que tem, apresentou algumas características que deve ter a escola do
novo tempo, bem como o tipo professor que essa nova escola precisa.
Para
ele o professor deve vestir a CAMISA, como faz o torcedor de um time de
futebol, pois este chora e fica alegre, dependendo do jogo, mas nunca desanima
e deixa de torcer pelo seu time. Para ele a escola deve ter o mesmo apoio do
professor como se fosse um torcedor de um time, mas sobretudo, como sujeito de
mudança. E propôs: “na volta às aulas todos devem vestir a camisa da educação e
da escola”. Mas o que significa mesmo
esta CAMISA proposta por Antunes (2020)?
Ele
mesmo explica: a letra C significa criatividade
e a letra A atenção. Assim ele
defendeu que é preciso “apostar” na criatividade
do aluno, pois a criatividade não se cria, se estimula, mas como, depois de
estimulá-la, melhorá-la? Ele sugeriu: é
preciso treinar mecanismos para chamar a atenção
dos alunos com questionamentos, trabalhos em grupos, projetos etc.
A
letra M significa mérito. Para isso ele propõe “parar uma aula por semana para estimular valores” como
a bondade, o respeito, a justiça, a solidariedade e a amizade. A
letra I tem o significado de inteligência. Mas há muitas inteligências, como a linguística,
a espacial, a musical, a corporal, a lógico matemática, a intrapessoal e
interpessoal. E aproveitando para dar um exemplo de inteligência linguística
ele contou que certa vez encontrou em uma dessas feiras do interior do Nordeste
um poeta cego que pedia o mote para fazer um repente na hora. Aí Antunes pensou
um mote difícil de rimar e deu para o poeta a palavra mãe. O poeta respondeu
mais ou menos assim, pois não consegui anotar os dois primeiros versos citados
por Antunes:
Estou pedindo na feira
porque sou cego de guia,
mas quando mãe era viva
eu era um cego que via.
Com
esses versos ele quis chamar a atenção dos docentes para a importância do
professor trabalhar as várias inteligências do aluno. Por certo, trabalhando
assim, o docente terá um novo olhar para o discente.
Na
sequência, para a letra S, Antunes, (idem) propõe para o professor trabalhar
também os cinco sentidos do aluno. E segundo
o google, (2020) aqui vai uma definição deles:
O corpo humano é composto
de cinco sentidos: a visão, o olfato, o paladar, a audição e o
tato. Eles fazem parte do sistema sensorial, responsável por enviar as
informações obtidas para o sistema nervoso central que, por sua vez, analisa e
processa a informação recebida.
E por
fim, o A significa auto avaliação, que vale tanto para o professor como para os
alunos. Nessa letra ele propôs o seguinte:
por que não permitir aos alunos a auto avaliação? E explicou: “não se
trata de abandonar as outras formas de avaliar, mas países que têm uma educação de
qualidade, como: Finlândia, Noruega e Dinamarca a fazem. E questionou: “estamos
presos demais aos conteúdos e onde chegamos? Aqui ele se refere a situação da
educação geral no país em relação a muitos outros.
Por fim
Antunes assegurou que educação não é só conteúdos, ela precisa fazer o aluno
pensar sobre a sua realidade, sobre a teoria e a prática. E concluiu:
precisamos vestir a “camisa”, basta querer.
9.
A SITUAÇÃO INTERNACIONAL NESSE PERÍODO
REMOTO: FINLÂNDIA, PORTUGAL E ESTADOS UNIDOS
9.1.
FINLÂNDIA
Uma
das riquezas desse I Congresso de Educação no Brasil foi ir além das nossas
fronteiras para ampliar os nossos conceitos sobre os desafios do antes e do
pós-pandemia, comparando a nossa realidade com outras realidades de outros
países. A palestrante Evelyse Eerola (2020), interveio sobre a situação da
Finlândia nessa pandemia. Inicialmente ela explicou que “a educação é a espinha
dorsal da Filândia”, dando conta da atenção que o governo de lá tem com esse
fenômeno social. Discorrendo sobre o ensino remoto ela afirmou que naquele país
o ensino público é melhor do que o
ensino privado, nas escolas tem internet, o material didático é coletivo, a escola
é integral e autônoma, todos os professores e alunos tem laptop, mas eles são
disponibilizados só nas escolas. Nesse caso ela disse que foi um problema nessa
pandemia, já que não se tinha esse material em casa. Disse ainda que os alunos,
desde a pré-escola tem um tablete, as salas de aulas são super tecnológicas,
embora alguns professores ainda não largaram o giz.
Eerola
(2020), disse também que apesar do governo na Finlândia dar total apoio à
educação pública, ela disse que esse ensino remoto no período da pandemia se
tornou um problema novo, por isso, no
início foi muito estresse, mas lá cada escola tem uma psicóloga, que ajudou muito nesse momento. Depois de
ouvir os alunos e os pais, ela disse que em três semanas estava tudo organizado
na Finlândia. “Não queríamos voltar ao ensino presencial, mas o governo acabou
convencendo os professores da questão legal, o povo respeita muito as leis na
Finlândia”. Voltamos sob protesto e a carga horária de lá foi cumprida, afirmou
ela.
Por
fim, ela disse que a direita na Finlândia era contra os avanços na educação
pública, mas só se acalmou depois dos resultados do PISA. Por isso cabe aqui uma pergunta: a direita de
outros países é diferente da direita da Finlândia quando se trata de educação pública? Até
quando vai essa calma da direita finlandesa?
9.2.
ESTADOS UNIDOS
A
representante dos Estados Unidos, Sara Hughes, (2020) entre outras questões, afirmou
que aquele país tem uma realidade diferente em cada estado, a presença nas
escolas foi difícil nesse período remoto, além do problema das desigualdades
sociais que aumentaram muito nos Estados Unidos, mesmo assim se conseguiu no
final realizar as formaturas on-line.
Hughes,
(2020) disse ainda que apesar de terem conseguido realizar as formaturas,
muitos Estados americanos ainda não voltaram ao normal por causa da pandemia.
Ela afirmou ainda que muita coisa nos Estados Unidos tem semelhanças com o Brasil,
como as desigualdades sociais, as mudanças econômicas, perda de empregos, falta
da internet em bairros pobres etc. Além disso ela citou o problema da merenda
escolar, que, apesar de ter na escola, alguns alunos trazem de casa.
Por
fim, Hughes (2020), afirmou que agora, com o ensino remoto e depois com ensino
híbrido, nós da educação precisamos criar hábitos novos. Por isso é preciso
questionar: o que é aprender? Como aprender? É preciso arriscar, correr atrás,
se referindo aos educadores. O tutor precisa proporcionar isso aos alunos, “ele
precisa recriar e apostar na mudança”, concluiu ela.
9.3.
PORTUGAL
A
Professora Ariana Cosme, (2020) representando Portugal, entre outras questões,
na sua contribuição a esse congresso disse que o país parou nessa pandemia e só
funcionou os serviços de emergência. E sugeriu que “a grande missão do
professor é manter a curiosidade de aprender do aluno”. Disse que, apesar de um tronco comum na
orientação educacional, ela ganha formas próprias em cada região. E garante:
“não há receita única para realidades diferentes”.
Em
Portugal, Cosme (2020), cita como parcerias importantes no momento da pandemia, as atividades dos
alunos que foram levados por padeiros em sacos plásticos e entregues nas casas.
Lá também, como aqui e nos Estados Unidos, há desigualdade social, muitas
famílias não têm internet e afirmou: “a escola não está parada nesse momento,
funciona on-line, só não temos a presença física”. Talvez, com a questão do
padeiro, ela tenha chamado a atenção para a seguinte questão: quem mais poderia
ter sido nosso parceiro no momento do ensino remoto em cada município?
E por
fim ela sugeriu ao docente que é preciso apostar na autonomia do aluno: a
singularidade, a criatividade e a originalidade são ferramentas muito
importantes no século XXI, pois a escola não é um museu”.
10. OS DESAFIOS PARA UM NOVO TEMPO NA EDUCAÇÃO E NA SOCIEDADE
Diante do exposto, depois de tantas
incertezas sobre o porvir, em especial depois do ensino remoto, uma certeza é
consenso entre a maioria dos palestrantes desse congresso: precisamos de uma
nova educação para cimentar o novo tempo. Para construção desse novo tempo temos
um instrumento muito importante que é a internet que está servindo para o
desenvolvimento e a qualificação da nossa educação, mas essa maravilha da
tecnologia contemporânea criou também um
monstro chamado fake news, essa estragégira neofascista é usada de forma
avassaladora, em especial, pela extrema
direita, que contamina nossos jovens e destrói a reputação de pessoas de bem em
um prazo recorde. Palafraseando um comentarista da Rede Globo, Octavio
Guedes, (2020), afirmamos que as mentiras nas redes sociais “é
como se a porta do inferno tivesse sido aberta e todos os demônios tivessem
saído dos esgotos para contaminarem as pessoas com elas. Por isso e, muito
mais, esse novo tempo não será uma tarefa pequena e não depende só da educação
e de nossa vontade subjetiva, mas sim da superação de muitos entraves fincados
historicamente em nossa sociedade capitalista, irracional, desumana e
desigual.
Nesse sentido a música que inspirou
esse congresso de Ivan Lins (1984), Novo Tempo, “apesar dos castigos”, necessita
de uma breve retrospectiva histórica. Quais os castigos que sofríamos naquela
época? Por certo eram “castigos” de um
vírus diferente, a Ditadura Militar que tinha sido implantada mediante um golpe
militar com apoio civil que acabou prejudicando gerações de brasileiros, pois
perseguiu, assassinou, torturou e exilou em torno de 30 mil pessoas. O
desenvolvimento da consciência crítica e libertária de toda uma geração foi
truncado. O novo tempo, naquela época, se transformou em realidade depois da união de
amplas forças que tinham promovido manifestações com milhões de pessoas nas
ruas e culminou com a eleição indireta de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral,
em seguida produziu a melhor constituição da nossa História, a de 1988, que
garantiu, em seguida, as eleições diretas para presidente da República.
De acordo com Silva, (2020) entre as consequências de 21 anos da Ditadura
Militar no Brasil, estão:
434
mortos por conta do autoritarismo do regime, além de mais de 8 mil indígenas
mortos pela política de ocupação da Amazônia; 20 mil torturados; Quase cinco
mil pessoas com direitos políticos cassados; Aumento da corrupção, pois não
havia liberdade para investigar os crimes dos militares; Redução nos direitos
dos trabalhadores; Aumento da desigualdade social; Aumento do endividamento do
Brasil; Inflação alta e crise econômica etc.
(SILVA, 2020, p. 2).
Hoje, além da covid-19, quais são os outros
desafios e “castigos”, como diz a música, que estamos sofrendo? Qual tem sido a postura do presidente da
República, Jair Bolsonaro, de extrema direita em relação a pandemia? Primeiro
subestimou e minimisou os efeitos da covid-19. Segundo não enfrentou o problema
com uma estratégia nacional de planejamento que deveria ter sido feita com
governadores e prefeitos. Terceiro disseminou o negacionismo, desrespeitou as
orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde), apoiou manifestações contra
o isolamento social e contra a democracia; e, até esse período no qual estamos
escrevendo este artigo, liberou pouco mais da metade do dinheiro para combater
o Coronavírus etc.
Questionando sobre a Música de Lins (idem), será
mesmo que “Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos para nos
socorrer? Nos socorrer de quê? De uma pandemia que já causou a morte de mais de
160 mil pessoas. Quantas mais ainda irão morrer? Asseguramos, sem medo de
errar, que a nossa única chance de vencer a covid-19 é por intermédio da
Ciência, com a descoberta de uma ou mais vacinas. E, por fim, acreditamos que estamos mais vivos, informados
e politizados para nos socorrer de um presidente de extrema direita, com viés autoritário,
que trabalhou até agora, contra a democracia, contra a Ciência, contra a saúde,
contra a vida e contra a educação. O novo tempo vencerá o velho tempo que
tentam impor no país!
10. 1. QUAL É A RELAÇÃO DA CONSTRUÇÃO DE UM NOVO
TEMPO COM A POLÍTICA?
O I
Congresso um novo tempo na educação nos instigou a ampliar a nossa análise para
a relação da política com a construção de um novo tempo. Como nos ensina uma
das leis da dialética a escola não é uma ilha e o fenômeno da educação está
relacionado com os outros fenômenos da sociedade, ou seja, a parte está ligada
ao todo. Pensando assim, será necessário
refletir nesse artigo sobre duas afirmações desse congresso: uma de Costin (2020),
quando ela discorreu sobre os números da nossa realidade educacional no país e ampliou
a sua análise para o campo da política tecendo considerações sobre o fenômeno
dos populismos. Para ela “populismos de esquerda ou de direita é sempre ruim”.
A outra frase é do organizador do congresso Renato Casagrande, quando afirmou,
emocionado, próximo ao final do evento, que os professores nunca digam que não
gostam de política, pois vamos precisar dos políticos e, eles serão muito
importantes no ensino híbrido. Renato tem razão quando chama a atenção dos
professores para a importância da política e dos políticos. Por isso o ideal na
política não seria os professores e todos os trabalhadores identificarem o viés
ideológico, o projeto de cada partido e de cada candidato nas eleições? O
problema é que, pela falta de formação política, muitas pessoas e, também
muitos professores, votam nas pessoas e não nos partidos e nem nos projetos em
disputas, isso concorre para o atraso educacional e geral do país. O ideal seria a nossa escola cumprir a sua função
social ensinando a História de cada município e, nela, a história de cada
partido, de cada candidato em cada eleição e de cada projeto defendido por eles.
A escola precisa ser aberta para todos os políticos e para a política de forma
geral. Por isso defendemos que a Ciência Política deveria ser ensinada nas
escolas desde o ensino fundamental. Isso não é cidadania? Como o docente vai sensibilizar
o discente para o desenvolvimento do senso crítico para que ele transforme a
realidade na qual está inserido sem conhecer sobre economia e sobre política? Como
ensinar aos outros o que não conhecemos nem sabemos, pois não temos em nossas
formações a Ciência Política? Quanta falta nos faz nas formações de professores
o estudo da Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire e da Pedagogia Crítica dos
Conteúdos de Demerval Saviani! Pelo menos essas duas pedagogias deviam ser
ensinadas e discutidas em todas as formações dos docentes de todas as áreas.
Nesse
sentido cabe perguntar ao leitor desse artigo: a quem interessa o analfabetismo
político das massas? A resposta é óbvia: é claro que é a classe que detém os meios
de produção por meio da exploração do trabalho, a grande burguesia financeira. O
ideal seria as pessoas acreditarem mais em projetos do que em salvadores da
pátria ou líderes carismáticos que promovem o culto à personalidade e afrontam
à democracia, pois a democracia deve ser sempre aperfeiçoada, deve estar sempre
em construção, nunca deve ser negligenciada, negociada ou naturalizada.
Por isso
as questões políticas que envolvem a esquerda, a direita, os extremos, o centro
esquerda, o centro direita, as novas formações econômicas, além de muito
complexas, na essência, tem relação direta com o tipo de educação que temos nessa sociedade dividida em classes sociais com
interesses antagônicos, precisam ser conhecidas e estudadas nas escolas para a
formação da cidadania e o aperfeiçoamento da democracia. Esse é melhor antídoto
contra o negacionismo e o avanço autoritário da extrema direita e para a
construção de um novo tempo na educação.
10.3.
DIREITA E ESQUERDA AINDA FAZEM PARTE DA POLITICA?
Para
ilustrar melhor essa problemática sobre a política, Matos (2016), escreveu um
artigo que trata dos mitos sobre esquerda e direita e nele faz a defesa de que
tem várias ideias pré-concebidas e até mitos em relação ao significado e sobre
os conceitos que esses dois termos representam. Ele chama a atenção para a
necessidade de o leitor superar os paradigmas, caso contrário não vai compreender
de maneira profunda o que propõem as correntes políticas que estão em lados
opostos. Seria verdade que “Extremos à direita e à esquerda
de qualquer disputa política estão sempre errados.” – Como afirmou Dwight
Eisenhower (1890 – 1969), general e presidente dos Estados Unidos? Porém,
é preciso afirmar que, mesmo os populismos,
os propósitos e os projetos de grupos da esquerda e de direita não são os
mesmos, não defendem os mesmos interesses de classes e nem todos são extremados.
Dessa
forma quando se generaliza os políticos da esquerda ou da direita, como bons ou
ruins, e se critica os chamados populismos de esquerda e de direita, sem uma
maior investigação sobre esses fenômenos, não se contribui com a evolução da
consciência política das massas. Para ilustrar melhor essa análise, de acordo
com Rodrigues (2018), os líderes populistas da América Latina propagados, no
geral de forma pejorativa, pela mídia “empresarial e monopolista”, eram:
Chávez e Maduro na
Venezuela, Lula e Dilma no Brasil, Morales na Bolívia, Fernando Lugo no
Paraguai, Rafael Corrêa e Lenín Moreno no Equador, Ollanta Humala no Peru e o
casal Kirchner na Argentina foram algumas das experiências taxadas como
populistas pelo debate na imprensa, ou mesmo por parcelas da literatura especializada.
Se, de fato, esses governos mereceriam ser classificados como populistas é um
debate ainda em aberto nas ciências sociais, como demonstram algumas recentes
publicações sobre o tema (RODRIGUÊS, apud PERLATTO e CHAVES, 2016; MUDDE e
KALTWASSER, 2017).
Observa-se por essa pesquisa de Rodriguês, (2018) que
pelos nomes acima citados e pelas realizações e aprovação popular desses
líderes de esquerda, que acusar um governo de populista é fácil, difícil é analisá-lo
em profundidade, sem levar em conta o projeto, os interesses de classes, de
países e as realizações desses governantes. Segundo ainda Rodriguês, (2018) populismo
de esquerda traduz o que Laclau e Mouffe definiram como “democracia radical” e
o que Nancy Fraser articulou como “redistribuição e reconhecimento”. Isso, por
certo, tem uma profunda diferença do populismo de direita, mesmo que essas
lideranças e esses projetos sejam passíveis de correções e tenham cometido ou
cometam erros, que não podem ser ignorados por qualquer análise histórica, as
virtudes deles precisam ser conhecidas pelo cidadão ou liderança que quer sair
do senso comum e atingir o conhecimento filosófico ou científico na Ciência
Política. Sendo assim, esse debate continua aberto e generalizar os governantes e
os governos, ditos populistas de esquerda ou de direita não contribui com a
evolução do conhecimento político, para isso se requer quebra de preconceitos e
muita pesquisa.
11. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para a construção de um novo tempo, inspirado na
poesia de Carlos Drummond de Andrade, “no meio do caminho tem uma pedra”,
(1928), chamou-se a atenção dos
participantes do congresso para as “inúmeras pedras” ou obstáculos que a
educação e os docentes irão enfrentar nesse novo normal. Além da necessidade de
se repensar o orçamento da educação, as nossas práticas, educativas, o planejamento,
a metodologia de ensino e as formas de avaliar, ainda precisamos rever o Plano
Nacional de Educação (PNE) e o financiamento dela, que dependia da aprovação do
novo FUNDEB, mas felizmente, depois de muita pressão de parlamentares
progressistas nessa área e da sociedade, foi aprovado pela Câmara dos Deputados
e Pelo Senado Federal.
Nesse sentido, a construção de um novo tempo vai depender,
além de outros fatores, de um Estado que que garanta e amplie os atuais
investimentos e promova a educação pública e induza o nosso desenvolvimento, a
exemplo dos países que tem uma educação pública mais desenvolvida que a nossa,
em especial, os países nórdicos e asiáticos.
Não será um governo de extrema direita, com viés neoliberal, nem a priorização
da educação privada que vai ajudar os docentes a construir esse novo tempo na
educação, pelo contrário, um governo que aposta todas as suas fichas no mercado,
será o nosso maior obstáculo.
Além do mais não sairemos dessa situação defasada na
educação brasileira sem a construção de uma coalizão de forças no país que
aposte na democracia, na recuperação da economia, do emprego e na qualidade da
educação pública. Um bom exemplo foi a união de partidos com interesses diversos,
mas com uma pauta conjuntural comum, que conseguiu aprovar o novo FUNDEB na
Câmara de Deputados e posteriormente no Senado.
Outro exemplo histórico que ratifica a importância
dessa junção de forças heterogêneas foi quando derrotamos a ditadura militar de
1964. Naquela época se iniciou um novo
tempo, que de acordo com Lins (1984), “apesar dos perigos”, desde lá o país
vive o maior período democrático da nossa História e alcançou as maiores
conquistas sociais e econômicas também, governado por lideranças também chamadas
de “populistas de esquerda, como foram os casos de Lula e Dilma”.
Porém, infelizmente, os nossos problemas se
agravaram depois de 2016, com a formação de uma frente ampla conservadora que
resultou no “golpe de novo tipo” e as reformas neoliberais que retiraram muitos
direitos sociais, culminando com a eleição do último presidente Bolsonaro, de
extrema direita. Nos resta continuar apostando na letra da música de Lins
(idem), quando ele diz que apesar: “Da força mais bruta, da noite que assusta,
estamos na luta, pra sobreviver” e para construir o novo tempo no Brasil.
Mas, como construiremos esse novo tempo se ele
depende de coalizões amplas de forças e de grandes mobilizações de ruas, como
àquelas das Diretas já!? O problema é que estamos enfrentando um vírus que
atualmente ainda mata muitos brasileiros por dia. Precisamos ficar em
isolamento social que impede esses movimentos. Mas a junção de forças diversas
do Congresso Nacional com o Supremo Tribunal Federal e lideranças de várias
matizes ideológicas já imprimiu derrotas importantes as pautas conservadoras
estimuladas pelo presidente de extrema direita, enquadrando-os com base na
constituição e colocando o presidente na defensiva, em especial aqueles que
defendiam todo domingo nas praças a volta do “velho tempo”, a Ditadura Militar
e a volta do AI - 5.
Que o novo tempo seja uma construção
permanente cimentada em nossos exemplos, como diz a música de Lins, (idem) “Seja
sempre um caminho que se deixa de herança e pra que nossa esperança seja
mais que a vingança”. Que o novo tempo aposte nas crianças, Sementes do amanhã,
música de Gonzaguinha, (1984). Para a gente não ter medo, que esse “velho
tempo” vai passar. Assim Gonzaguinha (idem) aposta na luta,
quando diz diz na música:
Não se
desespere não, nem pare de sonhar, nunca se entregue, nasça sempre com as
manhãs, deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar. Nós podemos tudo, nós
podemos mais. Fé na vida, fé no homem, fé no que virá, vamos lá fazer o que
será. (GONZAGHINHA, 1984).
Sim,
professor, vamos também aprender com a música Sorri, (Smile), (1936) produzida
por Charles Chaplin para o filme Tempos Modernos, regravada aqui no Brasil
por Djavan no seu álbum Malásia (1996). Nesse momento de pandemia e agonia
da nossa democracia é preciso afirmar:
Sorri, Quando a dor te
torturar e a saudade atormentar os teus dias tristonhos, vazios. Sorri quando
tudo terminar, quando nada mais restar do teu sonho encantador. Sorri quando o
sol perder a luz e sentires uma cruz nos teus ombros, cansados, doloridos. Sorri
vai mentindo a tua dor e ao notar que tu sorris todo mundo irá supor que és
feliz”. (CHAPLIN 1936, apud,
DJAVAN, 1996).
Sim! Mesmo diante de todas as adversidades, os
professores devem sorrir, pois o sorriso é a demonstração que são felizes. Sim!
Felizes porque amam a profissão e por tabela amam a educação e os seus alunos.
Assim deve se sentir um bom educador. E depois da pandemia, como canta Lins
(1984): “depois de toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga, estamos em
cena, estamos nas ruas, quebrando as algemas, a gente se encontra cantando na praça, fazendo
pirraça”. Pois, Apesar “de todos os pecados, de todos enganos, estamos marcados
pra sobreviver” e ajudar a construir um novo tempo na educação e na sociedade,
pois uma coisa está intrinsicamente ligada a outra. Vamos à luta, galera!
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