sexta-feira, 30 de outubro de 2020

I CONGRESSO INTERNACIONAL UM NOVO TEMPO NA EDUCAÇÃO: PISTAS E DESAFIOS PARA OS DOCENTES E PARA A SOCIEDADE

 


 


 

1.    INTRODUÇÃO

 

O I Congresso Internacional Um Novo Tempo na Educação foi promovido pelo professor Renato Casagrande e parceiros, nos dias 15 e 16 de julho de 2020. Ocorreu de forma on-line, envolvendo 10 países e tendo a participação de mais 120 mil educadores. Diversos debatedores, de várias áreas da educação, apresentaram as suas contribuições sobre os desafios que os docentes estão enfrentando no período de pandemia do Novo Coronavírus (COVID-19). Questões sobre o ensino remoto e o enfrentamento dos problemas da educação no pós-pandemia, com um “novo normal”, foram largamente debatidas. O congresso abordou as seguintes temáticas:  

      Um novo tempo na educação;

      A implantação da BNCC com o impacto do Coronavírus;

      Perspectivas e desafios do ensino híbrido na educação básica;

      A avaliação da aprendizagem durante e após a paralisação das aulas;

      Formação de professores na era digital;

      A inteligência socioemocional na melhoria do ensino e aprendizagem.

As ricas contribuições dos palestrantes lançaram luzes para os desafios que professores, gestores, governos, pais e alunos terão que enfrentar após a reabertura das escolas. Foi chamado atenção para a necessidade de o professor construir um novo planejamento, com novas metodologias de ensino e novos critérios de avaliação. O “novo” docente deve estar aberto para abraçar a chegada do ensino híbrido, valorizar as múltiplas inteligências dos alunos e as diversas formas deles aprenderem.  Para isso é necessário o professor lutar pela valorização profissional, pelo  progressivo aumento do financiamento da educação, pela valorização do salário, pela implementação do PNE, da BNCC e pela formação permanente.

Apesar das lacunas desse artigo, apresentaremos as principais contribuições dos debates, assim como indicaremos uma série de desafios sobre o papel do Estado, do professor, da escola, dos pais e alunos, diante deste “novo normal” para a construção de um “novo tempo” inspirado na música de Ivan Lins, (1984).

       Apesar de tantas incertezas com a pandemia, uma certeza apresentou-se nesse Congresso, inspirada na música de Lulu Santos (1983), a frase que parece ser consenso para os educadores: “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. Neste contexto, atentamos para outras premissas: mudanças profundas na escola, na educação e em toda sociedade se farão necessárias para o enfrentamento dos complexos problemas políticos, econômicos e sociais que já são uma realidade, consequências do neoliberalismo, mas, pior ainda,  estes problemas se agravarão no pós-pandemia. Precisaremos manter a utopia acesa para a construção de um “novo tempo”, mas com os pés no chão, participação nas lutas sociais e de olho na correlação de forças de cada momento.

Um novo tempo não será um presente simplesmente da vontade subjetiva dos educadores, por mais importante que ela seja, nem muito menos da vontade só dos  governantes que temos. Vai além disso, será uma conquista real que deve envolver educadores, pais, alunos, várias correntes ideológicas, governantes comprometidos e amplas massas. Esse novo tempo vai precisar também de muita criatividade na educação, muitas ideias e muitas formas de lutas sociais. Por fim esse artigo vai procurar investigar e responder qual é a relação desse novo tempo com o desenvolvimento do senso crítico do aluno, com crescimento da consciência política geral do povo, com o aperfeiçoamento e evolução da nossa democracia e com o papel do Estado nacional.

 

2.    COMO SERÁ O “NOVO NORMAL” NAS ESCOLAS?

 

 

A palestrante, Dra. Ana Escobar (2020) – Médica - Consultora do Bem-Estar – Rede Globo, integrante do PAINEL: “Como voltar às aulas nas escolas: O que devemos e podemos fazer?”. Recomendou que isso deve ser feito com muito cuidado e segurança, destacando ainda a importância do papel da família e dos professores nesse processo, até o surgimento de uma vacina contra a covid-19. Entre as recomendações de Escobar (2020) destacamos:

·         Crianças acima de 02 (dois) anos deve usar máscaras, com tecido de duas camadas, que deve ser trocada pelo menos a cada 4 (quatro) horas;

·         Os ambientes escolares devem estar ventilados, pois as gotículas pesadas do Coronavírus caem, mas as gotículas mais leves ficam suspensas no ar por cerca de dois metros. Com a ventilação elas são espalhadas para distante das pessoas;

·         Todos devem lavar as mãos regularmente com água e sabão em casa e na escola;

·         Desinfetar o material escolar e não compartilhar com os colegas;

·         Manter o distanciamento de pelo menos 1 (um metro) de pessoa para pessoa;

·         Utilizar só 35% das salas de aulas e desinfetá-las a cada turno.

Além disso, a educadora chamou a atenção de todos da escola para o cuidado com os adolescentes e crianças com necessidades especiais.

 

3.    QUAIS AS MUDANÇAS QUE SERÃO NECESSÁRIAS NO CAMPO DA EDUCAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO TEMPO?

 

 

Conforme constatações deste I Congresso, a nova realidade que os professores estão vivendo com o ensino remoto pegou todo mundo de surpresa. De uma sexta-feira para uma segunda-feira, eles tiveram que abandonar a escola e iniciar uma nova experiência pedagógica, no entanto, os docentes, chamados de heróis nesse congresso por muitos palestrantes, estão dando conta do recado, cada um à sua maneira, de acordo com as suas debilidades,  potencialidades e realidades.

É importante ressaltar também que na volta às aulas, além do uso da máscara, distanciamento entre professores e alunos e dos cuidados com a higiene, os professores precisam refletir sobre “as formas de aprender dos alunos”, que são variadas e daqui para frente deve comportar um trabalho pedagógico diferente chamado de ensino híbrido. O papel do professor nesse processo deve ser o de “mediador, orientador e curador”, conceitos bastante abrangentes para um profissional, mas que exigem também uma nova formação continuada. Além disso, desafios como o novo planejamento, o currículo, a seleção de conteúdo, as metodologias de ensino e os critérios de avaliação deverão tomar uma nova forma, dado os inúmeros desafios que os docentes terão daqui para frente.

 

4.    A NECESSIDADE DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PERMANENTE

 

 

Na palestra: “A formação do professor para a BNCC e a educação na era digital,” foi apresentada por Guiomar Namo de Mello (2020), membro do CEE-SP. Ela destacou as 10 (dez) Competências Gerais da Base Nacional Comum Curricular que acompanham o desenvolvimento dos alunos desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.

Para Melo (idem), o Brasil ainda precisa avançar muito na formação dos professores e na implementação dos Planos Políticos Pedagógicos nas escolas para atingir as competências da BNCC. Ela também lembrou que existe a BNCFP, que trata da formação dos professores, mas questionou: como isso está ocorrendo na prática?  Sobre os critérios de avalição, Melo (2020), sugeriu que o professor precisa trabalhar outras competências nos alunos, como a socioemocional, pois essas competências são trabalhadas em outras profissões. Ela argumenta também que as pessoas aprendem de acordo com a prática, a partir do que elas conhecem, mas “a matemática que se ensina é diferente da matemática que se pratica”, disse ela.

Destaca-se na palestra dela outro desafio para o professor avaliar e, acrescenta-se que esse desafio não é pequeno. O professor precisa conhecer o contexto, a realidade de cada aluno, a situação econômica e social da família. Mas pergunta-se: como conhecer essa situação geral com salas de aulas superlotadas?

A palestrante fez questão de lembrar, quando se afirma que não devemos abandonar nenhum aluno, que também o professor não deve ser abandonado pelos governos, quando se trata da situação salarial e das condições de trabalho.

A palestrante Melo (2020), ainda disse que, além dos desafios da educação que virão com o ensino híbrido, um deles é otimizar o tempo: “precisamos de uma mistura de coisas, novos temas, novos conteúdos”. Nesse sentido sugere que é necessário aprender com as experiências educacionais de outros países, a exemplo dos países asiáticos que usam a formação coletiva, metodologias ativas, projetos para enfrentar e resolver problemas etc.

Ela também destacou que a formação de professores precisa ser permanente para que eles “não cuspam o conteúdo em sala de aula”, “isso é ruim”. Ainda afirmou que é preciso tornar o ensino mais atrativo e desenvolver o senso crítico do aluno.         Ainda sobre a formação, Contin (2019), citando Melo, destaca que “A formação de professores não é um problema novo, mas está despertando uma atenção cada vez maior porque a elaboração da BNCC trouxe junto o seguinte problema: “se o professor não for formado, a base vai morrer na praia.” Nessa linha de raciocínio percebemos que se exigem mudanças. Melo (2020), concluiu dizendo que “o novo tempo vai precisar de novos pensamentos e de novas ideias”.

 

5.    O PROFESSOR DEVE TRABALHAR AS 10 COMPETÊNCIAS GERAIS DA BNCC COM OS ALUNOS PARA A CONSTRUÇÃO DO NOVO TEMPO

 

 

Na intervenção de Melo (2020), discorrendo sobre “A formação do professor na era digital” e destacando a importância das 10 competências das aprendizagens essenciais definidas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), dá-se importante contribuição para a construção desse novo tempo na educação no Brasil. Para reforçar e complementar a importância dessas competências, a revista Cel.Lep, (2018). no artigo “Entenda as 10 competências gerais da BNCC”, defende a tese de que essas competências, além de serem direitos dos discentes na educação básica, são muito importantes para o desenvolvimento na aquisição de conhecimentos. Segundo a publicação, além dos conceitos, procedimentos, habilidades, práticas cognitivas e socioemocionais, as competências devem também contribuir para que os discentes tenham atitudes e defendam valores indispensáveis ao exercício da cidadania nas três etapas do ensino: infantil, fundamental e médio.

Os comentários críticos de Penido (2018), nesse artigo, pontuam que os dois eixos estruturantes do ensino infantil, Interações e Brincadeiras, são base para garantir seis direitos de aprendizagens e desenvolvimento, a saber: “Conviver, Brincar, Participar, Explorar, Expressar e Conhecer-se”. Aqui já percebe-se a dimensão dessa tarefa docente para o aprendizado e desenvolvimento do aluno, que deve garantir a eles o desenvolvimento do: “Eu, o Outro e o Nós; Corpo, Gestos e Movimentos; Traços, Sons, Cores e Formas; Escuta, Fala Pensamento e Imaginação; e Espaços, Tempos, Quantidades, Relações e Transformações”.

Essa dimensão complexa da aprendizagem do aluno, tendo o professor como principal protagonista dessa tarefa, deve trabalhar as 10 Competências da BNCC, inicialmente, para que o aluno adquira um conhecimento que promova a valorização e a utilização histórica sobre o mundo cultural, social, físico e digital. Esta última aprendizagem, que deve ser adquirida pelo aluno, requer um professor que também esteja incluído no mundo digital, pois a pandemia de 2019 e 2020, mostrou as dificuldades e precariedades ainda existentes na escola e na sociedade nesse item. Portanto, reclama-se uma nova formação docente e novos investimentos estatais. Além do mais, essa competência precisa produzir um aluno que compreenda e explique a realidade na qual está inserido e prossiga aprendendo para poder contribuir com a edificação de uma sociedade que promova a justiça social e valorize a democracia com inclusão social.

O “novo aluno” precisa ter pensamento científico, crítico e criativo, treinar a curiosidade intelectual, recorrer a questionamentos próprios das ciências, ser capaz de seguir investigando, refletindo e analisando criticamente, por intermédio de uma imaginação criativa, pesquisando causas, levantando e confirmando hipóteses, formulando e solucionando problemas, incluindo os tecnológicos.

Além disso, outras duas competências importantes para o aluno, dizem respeito ao Repertório Cultural e a Comunicação. Nesse sentido, o aluno precisa produzir, dar valor, gozar, utilizar e divulgar a arte, as culturas locais e mundial. Os alunos ainda devem desenvolver competências relacionadas a comunicação por intermédio de diferentes linguagens: verbal (oral e escrita), visual-motora, de libras, corporal, do som e digital. E, ainda deve utilizar linguagens relacionadas as Artes, a Matemática e a Ciência, produzindo sentidos que conduzam a entendimento mútuo.

Diante desse grande e complexo desafio que as 10 competências apresenta para os  discentes e, ainda, do processo evolutivo em um mundo cada vez mais tecnológico, o aluno deve também ter a competência de compreender a Cultura Digital, fazer uso dela, criando tecnologias da informação, comunicando-se de forma crítica, relevante, prudente e ética nos mais diversos fazeres sociais, inclusive no espaço do educandário, onde deve transmitir, obter, divulgar informações, criar conhecimentos, resolver enigmas, desempenhar e ser o figurante principal e autor da sua  vida individual e coletiva.  

O novo tempo vai precisar também de um aluno, conforme a sexta competência da BNCC, que valorize as culturas diversas, os saberes em ralação a profissão, as disciplinas, o currículo e experiências para entender “o mundo do trabalho”  e, quando fizer escolhas, fazê-las niveladas ao exercício da cidadania, ao seu projeto de vida, com livre arbítrio, com independência, consciência crítica e responsabilidade.   

Esse novo aluno deve ter também a competência de apresentar fatos e ideias lógicas, negociar e fazer a defesa das ideias, pontos de vistas e decisões comuns. Essas decisões devem respeitar “os direitos humanos, a consciência socioambiental, o consumo responsável”, tanto no local que vive, na região e no mundo, com caráter, posicionamento ético, no que diz respeito aos cuidados com os outros e com o planeta.   

O novo aluno deve também aprender a conhecer a si próprio, apreciar e cuidar da sua própria saúde física e emocional, compreender a diversidade humana, reconhecer suas emoções e as emoções dos outros, “fazer autocrítica e ser capaz de lidar com elas”.

Por fim as duas últimas competências orientam que o docente deve procurar desenvolver no aluno a Empatia e a Cooperação, a Responsabilidade e a Cidadania. Na primeira, o discente deve praticar a empatia: compreender emocionalmente o outro, dialogar com o próximo, cooperar, respeitar e promover o respeito ao outro e aos direitos humanos.  E ainda, ele deve aceitar e receber o outro, dar valor as diversidades individuais e grupais, aos saberes, as identidades, as culturas e as potencialidades do outro na sociedade, livre de qualquer preconceito.

 A segunda e última competência, deve ser desenvolvida proporcionando ao aluno habilidades que promovam o “agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação”. O indivíduo, além de precisar adquirir a capacidade de lidar com as adversidades, ainda deve agir de forma sustentável em relação ao meio ambiente, ser solidário e democrático com o outro. 

Percebe-se, com base neste pequeno relato das 10 Competências gerais da BNCC, que não será uma tarefa fácil para os professores trabalharem todas no dia a dia em sala de aula, haja vista, que só podemos desenvolver no outro aquilo que desenvolvemos em nós. Estamos prontos para todas elas? Isso quer dizer que elas precisam ser trabalhadas em todas as formações dos professores, pois além de complexas, precisam ser assimiladas, vivenciadas e praticadas por cada educador e por cada aluno para a construção de um novo tempo na educação. Estes eixos estruturantes da educação demandam também que aos alunos, devem ser assegurados ainda seis Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento. São eles: “Conviver, Brincar, Participar, Explorar, Expressar e Conhecer-se”.

Mas é necessário que todo esse processo de construção de um novo tempo ocorra em um ambiente democrático, pois além de alunos e professores precisarem de liberdade em sala de aula para exercerem o contraditório, ao vivenciarem essas competências,  precisarão também da democracia em todo país, já que a escola não é um ambiente isolado do todo.

Fontes: Texto da terceira versão da BNCC Infantil e Fundamental, MEC, Porvir e Anna Penido, diretora do Instituto Inspirare e integrante do Movimento Pela Base (leitura crítica).

 

6.    O GRANDE DESAFIO DOCENTE DA AVALIAÇÃO

 

 

Maria Inês Fini (2020), Ex-Presidente do INEP, proferiu a palestra: “Currículo e avaliação em tempo de BNCC e pandemia”. Ela iniciou discorrendo sobre a avaliação recomendando aos professores que é preciso questionar: estamos medindo o quê? Avaliando para quê? Como avaliamos? Segundo ela o professor avalia a partir de uma proposta curricular. E questiona:  quais são as práticas que fazem nossos alunos aprenderem? Mesmo destacando os avanços históricos sobre a avaliação no Brasil, desde o Ministro Paulo Renato, chegando a BNCC e a Reforma do Ensino Médio, ela disse ainda que há uma diferença entre memorização e conhecimento. Em suas palavras “precisamos ter cuidado com o lado perverso da avaliação”. E esclarece: não se trata de aprovar todo mundo, mas “é preciso valorizar as criatividades dos alunos no ensino remoto”. Para ela “o erro ensina mais do que o acerto”; “E pede: por favor não usem a avaliação como forma de controle”.  E concluiu dizendo que: “o aluno agora precisa da homologia de processos”. Que, segundo o Centro de Referências em Educação Integral, 2019 é:

 

Homologia de processos. Também conhecida como isomorfismo, que em suma propõe aproximar os discursos e valores da educação ou de uma rede ou escola das ações e metodologias desenvolvidas em seus processos formativos, também alinhados com o currículo. (Educação Integral.org.br, 2019).

 

O painel: “Currículo e avaliação em tempo de BNCC e pandemia.” Ficou a critério dos professores: José Francisco Soares – Ex-Presidente INEP; Ghisleine Trigo Silveira – Coordenadora Geral da BNCC no Brasil; Marcelo Ferreira da Costa – Presidente UNDIME-GO e Vice-Presidente UNDIME Nacional. A Moderadora foi: Roberta Bento – Fundadora do SOS Educação e do site de educação do Portal do Estadão.

Soares (2020), disse na sua palestra que “a BNCC é a garantia de direitos. Mas sugeriu aos professores fazerem os seguintes questionamentos: “eu estou na escola para quê?” Estamos ressignificando os conteúdos? O que devo ensinar? Como devo ensinar? Como devo avaliar? Nessa linha de raciocínio ele destaca que o conhecimento, as habilidades, os valores e o caráter, ensinados nas escolas devem servir para a sociedade.

Ele abordou também a importância da forma como são trabalhados os conteúdos e chamou a atenção para as competências. Para ele os alunos devem ser mobilizados para resolverem problemas. E pontua: a avaliação que o professor está fazendo é da ou para a aprendizagem? E explicou: a primeira é padronizada, somativa; a segunda é formativa, para resolução de problemas. E disse, se dirigindo aos professores, “precisamos aprender a aprender”. E concluiu sugerindo que não está na hora de prova de múltipla escolha e que seria importante pedir aos alunos para eles contarem para os outros o que aprenderam nesse período remoto.      

Costa (2020), fez uma relação histórica sobre esse período da covid-19 com a gripe espanhola e disse que hoje, assim como naquela época, existem aqueles que negam a Ciência.

Mas sobre avaliação ele pediu que os docentes não usassem a avaliação para “acertos de contas”, pois a educação deve servir para formação da cidadania e que “escola atrativa não é só conteúdos”. E sugeriu ainda que a avaliação deve levar em conta todo o processo.

Rodrigues (2020), discorrendo sobre a diversidade nas escolas sugere que as avaliações externas devem levar em conta as realidades diferentes de cada região do país, pois, para ela, “o Brasil não é só o Sudeste”. Explicou em seguida o que é preconceito linguístico e propôs que devemos ouvir os estudantes e considerar as suas vivências nesse processo. Ela defendeu também que “nós educadores devemos querer uma sociedade com equidade e que respeite a diversidade”.

A palestra: “A inteligência socioemocional no mundo em transformação.” Ficou a critério do Dr. Augusto Cury – Psiquiatra e Escritor. Na sua fala ele disse que “educar é muito mais do que transmitir conhecimentos. Para ele, “a escola deve trabalhar a “inteligência sócio emocional”, procurar desenvolver a empatia, ou seja, a pessoa deve aprender a se colocar no lugar do outro. Os pais devem dialogar com os seus filhos, perguntar a eles onde erraram. E finalizou dizendo que a escola deve ensinar a matemática da emoção, pois “dividir é fazer o bem”.

 

7.    QUAL DEVE SER O PAPEL DO PROFESSOR NA CONSTRUÇÃO DE UM NOVO TEMPO?

 

 

Godoy (2020), refletindo sobre o papel do professor perguntou qual é a nossa missão aqui na terra? Qual é o nosso propósito? O que eu, professor, estou fazendo aqui? O que posso fazer para aprender mais? E sugere aos docentes no ato de ensinar e avaliar: “olhem para a alma do aluno”. Sempre é possível o docente ir além, mesmos com tantas dificuldades. Nunca desistam! Concluiu ela.

Eduardo (2020), fez o uso da palavra AMOR e foi a raiz dela. Do latim, A significa ausência; mor significa morte. Ou seja: Ausência da morte. O educador é fonte de amor e é preciso continuar sonhando.  Para ele ensinar no EJA é resgatar vidas. E finalizou tirando conclusões sobre esse momento remoto e sobre a educação. “O professor é único, especial, essencial, insubstituível e deve continuar fazendo a diferença”.

Costin (2020), disse na sua intervenção que o novo tempo vai precisar “assegurar uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade”. Ela levantou alguns questionamentos: educação para quem? O que é qualidade na educação? E defendeu que qualidade não se trata só de uma escola bem estruturada, com piscinas etc. E continuou questionando: de onde partimos? E na sequência, utilizando os números do PISA, apresentou diversos números que mostraram a nossa situação educacional ainda está muito atrasada em relação a outros países do mundo. E mesmo pontuando nossos enormes desafios, nas esferas do ensino Básico e do Superior, reconheceu que avançamos na educação no Brasil. Mas criticou o MEC pela ausência nesse período e torceu para que o MEC, com novo ministro,  atue.

Ampliando a discussão para a esfera econômica e política ela criticou o populismo tanto de direita como de esquerda, provocando a gente para questionar: mas qual é a essência do populismo de esquerda? Quais as diferenças entre o populismo de direita e o de esquerda? Quais são as alternativas aos populismos?

Na sequência, Costin (idem) abordou os enormes desafios para os professores e para a sociedade, nesse novo tempo, pois, segundo ela, somos o segundo país mais desigual em educação nos números do Pisa. Ela disse ainda que “os nossos alunos ricos, perdem para alunos pobres de outros países” e só 2,7% dos nossos alunos, querem ser professores.  Ela defendeu que agora, com a 4ª Revolução Industrial, os professores precisam preparar os jovens para competências mais sofisticadas.

Falando sobre os desafios do ensino remoto e, futuramente hibrido, Costin citou a experiência do Maranhão, onde se utiliza o rádio como aliado do governo nesse período, cita também a importância de ter impressos nas escolas para os alunos que não tem internet, elogia os professores que se reinventaram nesse período e defende uma formação emergencial dos professores para o retorno de forma física às escolas.

Ela disse ainda que agora é preciso “pensar fora da caixa” e pontuou: “infelizmente é nas crises que a gente aprende por que temos que sair da zona de conforto”. E assegurou: “as crises são momentos de quebras de paradigmas”. E propôs que fosse feito um projeto interdisciplinar com o tema da covid-19 nas escolas, defendeu também que o governo deveria proporcionar a inclusão digital aos alunos, se referindo ao Estado do Maranhão, que está oferecendo chip para os alunos dos 3º anos do Ensino Médio. E concluiu dizendo: a escola deve trabalhar com metodologias ativas, com resolução colaborativa de problemas, tornar os alunos protagonistas, ensiná-los a pensar para que eles sejam autores da sua própria vida.  

 

8.    PARA CELSO ANTUNES “O PROFESSOR DEVE VESTIR A CAMISA”

 

 

O Professor Celso Antunes (2020), entre outras questões, discorreu sobre “Como ficará a escola após o vendaval da pandemia”. Ele disse que, além de ter orgulho de ser chamado de professor, pois, esse vocábulo vale muito mais do que os títulos que tem, apresentou algumas características que deve ter a escola do novo tempo, bem como o tipo professor que essa nova escola precisa.

Para ele o professor deve vestir a CAMISA, como faz o torcedor de um time de futebol, pois este chora e fica alegre, dependendo do jogo, mas nunca desanima e deixa de torcer pelo seu time. Para ele a escola deve ter o mesmo apoio do professor como se fosse um torcedor de um time, mas sobretudo, como sujeito de mudança. E propôs: “na volta às aulas todos devem vestir a camisa da educação e da escola”.   Mas o que significa mesmo esta CAMISA proposta por Antunes (2020)?

Ele mesmo explica: a letra C significa criatividade e a letra A atenção. Assim ele defendeu que é preciso “apostar” na criatividade do aluno, pois a criatividade não se cria, se estimula, mas como, depois de estimulá-la, melhorá-la?  Ele sugeriu: é preciso treinar mecanismos para chamar a atenção dos alunos com questionamentos, trabalhos em grupos, projetos etc.

A letra M significa mérito. Para isso ele propõe “parar uma aula por semana para estimular valores” como a bondade, o respeito, a justiça, a solidariedade e a amizade.   A letra I tem o significado de inteligência. Mas há muitas inteligências, como a linguística, a espacial, a musical, a corporal, a lógico matemática, a intrapessoal e interpessoal. E aproveitando para dar um exemplo de inteligência linguística ele contou que certa vez encontrou em uma dessas feiras do interior do Nordeste um poeta cego que pedia o mote para fazer um repente na hora. Aí Antunes pensou um mote difícil de rimar e deu para o poeta a palavra mãe. O poeta respondeu mais ou menos assim, pois não consegui anotar os dois primeiros versos citados por Antunes:

 

Estou pedindo na feira

porque sou cego de guia,

mas quando mãe era viva

eu era um cego que via.

 

Com esses versos ele quis chamar a atenção dos docentes para a importância do professor trabalhar as várias inteligências do aluno. Por certo, trabalhando assim, o docente terá um novo olhar para o discente.

Na sequência, para a letra S, Antunes, (idem) propõe para o professor trabalhar também os cinco sentidos do aluno.  E segundo o google, (2020) aqui vai uma definição deles:  O corpo humano é composto de cinco sentidos: a visão, o olfato, o paladar, a audição e o tato. Eles fazem parte do sistema sensorial, responsável por enviar as informações obtidas para o sistema nervoso central que, por sua vez, analisa e processa a informação recebida.

E por fim, o A significa auto avaliação, que vale tanto para o professor como para os alunos. Nessa letra ele propôs o seguinte:  por que não permitir aos alunos a auto avaliação? E explicou: “não se trata de abandonar as outras formas de  avaliar, mas países que têm uma educação de qualidade, como: Finlândia, Noruega e Dinamarca a fazem. E questionou: “estamos presos demais aos conteúdos e onde chegamos? Aqui ele se refere a situação da educação geral no país em relação a muitos outros.

Por fim Antunes assegurou que educação não é só conteúdos, ela precisa fazer o aluno pensar sobre a sua realidade, sobre a teoria e a prática. E concluiu: precisamos vestir a “camisa”, basta querer.

 

9.    A SITUAÇÃO INTERNACIONAL NESSE PERÍODO REMOTO: FINLÂNDIA, PORTUGAL E ESTADOS UNIDOS

 

 

9.1.        FINLÂNDIA

 

Uma das riquezas desse I Congresso de Educação no Brasil foi ir além das nossas fronteiras para ampliar os nossos conceitos sobre os desafios do antes e do pós-pandemia, comparando a nossa realidade com outras realidades de outros países. A palestrante Evelyse Eerola (2020), interveio sobre a situação da Finlândia nessa pandemia. Inicialmente ela explicou que “a educação é a espinha dorsal da Filândia”, dando conta da atenção que o governo de lá tem com esse fenômeno social. Discorrendo sobre o ensino remoto ela afirmou que naquele país o ensino público é melhor do que  o ensino privado, nas escolas tem internet, o material didático é coletivo, a escola é integral e autônoma, todos os professores e alunos tem laptop, mas eles são disponibilizados só nas escolas. Nesse caso ela disse que foi um problema nessa pandemia, já que não se tinha esse material em casa. Disse ainda que os alunos, desde a pré-escola tem um tablete, as salas de aulas são super tecnológicas, embora alguns professores ainda não largaram o giz.

Eerola (2020), disse também que apesar do governo na Finlândia dar total apoio à educação pública, ela disse que esse ensino remoto no período da pandemia se tornou  um problema novo, por isso, no início foi muito estresse, mas lá cada escola tem uma psicóloga,  que ajudou muito nesse momento. Depois de ouvir os alunos e os pais, ela disse que em três semanas estava tudo organizado na Finlândia. “Não queríamos voltar ao ensino presencial, mas o governo acabou convencendo os professores da questão legal, o povo respeita muito as leis na Finlândia”. Voltamos sob protesto e a carga horária de lá foi cumprida, afirmou ela.

Por fim, ela disse que a direita na Finlândia era contra os avanços na educação pública, mas só se acalmou depois dos resultados do PISA.  Por isso cabe aqui uma pergunta: a direita de outros países é diferente da direita da Finlândia  quando se trata de educação pública? Até quando vai essa calma da direita finlandesa?

 

9.2.        ESTADOS UNIDOS

 

A representante dos Estados Unidos, Sara Hughes, (2020) entre outras questões, afirmou que aquele país tem uma realidade diferente em cada estado, a presença nas escolas foi difícil nesse período remoto, além do problema das desigualdades sociais que aumentaram muito nos Estados Unidos, mesmo assim se conseguiu no final realizar as formaturas on-line.

Hughes, (2020) disse ainda que apesar de terem conseguido realizar as formaturas, muitos Estados americanos ainda não voltaram ao normal por causa da pandemia. Ela afirmou ainda que muita coisa nos Estados Unidos tem semelhanças com o Brasil, como as desigualdades sociais, as mudanças econômicas, perda de empregos, falta da internet em bairros pobres etc. Além disso ela citou o problema da merenda escolar, que, apesar de ter na escola, alguns alunos trazem de casa.

Por fim, Hughes (2020), afirmou que agora, com o ensino remoto e depois com ensino híbrido, nós da educação precisamos criar hábitos novos. Por isso é preciso questionar: o que é aprender? Como aprender? É preciso arriscar, correr atrás, se referindo aos educadores. O tutor precisa proporcionar isso aos alunos, “ele precisa recriar e apostar na mudança”, concluiu ela.

 

9.3.        PORTUGAL

 

A Professora Ariana Cosme, (2020) representando Portugal, entre outras questões, na sua contribuição a esse congresso disse que o país parou nessa pandemia e só funcionou os serviços de emergência. E sugeriu que “a grande missão do professor é manter a curiosidade de aprender do aluno”.  Disse que, apesar de um tronco comum na orientação educacional, ela ganha formas próprias em cada região. E garante: “não há receita única para realidades diferentes”.

Em Portugal, Cosme (2020), cita como parcerias importantes  no momento da pandemia, as atividades dos alunos que foram levados por padeiros em sacos plásticos e entregues nas casas. Lá também, como aqui e nos Estados Unidos, há desigualdade social, muitas famílias não têm internet e afirmou: “a escola não está parada nesse momento, funciona on-line, só não temos a presença física”. Talvez, com a questão do padeiro, ela tenha chamado a atenção para a seguinte questão: quem mais poderia ter sido nosso parceiro no momento do ensino remoto em cada município?

E por fim ela sugeriu ao docente que é preciso apostar na autonomia do aluno: a singularidade, a criatividade e a originalidade são ferramentas muito importantes no século XXI, pois a escola não é um museu”.

 

10. OS DESAFIOS PARA UM  NOVO TEMPO NA EDUCAÇÃO E NA SOCIEDADE

 

        Diante do exposto, depois de tantas incertezas sobre o porvir, em especial depois do ensino remoto, uma certeza é consenso entre a maioria dos palestrantes desse congresso: precisamos de uma nova educação para cimentar o novo tempo. Para construção desse novo tempo temos um instrumento muito importante que é a internet que está servindo para o desenvolvimento e a qualificação da nossa educação, mas essa maravilha da tecnologia contemporânea criou também  um monstro chamado fake news, essa estragégira neofascista é usada de forma avassaladora, em especial,  pela extrema direita, que contamina nossos jovens e destrói a reputação de pessoas de bem em um prazo recorde. Palafraseando um comentarista da Rede Globo, Octavio Guedes, (2020),  afirmamos que as mentiras nas redes sociais “é como se a porta do inferno tivesse sido aberta e todos os demônios tivessem saído dos esgotos para contaminarem as pessoas com elas. Por isso e, muito mais, esse novo tempo não será uma tarefa pequena e não depende só da educação e de nossa vontade subjetiva, mas sim da superação de muitos entraves fincados historicamente em nossa sociedade capitalista, irracional, desumana e desigual. 

        Nesse sentido a música que inspirou esse congresso de Ivan Lins (1984), Novo Tempo, “apesar dos castigos”, necessita de uma breve retrospectiva histórica. Quais os castigos que sofríamos naquela época?  Por certo eram “castigos” de um vírus diferente, a Ditadura Militar que tinha sido implantada mediante um golpe militar com apoio civil que acabou prejudicando gerações de brasileiros, pois perseguiu, assassinou, torturou e exilou em torno de 30 mil pessoas. O desenvolvimento da consciência crítica e libertária de toda uma geração foi truncado.  O novo tempo, naquela época,  se transformou em realidade depois da união de amplas forças que tinham promovido manifestações com milhões de pessoas nas ruas e culminou com a eleição indireta de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em seguida produziu a melhor constituição da nossa História, a de 1988, que garantiu, em seguida, as eleições diretas para presidente da República. 
De acordo com Silva, (2020) entre as consequências de 21 anos da Ditadura Militar no Brasil, estão:

 

434 mortos por conta do autoritarismo do regime, além de mais de 8 mil indígenas mortos pela política de ocupação da Amazônia; 20 mil torturados; Quase cinco mil pessoas com direitos políticos cassados; Aumento da corrupção, pois não havia liberdade para investigar os crimes dos militares; Redução nos direitos dos trabalhadores; Aumento da desigualdade social; Aumento do endividamento do Brasil; Inflação alta e crise econômica etc.  (SILVA, 2020, p. 2).

 

Hoje, além da covid-19, quais são os outros desafios e “castigos”, como diz a música, que estamos sofrendo?  Qual tem sido a postura do presidente da República, Jair Bolsonaro, de extrema direita em relação a pandemia? Primeiro subestimou e minimisou os efeitos da covid-19. Segundo não enfrentou o problema com uma estratégia nacional de planejamento que deveria ter sido feita com governadores e prefeitos. Terceiro disseminou o negacionismo, desrespeitou as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde), apoiou manifestações contra o isolamento social e contra a democracia; e, até esse período no qual estamos escrevendo este artigo, liberou pouco mais da metade do dinheiro para combater o Coronavírus etc.

Questionando sobre a Música de Lins (idem), será mesmo que “Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos para nos socorrer? Nos socorrer de quê? De uma pandemia que já causou a morte de mais de 160 mil pessoas. Quantas mais ainda irão morrer? Asseguramos, sem medo de errar, que a nossa única chance de vencer a covid-19 é por intermédio da Ciência, com a descoberta de uma ou mais vacinas. E, por fim,  acreditamos que estamos mais vivos, informados e politizados para nos socorrer de um presidente de extrema direita, com viés autoritário, que trabalhou até agora, contra a democracia, contra a Ciência, contra a saúde, contra a vida e contra a educação. O novo tempo vencerá o velho tempo que tentam impor no país! 

 

10. 1. QUAL É A RELAÇÃO DA CONSTRUÇÃO DE UM NOVO TEMPO COM A POLÍTICA? 

 

O I Congresso um novo tempo na educação nos instigou a ampliar a nossa análise para a relação da política com a construção de um novo tempo. Como nos ensina uma das leis da dialética a escola não é uma ilha e o fenômeno da educação está relacionado com os outros fenômenos da sociedade, ou seja, a parte está ligada ao todo.  Pensando assim, será necessário refletir nesse artigo sobre duas afirmações desse congresso: uma de Costin (2020), quando ela discorreu sobre os números da nossa realidade educacional no país e ampliou a sua análise para o campo da política tecendo considerações sobre o fenômeno dos populismos. Para ela “populismos de esquerda ou de direita é sempre ruim”. A outra frase é do organizador do congresso Renato Casagrande, quando afirmou, emocionado, próximo ao final do evento, que os professores nunca digam que não gostam de política, pois vamos precisar dos políticos e, eles serão muito importantes no ensino híbrido. Renato tem razão quando chama a atenção dos professores para a importância da política e dos políticos. Por isso o ideal na política não seria os professores e todos os trabalhadores identificarem o viés ideológico, o projeto de cada partido e de cada candidato nas eleições? O problema é que, pela falta de formação política, muitas pessoas e, também muitos professores, votam nas pessoas e não nos partidos e nem nos projetos em disputas, isso concorre para o atraso educacional e geral do país. O ideal  seria a nossa escola cumprir a sua função social ensinando a História de cada município e, nela, a história de cada partido, de cada candidato em cada eleição e de cada projeto defendido por eles. A escola precisa ser aberta para todos os políticos e para a política de forma geral. Por isso defendemos que a Ciência Política deveria ser ensinada nas escolas desde o ensino fundamental. Isso não é cidadania? Como o docente vai sensibilizar o discente para o desenvolvimento do senso crítico para que ele transforme a realidade na qual está inserido sem conhecer sobre economia e sobre política? Como ensinar aos outros o que não conhecemos nem sabemos, pois não temos em nossas formações a Ciência Política? Quanta falta nos faz nas formações de professores o estudo da Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire e da Pedagogia Crítica dos Conteúdos de Demerval Saviani! Pelo menos essas duas pedagogias deviam ser ensinadas e discutidas em todas as formações dos docentes de todas as áreas. 

Nesse sentido cabe perguntar ao leitor desse artigo: a quem interessa o analfabetismo político das massas? A resposta é óbvia: é claro que é a classe que detém os meios de produção por meio da exploração do trabalho, a grande burguesia financeira. O ideal seria as pessoas acreditarem mais em projetos do que em salvadores da pátria ou líderes carismáticos que promovem o culto à personalidade e afrontam à democracia, pois a democracia deve ser sempre aperfeiçoada, deve estar sempre em construção, nunca deve ser negligenciada, negociada ou naturalizada.

Por isso as questões políticas que envolvem a esquerda, a direita, os extremos, o centro esquerda, o centro direita, as novas formações econômicas, além de muito complexas, na essência, tem relação direta com o tipo de educação que temos  nessa sociedade dividida em classes sociais com interesses antagônicos, precisam ser conhecidas e estudadas nas escolas para a formação da cidadania e o aperfeiçoamento da democracia. Esse é melhor antídoto contra o negacionismo e o avanço autoritário da extrema direita e para a construção de um novo tempo na educação.

10.3. DIREITA E ESQUERDA AINDA FAZEM PARTE DA POLITICA?

 

Para ilustrar melhor essa problemática sobre a política, Matos (2016), escreveu um artigo que trata dos mitos sobre esquerda e direita e nele faz a defesa de que tem várias ideias pré-concebidas e até mitos em relação ao significado e sobre os conceitos que esses dois termos representam. Ele chama a atenção para a necessidade de o leitor superar os paradigmas, caso contrário não vai compreender de maneira profunda o que propõem as correntes políticas que estão em lados opostos. Seria verdade que Extremos à direita e à esquerda de qualquer disputa política estão sempre errados.” – Como afirmou Dwight Eisenhower (1890 – 1969), general e presidente dos Estados Unidos? Porém, é preciso afirmar que,  mesmo os populismos, os propósitos e os projetos de grupos da esquerda e de direita não são os mesmos, não defendem os mesmos interesses de classes e nem todos são extremados.    

Dessa forma quando se generaliza os políticos da esquerda ou da direita, como bons ou ruins, e se critica os chamados populismos de esquerda e de direita, sem uma maior investigação sobre esses fenômenos, não se contribui com a evolução da consciência política das massas. Para ilustrar melhor essa análise, de acordo com Rodrigues (2018), os líderes populistas da América Latina propagados, no geral de forma pejorativa, pela mídia “empresarial e monopolista”, eram:

 

Chávez e Maduro na Venezuela, Lula e Dilma no Brasil, Morales na Bolívia, Fernando Lugo no Paraguai, Rafael Corrêa e Lenín Moreno no Equador, Ollanta Humala no Peru e o casal Kirchner na Argentina foram algumas das experiências taxadas como populistas pelo debate na imprensa, ou mesmo por parcelas da literatura especializada. Se, de fato, esses governos mereceriam ser classificados como populistas é um debate ainda em aberto nas ciências sociais, como demonstram algumas recentes publicações sobre o tema (RODRIGUÊS, apud PERLATTO e CHAVES, 2016; MUDDE e KALTWASSER, 2017).

 

Observa-se por essa pesquisa de Rodriguês, (2018) que pelos nomes acima citados e pelas realizações e aprovação popular desses líderes de esquerda, que acusar um governo de populista é fácil, difícil é analisá-lo em profundidade, sem levar em conta o projeto, os interesses de classes, de países e as realizações desses governantes. Segundo ainda Rodriguês, (2018) populismo de esquerda traduz o que Laclau e Mouffe definiram como “democracia radical” e o que Nancy Fraser articulou como “redistribuição e reconhecimento”. Isso, por certo, tem uma profunda diferença do populismo de direita, mesmo que essas lideranças e esses projetos sejam passíveis de correções e tenham cometido ou cometam erros, que não podem ser ignorados por qualquer análise histórica, as virtudes deles precisam ser conhecidas pelo cidadão ou liderança que quer sair do senso comum e atingir o conhecimento filosófico ou científico na Ciência Política. Sendo assim, esse debate continua aberto e generalizar os governantes e os governos, ditos populistas de esquerda ou de direita não contribui com a evolução do conhecimento político, para isso se requer quebra de preconceitos e muita pesquisa.

 

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Para a construção de um novo tempo, inspirado na poesia de Carlos Drummond de Andrade, “no meio do caminho tem uma pedra”, (1928),  chamou-se a atenção dos participantes do congresso para as “inúmeras pedras” ou obstáculos que a educação e os docentes irão enfrentar nesse novo normal. Além da necessidade de se repensar o orçamento da educação, as nossas práticas, educativas, o planejamento, a metodologia de ensino e as formas de avaliar, ainda precisamos rever o Plano Nacional de Educação (PNE) e o financiamento dela, que dependia da aprovação do novo FUNDEB, mas felizmente, depois de muita pressão de parlamentares progressistas nessa área e da sociedade, foi aprovado pela Câmara dos Deputados e Pelo Senado Federal.

Nesse sentido, a construção de um novo tempo vai depender, além de outros fatores, de um Estado que que garanta e amplie os atuais investimentos e promova a educação pública e induza o nosso desenvolvimento, a exemplo dos países que tem uma educação pública mais desenvolvida que a nossa, em especial, os países nórdicos e asiáticos.  Não será um governo de extrema direita, com viés neoliberal, nem a priorização da educação privada que vai ajudar os docentes a construir esse novo tempo na educação, pelo contrário, um governo que aposta todas as suas fichas no mercado, será o nosso maior obstáculo. 

Além do mais não sairemos dessa situação defasada na educação brasileira sem a construção de uma coalizão de forças no país que aposte na democracia, na recuperação da economia, do emprego e na qualidade da educação pública. Um bom exemplo foi a união de partidos com interesses diversos, mas com uma pauta conjuntural comum, que conseguiu aprovar o novo FUNDEB na Câmara de Deputados e posteriormente no Senado.

Outro exemplo histórico que ratifica a importância dessa junção de forças heterogêneas foi quando derrotamos a ditadura militar de 1964.  Naquela época se iniciou um novo tempo, que de acordo com Lins (1984), “apesar dos perigos”, desde lá o país vive o maior período democrático da nossa História e alcançou as maiores conquistas sociais e econômicas também, governado por lideranças também chamadas de “populistas de esquerda, como foram os casos de Lula e Dilma”.

Porém, infelizmente, os nossos problemas se agravaram depois de 2016, com a formação de uma frente ampla conservadora que resultou no “golpe de novo tipo” e as reformas neoliberais que retiraram muitos direitos sociais, culminando com a eleição do último presidente Bolsonaro, de extrema direita. Nos resta continuar apostando na letra da música de Lins (idem), quando ele diz que apesar: “Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta, pra sobreviver” e para construir o novo tempo no Brasil.

Mas, como construiremos esse novo tempo se ele depende de coalizões amplas de forças e de grandes mobilizações de ruas, como àquelas das Diretas já!? O problema é que estamos enfrentando um vírus que atualmente ainda mata muitos brasileiros por dia. Precisamos ficar em isolamento social que impede esses movimentos. Mas a junção de forças diversas do Congresso Nacional com o Supremo Tribunal Federal e lideranças de várias matizes ideológicas já imprimiu derrotas importantes as pautas conservadoras estimuladas pelo presidente de extrema direita, enquadrando-os com base na constituição e colocando o presidente na defensiva, em especial aqueles que defendiam todo domingo nas praças a volta do “velho tempo”, a Ditadura Militar e a volta do AI - 5.

        Que o novo tempo seja uma construção permanente cimentada em nossos exemplos, como diz a música de Lins, (idem) “Seja sempre um caminho que se deixa de herança e pra que nossa esperança seja mais que a vingança”. Que o novo tempo aposte nas crianças, Sementes do amanhã, música de Gonzaguinha, (1984). Para a gente não ter medo, que esse “velho tempo” vai passar. Assim Gonzaguinha (idem) aposta na luta, quando diz diz na música:

 Não se desespere não, nem pare de sonhar, nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs, deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar. Nós podemos tudo, nós podemos mais. Fé na vida, fé no homem, fé no que virá, vamos lá fazer o que será. (GONZAGHINHA, 1984).

 

Sim, professor, vamos também aprender com a música Sorri, (Smile), (1936) produzida por Charles Chaplin para o filme Tempos Modernos, regravada aqui no Brasil por Djavan no seu álbum Malásia (1996). Nesse momento de pandemia e agonia da nossa democracia é preciso afirmar:

 

Sorri, Quando a dor te torturar e a saudade atormentar os teus dias tristonhos, vazios. Sorri quando tudo terminar, quando nada mais restar do teu sonho encantador. Sorri quando o sol perder a luz e sentires uma cruz nos teus ombros, cansados, doloridos. Sorri vai mentindo a tua dor e ao notar que tu sorris todo mundo irá supor que és feliz”.  (CHAPLIN 1936, apud, DJAVAN, 1996).

 

Sim! Mesmo diante de todas as adversidades, os professores devem sorrir, pois o sorriso é a demonstração que são felizes. Sim! Felizes porque amam a profissão e por tabela amam a educação e os seus alunos. Assim deve se sentir um bom educador. E depois da pandemia, como canta Lins (1984): “depois de toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga, estamos em cena, estamos nas ruas, quebrando as algemas, a gente se encontra cantando na praça, fazendo pirraça”. Pois, Apesar “de todos os pecados, de todos enganos, estamos marcados pra sobreviver” e ajudar a construir um novo tempo na educação e na sociedade, pois uma coisa está intrinsicamente ligada a outra. Vamos à luta, galera!

 José Rodrigues (Dedé Rodrigues), Professor de História e Sociologia: Escola Arnaldo Alves Cavalcanti (Rede Estadual de Ensino), Tabira-PE. Pós-graduado em Programação do Ensino de História – UPE – Universidade de Pernambuco e mestrando em Ciência da Educação.

 

 

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