Tratado entre
economias da região Ásia-Pacífico deixa EUA de fora, abarca um terço da
economia mundial e mais de 2,2 bilhões de pessoas. Com ele, Pequim amplia ainda
mais sua influência.
Publicado 16/11/2020 20:42 | Editado 16/11/2020 21:02
Uma cerimônia
on-line, que teve Hanói como "sede", selou a maior parceria comercial
do mundo
Foi oficializada
neste domingo (15), em conferência virtual, a criação do maior tratado
comercial do mundo, que envolve a China e outros 14 países da região
Ásia-Pacífico, deixa de fora os Estados Unidos e abarca uma área onde vivem
mais de 2,2 bilhões de pessoas.
O tratado RCEP
(Parceria Regional Econômica Abrangente) abrangerá um terço da atividade
comercial do planeta, e seus signatários esperam que sua criação ajude os
países a sair mais rápido da turbulência imposta pela pandemia de coronavírus.
“Tenho o prazer de
dizer que, após oito anos de trabalho duro, a partir de hoje, concluímos
oficialmente as negociações da RCEP para a assinatura“, afirmou o
primeiro-ministro do Vietnã, Nguyen Xuan Phuc, “país-anfitrião” da
cúpula online.
Segundo o premiê, a
conclusão das negociações da RCEP envia uma mensagem forte ao mundo, ao “reafirmar
o papel de liderança da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) em
defesa do multilateralismo.”
“O acordo apoia
o sistema comercial multilateral, criando uma nova estrutura comercial na
região, permitindo a facilitação do comércio sustentável, revitalizando as
cadeias de abastecimento interrompidas pela covid-19 e ajudando na recuperação
pós-pandêmica“, completou Phuc.
Além dos dez
membros da Asean, o tratado inclui China, Japão, Coreia do Sul, Austrália e
Nova Zelândia. As autoridades dizem que o acordo deixa a porta aberta para que
a Índia, que desistiu devido a uma oposição interna feroz à abertura de
mercado, volte a aderir ao bloco.
Menos integração
que a UE
O acordo prevê
reduzir as já baixas tarifas ao comércio entre os países-membros, mas é menos
abrangente do que o Tratado Transpacífico, que envolvia 11 países e do qual o
presidente americano, Donald Trump, se retirou logo após tomar posse.
Não se espera que o
tratado selado neste domingo vá tão longe quanto a União Europeia na integração
das economias nacionais, mas sim que se baseie nos acordos de livre-comércio já
existentes para facilitar as trocas entre os países.
O acordo tem fortes
ramificações simbólicas, ao mostrar que, quase quatro anos após Trump ter
lançado sua política “America First“, de forjar acordos comerciais com
países de forma individual, a Ásia continua comprometida com o
multilateralismo.
Antes da reunião
deste domingo, o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, disse que
transmitiria com firmeza o apoio de seu governo “à ampliação de uma zona
econômica livre e justa, incluindo a possibilidade de um futuro retorno da
Índia ao acordo, e a esperança de ganhar apoio dos outros países”.
“O acordo é
também uma vitória para a China, de longe o maior mercado da região com mais de
1,3 bilhão de pessoas. Ele permite que Pequim se lance como líder da
globalização e da cooperação multilateral e lhe dá maior influência sobre as
regras que regem o comércio regional”, escreveu o economista Gareth
Leather, especialista em mercado asiático em relatório do instituto Capital
Economics.
China: “Vitória do
multilateralismo”
A agência oficial
chinesa Xinhua News Agency citou o primeiro-ministro Li
Keqiang saudando o acordo como uma vitória contra o protecionismo.
“A assinatura do
RCEP não é apenas uma conquista marcante da cooperação regional da Ásia
Oriental, mas também uma vitória do multilateralismo e do livre-comércio“,
disse Li.
Agora que o
oponente do Trump, Joe Biden, foi declarado presidente eleito, a região está
atenta para ver como a política americana sobre comércio e outras questões vai
evoluir.
Analistas são
céticos de que Biden vai se esforçar muito para aderir novamente ao pacto
comercial Transpacífico ou para reverter muitas das sanções comerciais impostas
à China pelo governo Trump.
Críticos dizem que
acordos de livre-comércio tendem a encorajar as empresas a transferir empregos
da indústria local para o exterior. E essa é uma preocupação do eleitorado, por
exemplo, das regiões de Michigan e Pensilvânia, que Biden precisou conquistar
para vencer as eleições de 3 de novembro.
Mas dada a
preocupação com a crescente influência da China, avaliam especialistas, Biden
provavelmente buscará muito mais envolvimento com o Sudeste Asiático.
O mercado do
Sudeste Asiático, em rápido crescimento e cada vez mais influente, tem 650
milhões de pessoas e, duramente atingido pela pandemia, está procurando
urgentemente novos motores para o crescimento.
O tratado RCEP
originalmente teria incluído cerca de 3,6 bilhões de pessoas e abrangia cerca
de um terço do comércio mundial e do PIB global. Sem a Índia, ainda cobre mais
de 2 bilhões de pessoas e cerca de um terço de toda a atividade comercial do
mundo.
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