Indústria do
anticomunismo voltou a ser mais ativa com a escalada da extrema direita. Livros
e “debates” são, além de usinas de propaganda ideológica de caráter fascista,
fontes de renda e até de títulos acadêmicos.
Por Osvaldo
Bertolino
Publicado 06/12/2019 22:33 | Editado 19/12/2019 07:25
Fantasma do comunismo
O Instituto
Histórico e Geográfico do Distrito Federal anuncia para o próximo dia 11 de
dezembro o debate intitulado “A trajetória do comunismo no Brasil”. Quem
abordará o tema é ninguém menos do que os anticomunistas Paulo Roberto de
Almeida (embaixador), Hugo Studart (jornalista e historiador) e Gustavo Bezerra
(diplomata e historiador), este autor do infame O livro negro do
comunismo no Brasil. O evento faz parte do “Ciclo de Diálogos sobre o
Pensamento Político Brasileiro”, diz o Instituto.
Segundo anuncia
Studart em seu Facebook, “Paulo Roberto vai abrir tecendo uma breve panorâmica
sobre o movimento comunista e sua trajetória no Brasil, palestra baseada em seu
próximo livro, Marxismo e Socialismo”. Ele, Studart, “vai falar da
crise ideológica do Partido Comunista Brasileiro, PCB, que resultou em sua
fragmentação e criação das organizações da luta amada, palestra baseada no
livro Borboletas e Lobisomens”. E Gustavo Bezerra “ficará com o
fecho de ouro, apresentando sua obra monumental”.
Ainda segundo
Studart, Paulo Roberto de Almeida é o proponente do “debate” anticomunista. O
nome não seria exatamente “debate”, porque trata-se de três personagens com
pensamentos semelhantes, todos beneficiários da indústria do anticomunismo.
Paulo Roberto de Almeida escreveu o posfácio do livro-farsa de Studart Borboletas
e lobisomens — uma ficção barata vendida como história —, que
conseguiu a proeza de ser mais vulgar do que a própria obra.
Técnica goebbeliana
O anticomunismo
existe desde que o comunismo é comunismo. Já no Manifesto do Partido
Comunista, considerado a primeira obra programática do marxismo, Karl Marx
e Friedrich Engels escreveram que “todas as potências da velha Europa unem-se
numa santa aliança para conjurá-lo (o espectro do comunismo): o papa e o czar,
Metternich (estadista austríaco) e Guizot (estadista francês), os radicais da
França e os policiais da Alemanha”.
Desde então, em
nome do combate ao “comunismo” muita vulgaridade rotulada de história,
filosofia ou coisa parecida foi produzida. Tudo com generosa publicidade, sem
que os caluniados possam abrir a boca para dizer uma única palavra em sua
defesa. É assim que eles tentam envenenar os que lhes dão ouvidos, conhecida
técnica goebbeliana para manipular os incautos.
Cata de mitos
Paga-se bem por
qualquer obra produzida para difamar e caluniar os comunistas. Concedem-se
títulos acadêmicos — essa obra de Studart, pasmem, saiu de uma tese de doutorado
aprovada na Universidade Nacional de Brasília (UnB) — e abrem-se espaços
generosos na mídia — Studart deitou falação mentirosa sobre a minha produção
que desmascara seu livro-farsa sem que ninguém se dignasse a me ouvir, ou mesmo
a publicar algo do que escrevi e falei.
É um comportamento
bem ajustado ao figurino da escalada da extrema direita, que impulsionou a
indústria anticomunista. Poucas vezes na história do Brasil se falou e se
escreveu tanto a palavra “comunismo”. Ela é falada ou escrita sem nenhum
contexto, acompanhada de números e citações sem comprovações; e sempre
repisando e reforçando grotescas mentiras factuais e históricas.
Um princípio básico
para quem fala ou escreve algo sem ser vulgar é saber do que está falando, não
sair por aí à cata de mitos na tentativa de fraudar a realidade e manipular os
fatos. Os personagens desse “debate”, por exemplo, já demonstraram que nada
sabem a respeito ou ignoram o que sabem porque optaram pelo rentismo do
anticomunismo.
Para se falar de
comunismo — contra ou a favor — é preciso compreender o que os seus teóricos
produziram, em especial Karl Marx, Friedrich Engels e Vladimir Lênin. E ter em
conta que essa corrente filosófica, ideológica e política enfrentou e venceu
diferentes fixações fanáticas de seus detratores. Não será com a repetição de
velhos e surrados chavões do mais rudimentar anticomunismo histórico que agora
terão êxitos.
Código da economia
O marxismo
representou uma ruptura de parâmetros. É o fenômeno mais relevante, no campo do
estudo científico da história, da economia e da filosofia, nesses dois últimos
séculos, quando a humanidade mudou mais do que no milênio anterior. Marx
decifrou o código da economia de crise. E isso não está em nenhum livro em
particular. Está no conjunto de sua obra, da qual a parte mais importante é,
certamente, O Capital.
Ele está longe de
ser apenas mais um nome no balaio de gatos de pretensos contestadores da sua
obra. Sua teoria difere substancialmente das ideias voláteis que são propagadas
por gente que ganha a vida montando frases de efeito e expelindo perdigotos em
palestras como essa desses anticomunistas escalados para o “debate” do
Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.
A interpretação
científica dos seus princípios radiografa casos de sucesso e fracasso em uma
sociedade, gera novas interpretações da realidade, cria novos paradigmas e
equações para entender e explicar o que ocorre no mundo. Por tudo, Marx precisa
ser estudado. Por sua originalidade, pela seriedade e consistência de sua obra,
porque escrevia bem. Exatamente por isso é difícil contestar o comunismo sem
apelar para a vulgaridade e para a desfaçatez, como fazem Paulo Roberto
Almeida, Hugo Studart e Gustavo Bezerra.
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