Muitos deles são banidos em seus
países de origem, incluindo a China, que hoje domina o fornecimento de venenos
agrícolas no nosso país.
por Marcos Pedlowski
Publicado
01/01/2021 16:04 | Editado 02/01/2021 12:21
Governo Bolsonaro é
eficiente em liberar agrotóxicos - Foto: Pixabay
Se está patinando em adquirir até
insumos básicos para viabilizar a vacinação da população brasileira para
debelar a pandemia da Covid-19, em seus dois anos de existência o governo
Bolsonaro fez a alegria dos fabricantes de venenos agrícolas. É que, fechado o
ano de 2020, podemos contabilizar a liberação de 945 agrotóxicos (ver planilha
completa aqui). E muitos deles de
alta periculosidade para a saúde humana e o meio ambiente (incluindo águas e
solos).
Já ressaltei em postagens anteriores.
Um claro cinismo marca a atitude do presidente Jair Bolsonaro em face do uso da
CoronaVac, vacina produzida e comercializada pela empresa chinesa Sinovac. É
que todas as vacinas já desenvolvidas por outras empresas dependem de insumos
produzidos na China para poderem ser produzidas. E vendidas a preços
relativamente mais altos do que a da Sinovac. Além disso, uma parcela
significativa dos agrotóxicos que tiveram liberação nos dois anos de governo
Bolsonaro são produzidos exclusivamente na China. E sem que se ouça qualquer
menção do presidente ou de algum dos seus filhos sobre o processo de
envenenamento dos brasileiros pelos “agrotóxicos chineses”.
Desatenção
Mas é preciso reconhecer que um dos
grandes méritos da máquina de propaganda do governo Bolsonaro é desviar a
atenção dos assuntos que realmente interessam. E inocular elementos paliativos
e insignificantes na narrativa que molda a agenda política brasileira.
Um dos complicadores acerca do debate
necessário sobre o grave risco que o uso abusivo e indiscriminado de
agrotóxicos altamente tóxicos pelos grandes latifundiários que controlam a
pauta de exportação brasileira é que os partidos da esquerda institucional,
mormente o PT, aparentemente não veem isso como um problema. A única exceção
significativa nessa situação de aprovação tácita de um modelo de agricultura
envenenada é o Psol. Sua atuação resultou em 2016 na apresentação de uma Ação
Direta de Inconstitucionalidade (a ADI 553). A ação questiona as imorais
isenções fiscais dadas aos fabricantes de venenos agrícolas.
Mas a falta de uma maior capacidade
de mobilização política em torno da questão vem permitindo que a ADI 553
tramite na velocidade de um cágado de pata quebrada. E permitindo que o tsunami
de aprovações de agrotóxicos gere bilhões de reais em lucros para as
corporações que fabricam agrotóxicos.
O estudo aqui divulgado em que são
demonstradas alterações no DNA de trabalhadores rurais expostos a agrotóxicos
durante suas atividades profissionais em Goiás é apenas a ponta do iceberg de
problemas infringidos à saúde humana no Brasil.
Só aqui
Antecipo que, apesar de todas as
dificuldades de financiamento à pesquisa científica, ainda iremos ver emergindo
evidências cientificamente corroboradas de outros distúrbios causados à saúde
dos brasileiros por causa da exposição direta ou indireta a agrotóxicos. Muitos
deles banidos em seus países de origem, incluindo a China, que hoje domina o
fornecimento de venenos agrícolas no nosso país. Exemplo disso é o herbicida
Paraquate, que apesar de oficialmente banido continua sendo usado no Brasil em
função de estratégias legais usadas pelos representantes do setor produtor de
venenos agrícolas e associações que defendem os interesses do latifúndio
agroexportador.
Antecipo que veremos a continuidade
da aprovação expedita de agrotóxicos pelo governo Bolsonaro em 2021. Por isso
mesmo, a partir do Observatório dos Agrotóxicos, oBlog do Pedlowski continuará documentado as
aprovações e oferecendo as principais informações contidas nos atos oficiais de
liberação de mais produtos para um mercado ambicionado pelas grandes
corporações multinacionais. Apesar de trabalhosa, essa ação será continuada
porque a última coisa que podemos nos permitir enquanto durar o governo
Bolsonaro é o direito à ignorância.
Fonte: Rede Brasil Atual
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