Publicado 12/02/2021 21:21
Eduardo Pazuello e
Jair Bolsonaro - Foto: Carolina Antunes/PR
Os argumentos do ministro da Saúde,
Eduardo Pazuello, na sessão Senado Federal desta quinta-feira (11) de que a
abertura de uma “frente política” no combate à Covid-19 prejudicará as ações do
governo e pode causar mais mortes são uma falácia. O pedido de abertura de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar sua pasta é uma
exigência da realidade. Não é possível a continuidade de uma diretriz que
ignora a gravidade da pandemia nesse Ministério estratégico no momento.
É sabido que opção por Eduardo
Pazuello, um general da ativa do Exército, no Ministério da Saúde foi uma
espécie de resposta do presidente da República, Jair Bolsonaro, às cobranças
por ações mais efetivas do governo diante do avanço do coronavírus. Um clamor
tomou conta do país no sentido de que o Estado acionasse seus mecanismos para
atender às demandas que surgiram com a propagação da Covid-19.
Os primeiros ministros da Saúde deste
governo, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, foram impelidos a deixar o
posto pela política de Bolsonaro de ignorar o clamor público, fundado em
evidências de que a pandemia tem um alto poder de propagação e um elevado grau
de letalidade. Medidas urgentes precisavam ser adotadas e o Ministério da Saúde
começou a mediar iniciativas com os conhecedores do assunto, sobretudo no
universo científico. Foi o suficiente para que Bolsonaro reagisse com
agressividade.
Para o presidente da República, a
gravidade do momento não precisa de medidas excepcionais. Bolsonaro segue com
sua convicção de que a pandemia é algo natural – “no máximo uma gripezinha – e
como tal deve ser tratada. Por sua lógica obscurantista e autoritária, qualquer
mediação com o pensamento científico deve ser ignorada e as pessoas sujeitas à
contaminação têm de lidar com a situação por conta própria, contando com o que
existe em termos de saúde pública – ou privada, de acordo com a escala social
–, tratado pelo governo com absoluto descaso.
Eduardo Pazuello assumiu o Ministério
da Saúde para reproduzir essa política. Sua omissão atende aos ditames de
Bolsonaro de que as pessoas em idade produtiva devem se lançar à sorte em busca
do “pão de cada dia” – “tem que trabalhar”, segundo seu brado –, sem se
preocupar com a obviedade de que por esse meio, sem medidas de proteção, a
pandemia se propaga indiscriminadamente. Para que essa diretriz prevaleça, o
Ministério da Saúde tem de ser omisso em suas atribuições precípuas.
É evidente que uma CPI nessa
conjuntura atinge o cerne do governo. As causas dessa tragédia que vem ceifando
vidas na escala de milhares diariamente ficarão expostas, a começar pelo
obscurantismo autoritário de Bolsonaro. E atingirá, certamente, o coração dessa
política irresponsável – a política econômica que tranca os cofres públicos
para as ações governamentais em favor da maioria da populações e do
desenvolvimento nacional e entrega a chave para os gestores do parasitismo
financeiro.
É comum se ouvir que sabe-se como uma
CPI começa, mas não se sabe como termina. Nesse caso, é possível conjecturar
que o cerne do governo seria atingido. Uma investigação com um mínimo de rigor
certamente revelará uma cadeia de omissões e de atitudes arbitrárias que farão
a natureza desse governo ficar bem exposta. E não haverá espaços para o
bolsonarismo seguir engabelando a sociedade com suas mentiras sistemáticas. O
esforço para que essa CPI siga adiante, portanto, tem sentido estratégico para
o desmascaramento desse governo genocida.
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