A ivermectina,
assim como a cloroquina e hidroxicloroquina foram adotadas para “prevenir” o
coronavírus com o endosso do governo federal
por Catarina Barbosa
Publicado 14/02/2021 18:00 | Editado 14/02/2021 17:05
Foto: Conselho Nacional de Saúde (CNS)
O
novo coronavírus ainda gera muitas perguntas e poucas respostas para
a ciência. No entanto, diversos especialistas já se pronunciaram acerca de um
parecer: a ivermectina não combate e muito menos previne a Covid-19.
Agora, médicos têm
relatado casos em que o uso da substância levou pacientes à falência hepática,
ou seja, o paciente precisa de um transplante de fígado para sobreviver.
A ivermectina,
assim como a cloroquina e hidroxicloroquina foram adotadas, pelo próprio
governo federal, como tratamentos e medicamentos para “prevenir” o coronavírus
— parte do chamado “kit Covid”, com drogas que supostamente (e sem comprovação
científica) seriam eficazes no “tratamento precoce da doença”.
Segundo o médico
Pedro Carvalho Diniz, membro da Rede Nacional de Médicas e Médicos
Populares, que trabalha como médico plantonista da UTI Covid e UTI
geral do Hospital Universitário da Universidade Federal do Vale do São
Francisco, em Pernambuco, começou-se a falar no assunto em abril de 2020.
A discussão teve
início com base em um estudo, realizado por um instituto de pesquisa
australiano, que dizia que a Ivermectina seria capaz de interromper a
proliferação e o crescimento dos vírus. Com base nesse estudo, o uso desse medicamento
contra a Covid-19 se propagou, o que “resultou em uma grande quantidade de
pessoas tomando doses altas e continuadas por muito tempo, no intuito, de
prevenir a Covid”, aponta Diniz.
“O sintoma mais
comum é a intoxicação, mas há também o risco de falência do fígado e muitas
vezes o único tratamento possível é o transplante e se o transplante não for
realizado imediatamente em questão de horas, pouquíssimos dias, a pessoa falece
pela falência do fígado”, diz ele.
” A questão é que
[a pesquisa] é um estudo in vitro. O estudo in vitro é uma parte preliminar dos
estudos em medicina ou em outras áreas. A limitação é que ele estuda na maior
parte das vezes uma cultura de células limitada, que não estão sujeitas a todas
as nuances e características das relações e interações que existem no corpo
humano”, explica Diniz.
Na semana passada,
o presidente da Sociedade Paulista de
Pneumologia e Tisiologia (SPPT),
Fred Fernandes, publicou em seu Twitter que
foi solicitado para fazer uma avaliação para uma paciente com hepatite
medicamentosa.
“Hepatite
medicamentosa por Ivermectina. 18 mg por dia por uma semana. Por covid leve em
jovem. Muito triste ver uma pessoa jovem a ponto de precisar de transplante por
usar uma medicação que não funciona em uma situação que não precisa de remédio
algum”, escreveu.
Sobre a pesquisa
australiana, Diniz, da Rede Nacional de Médicos e Médicas Populares, afirma que
“a quantidade de Ivermectina que conseguiu interromper a proliferação do vírus
é uma dose 35 vezes maior do que a dose habitual usada para o tratamento de
verminoses”, diz lembrando que o remédio é um antiparasitário antigo, que trata
as vermes com bastante segurança e experiência no mercado.
“Para tratar
parasitoses usa-se algo ao entorno de 12mg dose única ou em alguns casos repete
a dose entre 7 e 15 dias. A dose do estudo in vitro é 35 vezes maior, ou seja,
ao torno de 360 a 400 mg, uma dose altíssima e certamente tóxica ao corpo
humano causando, entre outros problemas, hepatite, que certamente foi o que o
Fred colocou no Tweet dele e certamente essa pessoa tomou menos, do que 360 mg,
provavelmente o quadro dele foi pelo uso repetido”, disse.
Outra médica do
estado do Ceará, relatou um caso em que um paciente tomou três comprimidos de
Ivermectina por dia durante duas semanas para prevenir a Covid-19 e estava na
fila de transplante à espera de um fígado.
Desde o início da
pandemia, o presidente Jair Bolsonaro minimiza a doença, o que levou muitos de
seus seguidores e ignorar as medidas e recomendações da Organização Mundial de
Saúde (OMS), como por exemplo o uso de máscaras. Na avaliação de Diniz, o
discurso coloca vidas em risco.
Questionado se
atendeu pacientes com intoxicação ou até mesmo falência hepática em decorrência
do uso de Ivermectina, ele explica que acredita na subnotificação, uma vez que
nem sempre os pacientes relatam o uso da medicação. Contudo, ele deixa um
alerta para quem faz ou pensa em fazer uso da medicação.
“Não há nenhum
estudo em seres humanos ou estudos clínicos com as doses habituais que a gente
toma para tratamento de parasitoses para pacientes com covid-19. Isso é um erro
científico propagado propositalmente pelo governo para defender o tratamento
precoce junto com a hidroxicloroquina”, afirma o médico.
Edição: Rogério
Jordão
Fonte: Brasil de
Fato
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