domingo, 5 de junho de 2022

A FORMAÇÃO ITINERANTE DE HUMANAS E OS 200 ANOS DA NOSSA INDEPENDÊNCIA

 Por Dedé Rodrigues

 

      No dia 25 de maio de 2022, aconteceu a formação Itinerante na área de Ciências Humanas na GRE de Afogados da Ingazeira – PE, promovida pela professora Elizângela. Entre os pontos da pauta estavam algumas propostas metodológicas de ensino, bem  como, a proposta de comemoração dos 200 anos da nossa independência  que deve ser realizada nas escolas no segundo semestre deste ano. Caberia nessa curta matéria perguntar como está o Brasil atual em relação a sua  independência? Como deve agir o chefe do poder Executivo nacional (o presidente da República) em relação a geopolítica e aos grandes desafios do século XXI?  Qual é o papel da educação nesse processo? O Brasil precisa de um novo projeto nacional de desenvolvimento para ampliar a sua independência?

      Para compreender o grande e complexo desafio dos brasileiros que desejam uma independência real dessa pátria nesse início século é preciso dar um mergulho profundo na sua história,  e como sugestão, de acordo com a a nossa formação itinerante, precisamos ler vários livros, entre eles,  A Formação das Almas – O imaginário da República no Brasil, de José Luiz de Carvalho, entre outros. Pegando um recorte no trabalho  de BEAUREPAIRE (2021), sobre Carvalho ele cita que:

 

A nossa República começa com uma história no mínimo curiosa, para se dizer o mínimo. A forma como a República se deu foi algo que tinha uma elite ideologicamente envolvida, sem a presença popular, que fora propositalmente excluída. As ideologias republicanas permaneceram enclausurados no fechado círculo das elites educadas. Onde todos os elementos utópicos foram defendidos, cada um à sua maneira.

 A República não nasce de uma ruptura com o passado. Não representou uma ruptura significativa com o regime monárquico anterior. Ao contrário da França, onde se estabeleceu uma ruptura, no Brasil não ocorreu tal fato. Ocorreu apenas uma formalidade. O Marechal Deodoro da Fonseca, no Campo de Santana, no Rio, reúne 600 militares e uns poucos civis para destituir a Monarquia brasileira, sem derramamento de sangue. Dom Pedro foi deposto ao som do hino francês La Marseillaise. (BEAUREPAIRE, apud. CARVALHO, 2021, P. 2). 

       As nossas elites, talvez uma das mais experientes do mundo em se antecipar aos fatos para evitar mudanças mais profundas na sociedade com a participação popular, ou seja, “uma ruptura profunda com o passado, sem derramamento de sangue, de acordo com o recorte acima, também não vacilou em reprimir as massas quando julgava necessário para manter os seus privilégios. Não foi isso que aconteceu em várias rebeliões? Responderemos na conclusão dessa matéria? 

      Um outro livro importante que os professores deveriam ler, quem ainda não leu, principalmente nesse ano de comemoração dos 200 anos da nossa independência,   é Os Bruzundangas, de Lima Barreto, (1922), no qual ele trata de forma irônica o povo e a política da “sociedade bruzundanguense” da época, indica muitas incoerências daquele ambiente e cita situações que, “de modo sarcástico e satírico”, condiziam verdadeiramente com a sociedade brasileira. De acordo com Silva, (2009), na sua resenha sobre o livro: 

Bruzundanga era um país onde a nobreza se dividia de duas formas. Uma constituída pelos chamados doutores. Aqueles que tinham feito medicina, direito, engenharia e de todos que tinham tal pseudo. A outra era formada por novos ricos que de forma incomum adquiriam títulos. Iam à Europa e voltavam como conde, príncipes, princesas, lordes e todo o resto.
A política nesse país era cômica. Políticos eram nomeados pelo voto, mas quem votava não tinha a mínima idéia do que estava fazendo. O presidente tratado por Mandachuva e engajado na política através do sogro que o queria em bom cargo para as filhas, chegou à presidência graças à sua ignorância e logo que se viu empossado se cercou de sua “clientela”. Cargos eram entregues devido à beleza dos candidatos que deveriam saber dançar, cumprimentar e sorrir para impressionar os estrangeiros, sendo que esses eram de grande valor para os bruzundangas. (SILVA, 2009, P.1).

 

      Diante desse recorte acima torna-se importante contextualizar aquela realidade  com a nossa  política atual, o que faremos na conclusão desse trabalho respondendo a esses questionamentos. Até ponto a nossa política atual ainda tem relação com aquele período? Como agem os “patriotas” que vestem verde e amarelo e balançam a nossa bandeira do Brasil nas passeatas convocadas pelo presidente da República? Qual é o projeto de nação que defende o atual mandatário da República brasileira? Qual é projeto dos militares que estão na atividade política para o nosso país? Qual é o projeto de nação que precisamos?

      É importante destacar, ainda como discussão na formação de história, que,  de acordo com novos resgates históricos,  as mulheres tiveram importância no processo de luta pela nossa independência. Esse destaque pode ser iniciado por  Silva, em História do mundo, acessado em 02 de maio de (2022),  quando ele afirma que:   

 

Leopoldina cumpriu um papel importante na independência do Brasil, pois ela agiu diretamente para convencer d. Pedro a seguir o caminho da ruptura com Portugal. Os historiadores destacam que Leopoldina teve uma ótima leitura política ao perceber que o clima político poderia conduzir o país a transformar-se em uma república. (SILVA, 2022, p. 1).

      Ele afirma que Leopoldina compreendeu a conjuntura política da época e teve capacidade política de convencer D. Pedro que a única forma do Brasil permanecer  monárquico era com  ele a frente do processo permanecendo no Brasil.  De acordo com outra  citação de Silva, a historiadora Johanna Prantner, disse que a imperatriz  “estava certa que se podia negociar a libertação do Brasil da tutela portuguesa em troca de uma monarquia constitucional apoiada pelos patriotas brasileiros”. Inclusive, segundo Silva (idem),   “foi ela quem presidiu uma reunião emergencial que definiu a nossa independência — a carta enviada após essa reunião fez com que d. Pedro declarasse-a em 7 de setembro de 1822”.

       Outra mulher de destaque que lutou pela nossa independência foi Maria Quitéria de Jesus, nascida em 27 de julho de 1792 e faleceu  em  21 de agosto de 1853.  De acordo com Costa (2022),  ela

 

Foi a primeira mulher a fazer parte do Exército Brasileiro. Considerada a heroína da Independência, a baiana fingiu ser homem para poder entrar nas Forças Armadas.

A jovem Maria Quitéria juntou-se às tropas que lutavam contra os portugueses em 1822. Ela utilizou o nome de seu cunhado, ficando conhecida como soldado Medeiros, já que somente homens faziam parte do Exército.

Semanas depois de entrar para o Exército, Maria Quitéria teve sua identidade revelada. No entanto, o major Silva e Castro não permitiu que ela saísse das tropas, já que era importante para a luta contra os portugueses por sua facilidade com o manejo de armas e sua disciplina em batalha." (COSTA, 2022, P. 1).

 

      Maria Quitéria, de acordo com o autor acima, após ser descoberta adotou o seu nome verdadeiro, trocou o uniforme por outra roupa e formou um grupo de mulheres para lutar pela nossa independência, comandado por ela. Ela fez parte de diversas lutas com o batalhão, entre os embates que participou,  defendeu a “Ilha da Maré, da Barra do Paraguaçu, de Itapuã e da Pituba."

      Retornando ao período da independência do Brasil, defendemos a tese e que é preciso conhecer o histórico da  nossa elite brasileira para compreender melhor o nosso presente.  Segundo Costa (1999), logo na introdução do seu livro escreveu:

 

As elites brasileiras que tomaram o poder em 1822 compunham-se de fazendeiros, comerciantes e membros de sua clientela, ligados à economia de importação e exportação e interessados na manutenção das estruturas tradicionais de produção cujas bases eram o sistema de trabalho escravo e a grande propriedade. Após a Independência, reafirmaram a tradição agrária da economia brasileira; opuseram-se às débeis tentativas de alguns grupos interessados em promover o desenvolvimento da indústria nacional e resistiram às pressões inglesas visando abolir o tráfico de escravos. Formados na ideologia da Ilustração, expurgaram o pensamento liberal das suas feições mais radicais, talhando para uso próprio uma ideologia essencialmente conservadora e antidemocrática. (COSTA, 1999, P. 10).

      É nesse sentido que compreendemos a resistência da nossa elite contra os avanços liberais e democráticos  ainda hoje, pois esse comportamento vem de longe.  A resistência dos fazendeiros escravocratas contra a República, mostrada nas próprias imagens, bandeiras  e mapas que temos da época, dependendo da leitura que fazemos encontramos o machismo embutidos nelas, o racismo, etc. Que só uma leitura mais detalhada em sala de aula com os alunos dessas imagens, pode suscitar mais curiosidades, debates  e descobertas nossas.  

 De acordo com Silva, (2022, p. 10), Um dia, Lima Barreto ao tratar do nosso futebol no seu tempo, escreveu um artigo para a revista “Careta, em 3 de junho de 1922”, e deu uma opinião de forma  irônica e clara: "O Brasil não tem povo, tem público". Segundo ele, nessa citação  estava de forma implícita “o ideal barretiano de povo”, pois, nesse ideal,  as pessoas “deveriam compartilhar, não só a mesma língua, história, tradições e costumes, mas também deveriam lutar por direitos, interesses e anseios comuns. Essa seria, em breve, uma das bandeiras que mais tremulariam a partir dos manifestos modernistas”.

  CONCLUSÃO

       De acordo com o que vimos até aqui, apesar da nossa elite se antecipar aos fatos na maior parte dos episódios políticos e das crises da nossa história, evitando mudanças mais profundas no país, é interessante resgatar alguns movimentos populares no processo anterior a ruptura da nossa independência, pois as lutas pela autonomia do Brasil frente ao estrangeiro, ou mesmo em outras revoltas provinciais,  houve muito derramamento de sangue, principalmente,  das classes menos favorecidas.  As rebeliões não se resumem a esse episódio, antes disso houveram, além de outros que não citarei aqui,  três movimentos importantes, no mínimo dois deles  com uma importante participação  popular: a  Conjuração Baiana e a Revolução Pernambucana de 1817.   A Inconfidência Mineira não teve uma maior participação popular, pois foi abortada antes, mas já temos aí o líder Tiradentes, que pertencia a uma classe menos abastada na época, inclusive sendo punido  severamente, o que caracteriza o ódio de classe das nossas elites econômicas naquela época e hoje contra os trabalhadores.

       No caso dos Bruzundanga é preciso contextualizar que boa parte dos nossos “doutores atuais”, descendente daqueles, ainda continuam com uma mentalidade eurocêntrica e “americanizada”, neoliberal e entreguista. Os patriotas de verde e amarelo que saem às ruas hoje, em apoio ao atual presidente, são na prática antipatriotas.  A consciência política no país para votar por propostas e por partidos ainda é muito insuficiente para fazermos as mudanças que queremos desde a base ao poder central.  O atual presidente, ignorante e subserviente ao imperialismo americano e ao capital financeiro,  chegou ao poder graças a crise complexa nacional e mundial do neoliberalismo, prometeu romper com a “velha política” mas aliou-se a ela. Prometeu acabar com a corrupção, mas ela continua com muita força em nosso país.  Na essência o atual presidente  tem um projeto na cabeça de voltar no tempo, como em Bruzundanga, empregou os aliados oportunistas do centrão  para impedir o seu impeachment no Congresso Nacional,  criou um orçamento secreto para desviar recursos para aliados, dificultou o combate a corrupção, desarticulando os órgãos de fiscalização, trocou também comandantes da Polícia Federal para impedir fiscalização contra as denúncias de corrupção dos seus próprios filhos etc. O “projeto” do atual mandatário da nação é possível denominá-lo de “neonazifascista, ultra neoliberal, entreguista, privatista e antipatriota”, um sonho da maior parte da elite burguesa brasileira, da extrema direita do país e do mundo atual em substituição as democracias liberais brasileira e ocidental que estão em profunda crise e não dão conta de solucionar os problemas gerados pelo capitalismo. Para piorar o projeto dos nossos militares, envolvidos na política,  elaborado recentemente, é também entreguista, privatizante e ultra neoliberal. Essa política atual desses militares, do presidente e de sua família tem muitas semelhanças com o Bruzundanga.

      Em ano de eleição, nesses 200 anos da nossa independência os candidatos precisam dizerem ao povo quais são as propostas deles para o país em relação a esse tema. Propomos aos colegas trabalharem essas propostas com os alunos e, entre alguns temas importantes, sugerimos observar deles o posicionamento sobre as seguintes propostas, que farão parte de Um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento e que, a nosso ver, estão intrinsicamente ligados a nossa “nova independência do Brasil”. 

 1. PRESENÇA MAIOR DO ESTADO NA ECONOMIA. (ROMPER COM O NEOLIBERALISMO ATUAL).

 2. VALORIZAR AS EMPRESAS ESTRATÉGICAS PARA AJUDAR A DESENVOLVER A NOSSA ECONOMIA. (PETROBRAS, ELETROBRAS, BANCO DO BRASIL, CAIXA ECONÔMICA ETC).

 3. MAIS DEMOCRACIA, PLANEJAMENTO A CURTO MÉDIO E LONGO PRAZOS, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E EMPREGO.

 4. MAIS AUTONOMIA EM RELAÇÃO AOS OUTROS PAÍSES. (UMA NOVA INDEPENDÊNCIA NACIONAL). (200 ANOS DA NOSSA INDEPENDÊNCIA -2022).

 5. POLÍTICA DE REINDUSTRIALIZAÇÃO DO PAÍS. (INVESTIR MAIS NO CAPITAL PRODUTIVO) AO CONTRÁRIO DE HOJE (INVESTIMENTO MAIOR NO CAPITAL ESPECULATIVO).

 6. REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO SEM REDUÇÃO DE SALÁRIOS.

 7. REDISCUSSÃO PARA REVOGAÇÃO, NO TODO OU EM PARTE,  DAS REFORMAS NEOLIBERAIS DE 2016. (TRABALHISTA, TERCEIRIZAÇÃO, PREVIDENCIÁRIA E TETO DOS GASTOS PÚBLICOS).

 8. FORTALECIMENTO DAS ORGANIZAÇÕES SINDICAIS NO PAÍS E DAS ORGANIZAÇÕES POPULARES.

 9. REFORMA AGRÁRIA E PROMOÇÃO DA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL.

 10. RESGATAR O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, REDISCUTIR A REFORMA DO ENSINO MÉDIO COM A BASE EDUCACIONAL E TRABALHAR CONTRA O OBSCURANTISMO.

 11. TORNAR OBRIGATÓRIA AS DISCIPLINAS DE CIÊNCIA POLITICA NAS ESCOLAS E A  DE DIREITOS HUMANOS PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA EM TODAS AS INSTITUIÇÕES MILITARES DO PAÍS.

 12. REGULAÇÃO DA GRANDE MÍDIA BRASILEIRA, CORPORATIVA, COMERCIAL, EMPRESARIAL E MONOPOLISTA. 

 13. DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA RENDA DO PRÉ – SAL DA PETROBRAS PARA UM PROJETO DE TRANSIÇÃO VERDE. 

Obs. Para inspirar e trabalhar em sala de aula sobre o meio ambiente acesse a música nova no Youtube ou no Google gravada por vários cantores brasileiros com o título: Salve-se a selva ou não se salva o mundo 

 Por fim vai uma última dica: “os brasileiros precisam conhecer de história, mas precisam também dominar a Ciência Política e saber fazer a leitura correta da correlação de forças de cada momento para darem os passos de acordo com as pernas”. Em outras palavras, o voto precisa ser aproveitado para remover os obstáculos possíveis, passo a passo e precisamos aprender com a elite sobre as mudanças superficiais, mas usar essas mudanças, mesmo as mais simples, para fortalecer a organização e a luta em prol dos interesses maiores das classes trabalhadoras.

 

 

 

 

 

   

 

 

 

 

 

Bibliografia

BEAUREPAIRE, Luiz Guilherme de, Bons livros para ler, 2021

 

CAMPOS, Lorraine Vilela. "Maria Quitéria"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/maria-quiteria.htm. Acesso em 02 de junho de 2022.

 

COSTA, Emília Viotti da Da monarquia à república: momentos decisivos/Emília Viotti da Costa. – 6.ed. – São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999. – (Biblioteca básica).

 

SILVA, Daniel Neves, História do mundo, Maria Leopoldina, Vida e papel na Independência, acesso em 02 de maio de 2022

 

SILVA, Francis Paulina Lopes da, O discurso nacionalista de Lima Barreto, MG, UNEC, Brasil. Acesso em 05 de junho de 2022.

SILVA, Marina Cabral da, Os Brunzundanga, 2009



 

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