Por Dedé Rodrigues
A pedido da aluna Tatiane, 3º
Ensino Médio A, EREFEMAAC, Tabira, 2022, fizemos uma breve intervenção sobre
alguns conteúdos do livro de Filosofia, produzido por Aranha e Martins (2016),
no qual elas abordam do Fórum Social Mundial (2015), aspectos da conjuntura e
os desafios da humanidade com as consequências danosas do neoliberalismo sobre
a sociedade. Muitas informações importantes foram passadas, resultado de teses
de diversos pensadores, tais como Piketti, Bobbio, Keynes, Hayek, entre outros. No
encontro do Fórum de 2015, na Carta de Princípios, além de críticas ao neoliberalismo, fizeram
também propostas de intervenção no mundo real, até se conquistar na prática a palavra
de ordem “Direitos e dignidade. Defendeu-se
nesses encontros que “um outro mundo é possível”, mas que mundo seria esse? Qual
sistema político, econômico e social e democracia precisamos construir?
Nos conteúdos pesquisados no livro de Filosofia foram abordados alguns
aspectos da crise do capitalismo neoliberal,
chamadas de “crueldades do século XX”, as duas guerras mundiais, as bombas atômicas no
Japão, o horror dos “regimes totalitários” nos campos de concentração, as
ditaduras na América do Sul, os movimentos migratórios, atos terroristas com
conotação política e religiosa etc. Para
as autoras do livro os novos e antigos desafios exigem a “reinvenção da
democracia”. Mas qual democracia? Segundo elas, na procura de solução para os
males do capitalismo, surgiram outras
tendências políticas no século XX.
No século XX, surgiram tendências
como liberalismo de esquerda, socialismo liberal ou liberal socialismo, o que
pode parecer uma extravagância pela ambiguidade ao unir conceitos contraditórios
aparentemente inconciliáveis: o livre mercado e o controle estatal da economia.
(ARANHA E MARTINS, 2016, p. 288).
As autoras abordaram ainda as consequências da políticas neoliberais, aliadas
as políticas imperialistas, o embate entre menos Estado e mais Estado na
economia e por aí vai. Nesse processo foi lembrado que a própria Inglaterra e
os Estados Unidos criaram medidas assistenciais, com a intervenção do Estado na
economia, para enfrentar a crise gerada
pelo liberalismo, medidas não aconselhadas nem adotadas por muitos países
subservientes aos impérios que caíram no encanto do neoliberalismo. Foram
abordados também o surgimento do chamado “liberalismo social” e,
pensadores como Bobbio, entre outros, defenderam um neocontratualismo na
esperança de que a democratização chegasse a educação e a outros setores
sociais, embora repudiassem a tese marxista da luta de classes, nega-se o mundo burguês e desenvolve-se a ideia de conciliação entre o liberalismo
e o socialismo, uma espécie de "terceira via", que recusa a tese de
que esses dois conceitos seriam inconciliáveis, admitindo que a passagem de um
para o outro poderia ser gradual e pacífica.
Esse embate entre concepções
políticas diferentes sobre o papel do Estado é retomado com a queda do
socialismo real, comemorado pelo liberais, mas criticado pelas autoras do livro
que questionam: afinal o que é o capitalismo real? Seguindo essa linha de
defesa do liberalismo, mas de tentativa de amenizar as crises provocadas por
ele, outros autores como o Francês Thomas Peketti, em O capital no século XXI,
propõe a taxação de grandes fortunas ou taxação progressiva de impostos para
diminuir os efeitos negativos das crises do capitalismo.
Nesse contexto político, entre o
final do século XX e início do século XXI, as autoras do livro abordaram ainda aspectos
importantes da implantação do neoliberalismo no Brasil, a primavera árabe, o
poder do capital financeiro, o papel das redes sociais nas mobilizações de ruas,
os movimentos sociais no Brasil de 2013 e a necessidade da “democratização da
democracia” ou mesmo a “reinvenção” dela. Segundo elas. No livro, o
especialista Pierre Lévy, descreve a Cibercultura, esse avanço nas comunicações
no mundo globalizado, mas que constitui, em si mesmo, “um imenso campo de
problemas e de conflitos para os quais nenhuma perspectiva de solução global já
pode ser traçada claramente”. Nesse sentido, segundo este pensador, é preciso
reinventar as relações de poder com a
moeda, com a democracia e com o Estado, para citar apenas algumas das
formas sociais mais brutalmente atingidas no mundo real.
De acordo com Aranha e Martins
(2016), nesse sentido não se trata apenas da necessidade de “reconhecer o
fenômeno das redes sociais, contraposto a lentidão burocrática de representações
partidárias, mas também o risco de
disseminar ódio preconceitos, o que impede o diálogo”. O que elas também chamam
de violência, não só patrimonial e física, mas a própria ausência de civilidade
nas discussões políticas entre os antagonistas pela internet.
Por fim, Aranha e Martins (2016),
concluem a discussão escrevendo:
A Crise atual pode significar a
exigência de alternativas, de que permitam a gestão dos patrimônios público e privado, de modo a impedir privilégio
a oferecer oportunidades de trabalho e acesso aos bens produzidos pela
sociedade de maneira mais justa. (ARANHA
e MARTINS, 2016, p. 295).
CONCLUSÃO:
Foi nessa linha de raciocínio
que o francês Thomas Piketti – em “o Capital
no Século XXI” constatou o óbvio: “o capitalismo concentrou renda e gerou a
exclusão social”. Devido a isso ele sugere a taxação das grandes fortunas, o
que nós concordamos, mas, isso por si só, não dar conta de solucionar os grande
problemas gerados pelo capitalismo contemporâneo, haja vista o resultado do
Estado de bem estar – social adotado no pós Segunda Guerra Mundial na Europa e
países nórdicos que apresentam problemas com o capitalismo neoliberal entrando a
todo custo nesses países, com a conivência de “correntes políticas
conciliatórias”, tanto no campo de boa
parte da chamada esquerda de lá, bem
como, com o crescimento da direita. A
penetração do neoliberalismo naquelas economias, tem causando estragos
consideráveis, como concentração de renda, exclusão social, inflação,
desemprego, violência política etc. Evidente que programas de proteção social e
desenvolvimento econômico por intermédio do Estado interventor nos marcos do
capitalismo proposto por Keynes são
sempre bem vindos em qualquer circunstância, mas negar a luta de classes e
acreditar na salvação de uma modelo de sociedade irracional como é o
capitalismo e o imperialismo americano
não garante a manutenção da paz, da democracia e nem da justiça social
nos países. É pura ilusão política e utópica. A humanidade se encontra em uma grande encruzilhada
histórica ou ela rompe com o capitalismo
neoliberal e com essa falsa democracia imposta pelo Ocidente imperialista ou
pode ser extinta da face da terra, como atesta a Guerra da Rússia contra os
Estados Unidos e a Otan, tendo a Ucrânia como “bucha de canhão” nessa guerra
por procuração. O perigo nuclear é uma realidade, tendo os Estados Unidos e a
Otan como principais responsáveis dessa possível hecatombe ou mesmo destruição da vida no planeta.
Nesse sentido defendemos também
a tese de que a “concepção atlantista neoliberal” sobre as formações econômicas
e a democracia liberal não explicam
satisfatoriamente o mundo atual. Os chamados regimes totalitários por essa
tese, dizendo para o mundo o que é ditadura e o que é democracia, colocando em
um mesmo patamar de análise o nazismo e o “stalinismo”, não corresponde a uma verdade histórica, haja
vista, o antagonismo entre essas duas concepções de mundo e a própria revisão
histórica hoje feita por especialistas gabaritados como: João Carvalho, Elias
Jabbour, pelo professor Grover Furr , entre
outros.
Concordamos também com a conclusão
de Aranha e Martins (2016), de que
precisamos de novas estruturas políticas, sociais e econômicas no mundo, mas
acreditamos que isso não se dará tendo a
conciliação de classes como mote, pois o
antagonismo de classes, as várias formas de lutas sociais e de rupturas com o
velho continuam na ordem do dia. A análise marxista sobre os males do
capitalismo continua atual, a solução ou saída para essa crise complexa é o
problema que precisamos construir e ela
não está nos marcos do capitalismo neoliberal.
Sendo assim, apesar dos termos defendido
por autores desse livro, como: “reinvenção da democracia” “democratização da democracia”, e lutarmos por
tudo isso, preferimos o termo “substituição da nossa democracia liberal por uma
democracia de “orientação socialista”. Concordo também com Pierry Lévy, que a comunicação em rede foi um
avanço importante nas comunicações, mas,
além de ser preciso selecionar, filtrar e escolher o que vamos ler, a
informação também virou uma mercadoria controlada por poucos centros de
produção e disseminação, apesar dos avanços, vivemos ainda em uma “ditadura midiática no
Ocidente”. Essa democracia liberal é o rosto e o corpo do imperialismo
americano.
Para isso precisamos ocupar as
ruas, como defende Pierry Lévy, e que devemos levar para esses movimentos o
conhecimento histórico, em especial para enfrentar a extrema direita, a
xenofobia e a intolerância e lutar por mais democracia. Mas é bom lembrar que
as manifestações de ruas de 2013 no Brasil, tiveram como resultado o golpe de 2016 e vários
retrocessos com a chegada ao poder da extrema direita. A negação da política e
da importância dos partidos resultaram
em algo pior com o ódio e a violência física e simbólica sendo instalados no
poder central e nas instituições brasileiras. Teria razão o professor Boaventura
da Universidade de Coimbra sobre a democracia e o crescimento da extrema
direita no mundo quando disse que “a
democracia está morrendo democraticamente?” Se atentarmos para a visão de
democracia que têm os bolsonaristas no Brasil quando defendem a liberdade
ilimitada para dizer o que querem e cometerem crimes nas redes sociais contra
aqueles que pensam diferente deles e o índice de violência, física e
psicológica que cresce no país, o negacionismo da Ciência e das urnas
eletrônicas, o golpe anunciado ao mundo, nesse mês de julho\22 pelo próprio presidente da República , o
pedido da volta do AI-5 e da Ditadura Militar,
por defensores desse governo, Boaventura está coberto de razão.
Nessa linha de raciocínio concordamos
que não só precisamos “reinventar a democracia” e de um novo iluminismo, mas também de uma
atualização do marxismo adaptado as realidades singulares e concretas dos
vários países, pois é bom lembrar a frase
do iluminista Rousseau de que “uma sociedade só é democrática quando
ninguém for tão rico que possa comprar alguém e ninguém seja tão pobre que
tenha de se vender a alguém”. Essa democracia, por certo, não é a democracia
liberal vivenciada nos Estados Unidos e em boa parte do mundo nem, muito menos,
a sociedade do capitalismo neoliberal. O fato concreto é que vivemos um conflito
geopolítica, como expressão maior da luta de classes no mundo atual entre os
EUA X China e formações econômicas em conflito: o capitalismo neoliberal versus capitalismo de Estado
mais socialismo de mercado dando os primeiros passos na China em direção ao
comunismo. A última reunião do G7, por
exemplo, os Estados Unidos e demais países anunciaram uma ajuda de 600 bilhões
de dólares aos países aliados para
enfrentar a rota da seda da China. Mas
Elias Jabbour (2022), especialista em China, afirma que os EUA não tem capacidade política,
econômico e estatal de vencer a parada contra a china, pois de cada 100 dólares que aquele país
gasta ou investe hoje, só 20% vai para a
produção, enquanto na China, de cada 100
dólares, 97% vai para a produção, por isso, segundo ele os Estados Unidos não
conseguem nem consertar a sua própria infraestrutura que está praticamente
destruída, imagine fazer frente a rota da seda da China.
Por fim, como lição dessa aula,
precisamos dispensar os conceitos anacrônicos sobre democracia, ditaduras,
totalitarismo e autoritarismo. Os Fóruns Sociais Mundiais são uma importante
trincheira de lutas contra o neoliberalismo, mas limitados politicamente, decorrente
de divisões internas e do ponto de vista dos objetivos maiores a que se
propõem. Precisamos entender também que existem vários modelos de democracias
sendo construídos por povos e países de diversas culturas diferentes. Consideramos
que há uma relação hoje entre a luta anti-imperialista com a luta democrática e
socialista. O Brasil precisa de um
governo patriota para tirar ganhos nas negociações internacionais, tanto
com os Estados Unidos, quanto com a
China ou com outros países, pois não interessa para nós sermos “vassalos do império
americano nem de ninguém”. Por isso é importante juntarmos todos contra a
direita neofascista e lutarmos por “mais democracia” no país, pois acreditamos
que não se trata de “um outro mundo ser possível, mas de que uma “nova democracia” e uma “nova formação
econômica socialista” no Brasil serem possíveis nesse mundo mesmo.
Grato ao 3º ensino médio A em nome de Tatiane.
Professor José Rodrigues dos Santos – História
Dedé Rodrigues – EREFEMAAC – 2022
REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires,
Filosofando, Introdução à Filosofia, 1º, 2º e 3º Ensino Médio, 6ª Edição,
Moderna, São Paulo, 2016
JABBOUR, Elias, G7 não tem condições de enfrentar a China, Youtube,
2022
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