A política de
desaquecer a economia e gerar desemprego para conter a inflação é chamada de
curva de Philips e, essencialmente, no mundo inteiro, ela não é mais válida.
por Rafael Sallet
Publicado 25/02/2023 07:30 | Editado 25/02/2023 10:33
Ilustração: Cícero
A implementação da
chamada “independência do Banco Central” em 2021 tem sido considerada uma
aberração que atenta contra a democracia brasileira. Essa política é aplaudida
por economistas bajuladores de Wall Street e pela grande mídia. Como pode a
democracia brasileira eleger um projeto político e este ser inviabilizado pela
autonomia do Banco Central? Como um governo pode implementar sua política
econômica sem poder guiar as taxas de juros, do câmbio, das metas de inflação,
etc.? Não há projeto nacional de desenvolvimento que se sustente com a maior
taxa de juros do planeta Terra. Mesmo com o aumento do investimento público,
sem diminuir as taxas de juros (as mais atrativas para os especuladores de todas
as matizes globais), não há crescimento sustentável.
O presidente Lula tem sido certeiro em criticar as escandalosas taxas de juros.
Para entendermos com profundidade o quão danosa é essa política de juros altos
para o povo brasileiro, devemos partir das premissas daqueles que a defendem.
Campos Neto, presidente do Banco Central, defende essa política de juros altos
para desacelerar a economia, aumentando o desemprego com a retração dos setores
produtivos e reduzindo o consumo. Dessa forma, isso poderia fazer uma barreira
para a escalada da inflação.
Leia também: O triunfo do
discurso de Lula sobre a insensatez dos juros altos
A política de
desaquecer a economia e gerar desemprego para conter a inflação é chamada de
curva de Philips e, essencialmente, no mundo inteiro, ela não é mais válida. E
por que não é válida? Porque a política neoliberal imprimiu a precarização do
trabalho, a flexibilização e a quebra dos direitos trabalhistas, jogando um
oceano de trabalhadores no universo da informalidade. Por esse motivo, gerar
desemprego não combate efetivamente o aumento da inflação.
Essa tese poderia
ter alguma sustentação se tivéssemos uma explosão de demanda não suportada pela
oferta, o que não é o caso. Como bem analisou o economista André Lara Resende,
o que temos hoje no Brasil é um “choque negativo de oferta” fruto de uma
desorganização produtiva. Nesse caso, aumentar os juros não ataca o problema
central, pelo contrário, estrangula e desorganiza ainda mais a produção.
Derrotar essa política de juros altos é um desafio central para iniciarmos um
processo vigoroso de retomada do crescimento. Campos Neto,
eleito presidente do Banco Central até 2024, trouxe um prejuízo de 298,5
bilhões de reais à instituição, essencialmente por vender dólar
no mercado futuro, enchendo as burras dos especuladores e levando essa dívida
para o tesouro da União, ou seja, repassando ao povo a conta dessa política
desastrosa. O mesmo Campos Neto que, em uma recente entrevista, exaltou o
trabalho infantil ao comentar sobre o sistema PIX. Esse mesmo Campos Neto tem a
cara de pau de defender os juros mais altos do planeta, dizendo ser essa uma
política pensada para o social.
Todos os países desenvolvidos do planeta possuem juros reais (taxa de juros
nominal menos a inflação) negativos, já o Brasil tem mais que o dobro de taxas
de juros do segundo colocado. Isso é uma aberração que não se sustenta, a não
ser nos interesses escusos de favorecer os monopólios econômicos que
desnacionalizam a indústria nacional e os interesses dos especuladores ao redor
do mundo.
Manter a atual taxa de juros é entregar um grande negócio para os rentistas que
compram a dívida pública, letras do Tesouro Nacional que pagam a inflação mais
seis ou sete por cento ao ano, enquanto os brasileiros veem sua produção
esmagada e o crédito mais caro, o que inviabiliza a compra da casa própria, o
financiamento das empresas nacionais e a possibilidade de aumento do salário,
crescimento do emprego e combate à pobreza.
Leia também: Lula, juros e
bancos públicos
Pesquisa da Genial
Quaest aponta que 76% dos brasileiros apoiam o presidente Lula na defesa da
queda dos juros. Cabe a nós entrarmos na luta política para derrotar esse
estrangulamento defendido pelo Banco Central, apoiar o presidente Lula na
denúncia dessa barbárie e abrir caminhos para uma política econômica razoável,
a fim de iniciarmos o processo de retomada do crescimento.
As opiniões
expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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