quinta-feira, 13 de abril de 2023

Pesquisa mostra a cara do trabalhador “uberizado” no Brasil

 


Eles são majoritariamente homens negros com ensino médio completo, mas as semelhanças param por aí. A idade, jornada e a renda média de cada categoria, por exemplo, são distintas.

por André Cintra

Publicado 13/04/2023 19:16

 

O trabalho mediado por plataformas como o Uber e o iFood se tornou fonte de renda para mais de 1,6 milhão de brasileiros. É o que aponta a pesquisa “Mobilidade Urbana e Logística de Entregas – Um Panorama Sobre o Trabalho de Motoristas e Entregadores com Aplicativos”.

O estudo – que é inédito, pela abrangência – foi feito em conjunto pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e pela Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec). Seus resultados mostram a cara do trabalhador “uberizado” no Brasil.

Além de usar dados disponibilizados por quatro empresas (iFood, Uber, 99 e Zé Delivery), os pesquisadores entrevistaram mais de 3 mil motoristas e entregadores de aplicativos. Os resultados são, portanto, de ordem quantitativa e qualitativa.

A primeira conclusão, já indicada por pesquisas anteriores, é que, a despeito de traços comuns, há também diferenças significativas entre esses trabalhadores uberizados. Eles são majoritariamente homens negros com ensino médio completo, mas as semelhanças param por aí. A idade, jornada e a renda média de cada categoria, por exemplo, são distintas.

No caso dos motoristas – que têm, em média, 39 anos de idade, 95% são homens, 62% são pretos ou pardos (ante 35% brancos) e 60% completaram o ensino médio. A maioria (63%) trabalha somente com apps, enquanto 37% têm outro trabalho.

Como esses trabalhadores decidiram aderir a plataformas como Uber e 99? Conforme o levantamento, 45% tinham ocupação anterior e mantiveram essas atividades depois de começar a trabalhar com aplicativos; 36% estavam procurando trabalho; 22% tinham ocupação prévia, mas abandonaram as atividades para se dedicar aos apps; e 3% não estavam procurando trabalho.

Já os entregadores por aplicativos, com 33 anos de idade média, também são majoritariamente homens (97%) e negros (68% se declaram pretos ou pardos), com ensino médio completo (59%).

Antes de se tornarem entregadores, 31% tinham ocupação prévia e continuaram com essas atividades; 28% estavam procurando trabalho; 26% tinham ocupação prévia, mas abandonaram o posto para se dedicar exclusivamente aos apps; 7% não estavam procurando trabalho; e 2% nunca tinham trabalhado antes.

Tanto entregadores quanto motoristas reclamam das condições de trabalho, mas não pretendem mudar de ocupação. Entre os entregadores, 63% dizem que querem continuar trabalhando com apps – e 15% dizem querer muito. Só 14% desejam mudar. Entre os motoristas, 54% querem permanecer na área e 10% querem muito. Outros 23% gostariam de sair.

Os motoristas trabalham, em média, de 22 a 31 horas semanais e têm uma renda líquida média que varia entre R$ 2.925 e R$ 4.756. Os entregadores têm jornada e renda menores: trabalham, em média, de 13 a 17 horas semanais para ganhar um rendimento médio que oscila de R$ 1.980 a R$ 3.039.

“A pesquisa confirma nossas hipóteses de que esse é um modelo novo e de que a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), como está estruturada, não se adequa a esse modelo”, afirma André Porto, diretor-executivo da Amobitec. O levantamento ouviu 3.025 trabalhadores uberizados, de agosto a novembro de 2022. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais.

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