O caráter recessivo da alta taxa Selic foi a grande
crítica dos trabalhadores no Primeiro de Maio. Copom redefine o patamar de
juros esta semana.
por Cezar Xavier
Publicado 01/05/2023 20:07
1º de maio 2023 Unificado das Centrais Sindicais Local : Vale do Anhangabaú, São Paulo Foto : Roberto Parizotti
Durante a manhã,
lideranças das centrais e de movimentos revezaram-se ao microfone, durnate o
ato unificado de Primeiro de Maio, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Todos
procuraram divulgar as 15 pautas de luta que devem marcar o movimento sindical
nos próximos meses. A crítica ao patamar da taxa Selic, definida pelo Comitê de
Política Monetária do Banco Central (Copom), foi o clamor mais ouvido,
inclusive por parte do próprio presidente Lula.
Recordando a
sequência de retrocessos que marcaram os últimos quatro anos do Brasil, os
representantes dos trabalhadores destacaram como reivindicações a valorização
do salário mínimo e dos servidores públicos, o fim dos juros elevados, o
fortalecimento da negociação coletiva e da democracia, a geração de
emprego e renda, a ampliação de direitos a todos, aposentadoria digna e a
promoção da igualdade de gênero no mercado de trabalho.
O presidente
da CUT, Sérgio Nobre, qualificou de “picareta” o titular do Banco Central,
Roberto Campos Neto, manter a taxa de juros em valores insuportáveis para o
investimento. Afirmou ainda que ele está “boicotando” o governo Lula. “Esse
país precisa voltar a crescer de forma vigorosa.”
Por sua vez, o
presidente da Força Sindical, Miguel Torres, lembrou os 80 anos da CLT
[Consolidação das Leis Trabalhistas], completados hoje. “Muito combatida por
alguns, mas necessária para os trabalhadores. Queremos, sim, rever pontos da
reforma trabalhista”, ponderou ele, apontando este como um “forte embate” no
Congresso.
O presidente
da UGT, Ricardo Patah, também mencionou as revisões necessárias na reforma
trabalhista, que o grupo de trabalho responsável pelo tema deve encaminhar a
revisão de itens como ultratividade, trabalho intermitente e rescisão
contratual.
Patah acredita em
redução dos juros na próxima reunião do Copom, previstas para a terça e
quarta-feira (2 e 3). O juro alto prejudica diretamente o comércio, lembrou o
dirigente, também presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo. Ele
também mencionou como principal pilar deste início de governo a valorização da
democracia, “ainda mais depois dos atos de terrorismo em Brasília de 8 de
janeiro”.
O presidente da
CTB, Adilson Araújo, também fez uma crítica aguda ao presidente do Banco
Central Roberto Campos Neto. Em sua opinião, a taxa de juros mais alta do mundo
faz com que tanta gente esteja pedindo comida nas ruas. Adilson pontuou que o
salário mínimo calculado para atender as necessidades básicas do trabalhador
deveria ser de R$ 6.400, mas que no próximo ano, os reajustes vão garantir
aumento real para diminuir a distância entre as necessidades e os ganhos.
A presidenta da
UNE, Bruna Brelaz, representou os estudantes de todo o país, ao dizer que “as
classes dominantes seguem muito incomodadas com o avanço dos direitos de
trabalhadores”. “Por isso é necessário, nesse próximo período, garantir a
mobilização nas ruas para a gente mostrar para essa classe econômica que só é
possível construir um Brasil, a partir da garantia dos direitos dos
trabalhadores”, disse ela, citando os jovens entregadores de aplicativos que
não têm direitos garantidos.
O vice-presidente
do PCdoB, Walter Sorrentino, salientou que, embora o governo Lula seja uma
vitória da classe trabalhadora, “a luta continua”. “A força dos trabalhadores é
a mais decisiva que Lula precisa nessa hora”, disse, defendendo a
“criminalização do bolsonarismo” e suas tentativas de golpe.
“Precisamos
pressionar que a CPI do Golpe [que investiga a invasão na Praça dos Três
Poderes em 8 de janeiro] seja um grande tribunal popular contra os golpistas
para erradicá-los do cenário político e das eleições”, afirmou. Sorrentino
também lembrou que o PL das Fake News, relatado pelo deputado Orlando Silva
(PCdoB-SP), “corta os instrumentos dos golpistas”.
O dirigente
comunista também sinalizou para a necessidade de combater a CPI contra o MST.
“O MST é nosso. É de todos nós. Essa é mais uma manobra golpista”. Não esqueceu
também de qualificar os diretores do Banco Central como “adversários
encastelados” naquele organismo público, sem o voto popular para legitimá-los,
“que carregam nas costas a luta contra o desenvolvimento do Brasil”.
Bandeiras
prioritárias
Outra bandeira do
movimento é a defesa da Convenção 156 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT). O dispositivo tem como meta fomentar políticas que igualem
homens e mulheres, tanto em termos de oportunidades oferecidas quanto de
tratamento, tendo em vista que uma série de responsabilidades, como tarefas
domésticas e o cuidado dos filhos, é atribuída com maior peso às mulheres, o
que as afeta profissionalmente.
Esse foi um aspecto
abordado por diversas líderes mulheres que dividiram o palco, no início do ato,
e chamaram atenção para o fato de que, na maioria das vezes, são as mulheres
que desempenham o papel de cuidadora. “Se temos um parente doente, somos
nós que cuidamos. Se temos filhos, somos nós que cuidamos. E, se temos sogro e
sogra, somos nós que cuidamos”, declarou a diretora Maricler Real, da Pública
Central do Servidor.
A
presidente do Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de
Combustíveis e Derivados de Petróleo de Guarulhos e Região, Telma Cardia,
complementou a fala da diretora, afirmando que a pandemia de covid-19 atingiu,
sobretudo, as trabalhadoras.
“Nós, mulheres,
fomos mais prejudicadas”, declarou. “Precisamos de mais emprego e salário
digno. Nós ainda temos uma carga de trabalho mais elevada.”
Os trabalhadores
negros se viram representadas na fala da codeputada Simone Nascimento. “A
princesa Isabel assinou a Lei Áurea, mas não assinou a carteira de trabalho”,
disse ela, lembrando a precarização que atinge mais gravemente essa parcela da
população.
Outros princípios
que norteiam a articulação deste ano são a regulamentação do trabalho por
aplicativos, a defesa de empresas públicas, a revogação do novo ensino médio e
de medidas que modificaram a legislação dos trabalhadores, como a reforma
trabalhista. Também faz parte da pauta o desenvolvimento sustentável.
A programação do
ato inclui ainda a participação de diversos artistas, como Zé
Geraldo, o primeiro a se apresentar, por volta das 11h. Mais tarde, devem
subir ao palco Leci Brandão, Toninho Geraes e Almirzinho, Dexter, Edi Rock, MC
Sofia, Ilú Obá de Min, Arnaldo Tifu, DJ Cranmarry, Samantha Schmütz &
Gêmeos, da série Sintonia.
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