Ao Portal Vermelho, João Pedro Stedile, da direção nacional do MST, também criticou a verba destinada à reforma agrária, mas reforçou que o movimento segue na defesa do governo Lula
por Murilo da Silva
Publicado 14/05/2023 09:17 | Editado 14/05/2023 11:37
Foto: Murilo da Silva
Na tentativa de
desgastar o governo Lula, a oposição visa criar uma CPI (Comissão Parlamentar
de Inquérito) sobre o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra),
que desde 2003 já foi investigado outras quatro vezes no Congresso.
Durante a IV Feira
Nacional da Reforma Agrária, que acontece em São Paulo (SP), o fundador e
membro da direção nacional do MST, João Pedro Stedile, conversou
com o Portal Vermelho.
Na entrevista,
Stedile disse que extrema-direita transforma o Legislativo em cavalo de troia
com CPI e elogiou a PL das Fake News, além de criticar a taxa de juros e os
baixos recursos destinados à reforma agrária.
Qual expectativa
para a CPI sobre o MST?
A CPI é um jogo de
cena da extrema-direita. Como eles perderam a eleição no Executivo, estão
transformando o Legislativo em um cavalo de troia para todo o tempo enfrentar o
governo, enfrentar a esquerda, enfrentar qualquer proposta de mudanças no
Brasil. O MST está sendo vítima dessa jogada da direita que tenta criar, com a
CPI, um holofote sobre nós, para evitar que os crimes deles aflorem.
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O MST é um dos
grandes alvos de notícias falsas. Como enxerga o PL das Fake News relatado pelo deputado Orlando Silva
(PCdoB)?
O projeto do
Orlando é revolucionário, é necessário, é super urgente. A democracia depende
desse projeto. Vimos que a mesma ofensiva que fizeram conosco pela CPI eles
fizeram contra o projeto, com um agravante, porque as Big Techs, Google,
Facebook, Twitter, que justamente tem esse conluio com a extrema-direita,
ajudam a difundir as fake news. Foram eles que lá no Legislativo se aliaram com
esses deputados [bolsonaristas] e tentam boicotar o PL ou deformá-lo.
Eu não entendo
dessas artimanhas parlamentares, mas pelo que eu ouvi foi importante ter
recuado e não colocado o PL em votação para, inclusive, ajustar melhor o
projeto e tentar de alguma maneira regular o que essas Big Techs estão fazendo.
Elas são, na verdade, o quarto poder.
A presença de
ministros e do vice-presidente na feira mostra que não houve
distanciamento, mesmo com as falas críticas que os representantes do MST
tiveram nos últimos dias e a atuação da grande mídia que joga combustível no
debate. Como enxerga a situação?
A grande imprensa
no Brasil representa interesses ideológicos e da classe dominante. Sabem que
perderam a eleição e não querem mudanças. A sociedade inteira está estarrecida
com a taxa de juros que está um absurdo e a grande mídia apoia o presidente do
Banco Central. Então isso não nos assusta e não é novidade. O papel deles é
defender os próprios interesses.
Tentaram criar
cizânia entre o MST e o governo, mas na prática nunca mudamos nada nossa linha.
Sempre dissemos para todo mundo, para a sociedade e para o governo que primeiro
vamos defender o governo Lula. Não por sermos puxa-saco, ou porque pegamos
algum cargo. Vamos defender dos inimigos que o governo tem. Os verdadeiros
inimigos do governo são o capital financeiro, a Faria Lima, o agronegócio, a
Agrishow.
Leia também: Em ato pela
Reforma Agrária, ministro reafirma compromisso do governo
Inclusive alguns
jornais insistiram em rivalizar as feiras do MST e da Agrishow, opondo
convidados e presenças em cada uma…
Os jornalistas são
muto hábeis nas edições, sobretudo nas edições das manchetes. Mas vamos
continuar com a mesma linha, defendendo o governo, tendo autonomia em relação
ao governo, o que é fundamental para saúde de qualquer movimento popular. O
movimento popular para ter futuro, ter vida longa, precisa caminhar com as suas
próprias pernas. Por isso continuamos no papel de organizar o povo.
Sobre os R$ 500
milhões, inicialmente divulgado, para a reforma agrária. O valor não é pequeno
demais?
É ridículo. Vamos
fazer pressão para aumentar o orçamento do Incra (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária). Há várias formas de fazê-lo. Acredito que ao
longo do ano oficialmente este valor será reposto. A nossa ideia é que o
governo assente as 80 mil famílias acampadas.
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