sexta-feira, 13 de outubro de 2023

China: evolução econômica

Para ler a versão melhor - https://lucianosiqueira.blogspot.com/ China: evolução econômica Evolução do PIB da República Popular da China de 1980 a 2021: a atuação dos 97 conglomerados estatais Roberto y Pla Trevas* O presente trabalho versa sobre o desenvolvimento econômico da República Popular da China a partir de 1980 até o ano de 2021, em função das diretrizes adotadas pelo Partido Comunista da China, com a implementação do sistema econômico denominado “socialismo de mercado”. Nesse período iremos analisar brevemente a participação dos 97 conglomerados estatais chineses e o papel destes no crescimento econômico da nação oriental, jamais igualado por outro país. Convém mencionarmos que o regime comunista implantado pelo movimento revolucionário liderado por Mao Zedong, a partir de 1949, resultou em melhorias no padrão econômico da classe trabalhadora chinesa, bem como da população rural, historicamente prejudicada pelos sucessivos regimes pré-1949. O período de 1949 até 1960 foi marcado pelos planos quinquenais que coletivizaram a economia do país, resultando em um crescimento econômico significativo. Entretanto, a partir de 1960, surgiram fatores políticos e econômicos que vieram a afetar o governo, notadamente a mudança de alinhamento geopolítico em relação à União Soviética. Quando o premiê Nikita Kruschev sucedeu Josef Stalin, seu governo passou a defender uma nova política de coexistência com as nações ocidentais, o que inicialmente resultou no isolamento da China. O período também registrou o fracasso do chamado “Grande Salto Para Frente”, em função, entre outros motivos, da falta de recursos gerada pelos pesados encargos financeiros que deveriam ser pagos à União Soviética, decorrentes de vultosos empréstimos tomados. Houve então a suspensão do programa de cooperação técnica entre a China e a URSS. Além da desaceleração da economia no começo dos anos 1960, o processo conhecido como Revolução Cultural (1966-1976) gerou resultados negativos na economia do país, paulatinamente se agravando até a morte de Mao Zedong em 1976. Ainda durante o governo de Mao, teve início uma nova etapa nas relações internacionais da China com os países do ocidente, que consolidou-se com o governo de Deng Xiaoping (1978-1989). Anteriormente isolado dentro do Partido Comunista, Deng começou a reverter os desastrosos rumos políticos e econômicos do período da Revolução Cultural, dando início ao processo de reabertura da China para o mundo ocidental e a uma ambiciosa campanha econômica. Houve também a reformulação da estrutura do Partido Comunista da China, bem como n o exército e no governo, abrindo espaço para uma nova geração de líderes. O controle operacional das instituições foi transferido para membros dessa geração sucessora, escolhidos caso a caso, com critérios pré-fixados. Em sua maioria, esses quadros técnicos não haviam vivido a experiência da Longa Marcha (1934-1935), da Guerra Civil Chinesa (1927-1949) e da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A ascensão de Deng Xiaoping e da jovem geração suscitou uma nova etapa política, econômica e social da República Popular da China. Deng compreendeu que essa transição geracional poderia ser interrompida pela reação conservadora dentro do Partido ao colapso da União Soviética e dos estados socialistas da Europa que ocorreu a partir de 1989. De maneira semelhante, corria risco a política de modernização do país, que estava ligada à intervenção do Partido na economia. Deng, então, agiu diretamente para reverter essa ameaça. O exitoso processo de modernização daria uma nova dinâmica às transformações na economia, tornando-se irreversível. Nesse contexto, e no sentido de implantar o “socialismo de mercado”, Deng Xiaoping incentivou e orientou a estratégia de atuação de grandes conglomerados estatais, visando o crescimento econômico da República Popular da China. É importante salientarmos que o Partido Comunista da China é o controlador, gestor e orientador das empresas estatais chinesas, tanto no âmbito das empresas nacionais, como provinciais e municipais. A China possui atualmente cerca de 150 mil empresas estatais que controlam ativos de US$ 15,7 trilhões e empregam mais de 30 milhões de pessoas. Desse universo destacam-se 149 conglomerados que concentravam, até 2019, os principais setores econômicos chineses. Para controlar e geri-los, o governo criou a SASAC (State-Owned Assets Supervision and Administration Commission of the State Council, superv isionada pelo Conselho de Estado e pelo vice-premiê Zhang Guoqing). A SASAC é responsável por setores industriais essenciais, tais quais: petroquímica, aviação civil, aço, químico, ferroviário, energia elétrica, entre outros. É importante salientar que as empresas estatais chinesas controlam cerca de 50% do PIB do país. Nos anos recentes, houve a fusão de diversos conglomerados e, em 2019, o número foi reduzido de 149 para 97. Vejamos: Setor/Atividade Econômica Quantidade de Empresas Porcentagem % Aviação 9 9,2 Energia elétrica 8 8,2 Construção civil e engenharia 5 5,2 Carvão mineral 4 4,1 Telecomunicações fixa e móvel 4 4,1 Siderurgia e alumínio 4 4,1 Petróleo e petroquímica 4 4,1 Setor ferroviário 3 3,1 Metalurgia 3 3,1 Automóvel 2 2,1 Metais não ferrosos 2 2,1 Eletrônica 2 2,1 Setor agrícola 2 2,1 Outros setores 45 46,1 TOTAL 97 100% Por meio desses conglomerados estatais, juntamente ao setor privado empresarial, a República Popular da China teve um desempenho econômico extraordinário. O país passou a comercializar e exportar para os principais países do mundo capitalista, notadamente os Estados Unidos da América, Alemanha, Japão, Itália, Canadá, Reino Unido, Austrália e Brasil, sendo o principal parceiro comercial de alguns desses. Atualmente, a China tornou-se a segunda maior potência econômica, com um PIB de cerca de US$ 17,73 trilhões (dados de 2021), apenas atrás dos EUA com US$ 23,32 trilhões (idem). Para concluir e lançar um questionamento acerca da ideia de que apenas economias capitalistas que seguem o paradigma neoliberal poderiam levar ao crescimento das nações, analisemos o quadro demonstrativo em seguida, que mostra o PIB das cinco maiores economias do mundo, em dólares (dados do Banco Mundial):
 Ano EUA 
 China
 Japão 
 Alemanha

 Reino Unido 
1980 2,86 tri 191,15 bi 1,1 tri 950,29 bi 564,95 bi 1990 5,96 tri 360,86 bi 3,13 tri 1,77 tri 1,09 tri 2000 10,25 tri 1,21 tri 4,97 tri 1,95 tri 1,67 tri 2010 15,05 tri 6,09 tri 5,76 tri 3,4 tri 2,49 tri 2020 21,06 tri 14,69 tri 5,04 tri 3,89 tri 2,7 tri 2021 23,32 tri 17,73 tri 4,94 tri 4,26 tri 3,13 tri

 Da análise do quadro acima, fazendo uma comparação com a maior economia do mundo, o PIB americano variou de US$ 2,86 trilhões em 1980 para US$ 23,32 trilhões em 2021, o que representa um crescimento de 8,15 vezes. A China, por sua vez, passou de US$ 191,15 bilhões para US$ 17,73 trilhões no mesmo período, alcançando um crescimento de 92 vezes da sua economia. Finalmente, constatamos que a intervenção do Partido Comunista da China na condução do estado, com a atuação preponderante das 97 empresas estatais, proporcionou o desenvolvimento econômico da República Popular da China, no período de 1980 até 2021, com altíssimas taxas de crescimento, através da pragmática derivada da teoria desenvolvimentista denominada “socialismo de mercado”. REFERÊNCIAS ARRIGHI, Giovanni. Adam Smith em Pequim: fundamentos do século XXI. São Paulo: Boitempo, 2008. CUNHA, Paulo Gustavo de Araújo. China: de Confúcio à Modernidade. São Paulo: Scortecci, 2015. JABBOUR, Elias Marco Khalil. Infraestruturas em Energia e Transporte e Crescimento Econômico da China: o enfrentamento da crise financeira asiática a partir da expansão de sua demanda interna e a formação de uma economia continental. (Dissertação de Mestrado em Geografia Humana). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Orientador: Prof. Dr. Armen Mamigonian. São Paulo, 2004. KISSINGER, Henry. Ordem Mundial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. _______________. Sobre a China. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. World Bank. World Bank Open Data. Disponível em (Acesso em 28 de maio de 2023). *Engenheiro, ex-coordenador de Relações Internacionais da Prefeitura do Recife China expande influência do yuan na América Latina em meio a disputa global com EUA https://tinyurl.com/53959azw Postado por Luciano Siqueira às 18:19

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