Périplo pela política externa do governo Lula III
Com visão, planejamento estratégico e investimento em áreas-chave, o
Brasil poderá cumprir sua promessa como uma voz influente no cenário
internacional
Bruno Fabricio Alcebino da Silva/Le Monde Diplomatique
OS GRANDES DESAFIOS
DA POLÍTICA EXTERNA
O governo Lula, após dez meses de
mandato, enfrenta uma série de desafios complexos na arena da política
externa. O país é uma potência regional e tem buscado desempenhar um papel de
destaque no cenário internacional. Nesse contexto, dois desafios
específicos se destacam: o conflito entre Israel e Palestina e
a Guerra na Ucrânia. Além disso, o país assumiu a presidência rotativa do
Conselho de Segurança da ONU, em outubro de 2023, posição que traz consigo uma
série de responsabilidades e oportunidades internacionais significativas. A
liderança no Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) também é um desafio.
Embora esteja em um lugar de destaque, problemas estruturais internos em áreas
como industrialização, defesa, tecnologia e educação impedem o Brasil de se
colocar na linha de frente da política global.
CONFLITO ISRAEL-PALESTINA: A BUSCA POR UMA SOLUÇÃO DURADOURA
O conflito entre Israel e
Palestina é uma das questões mais intrincadas e de longa data da história
contemporânea. Esse conflito tem sido marcado por décadas de tensões, violência
e sofrimento humano, tornando-se um desafio maior para líderes de todo o mundo.
O Brasil, no entanto, tem desempenhado um papel relevante na promoção de um
cessar-fogo e na busca por uma solução pacífica. Embora as posições do
mandatário tenham variado e por vezes distoado da posição da Esquerda
brasileira, Lula expressou em duas ocasiões que considera os ataques e
sequestros de civis israelenses pelo Hamas como atos de terrorismo. Ele também
rejeitou os apelos de seus seguidores para rotular as ações de Israel como
“terrorismo de Estado”. Isso deixa o país em posição ambígua no que diz
respeito ao genocidio perpetrado por Israel.
A escalada do conflito, iniciada
no dia 7 de outubro de 2023, partiu da ofensiva do Hamas (Movimento de
Resistência Islâmica) e da posterior declaração de guerra por Israel. Os
constantes ataques à população palestina na Faixa de Gaza têm resultado em um
aumento significativo do número de vítimas civis. A cifra de mortos, que supera
os oito mil, é profundamente perturbadora, com mais de 3.500 crianças entre as
vítimas. O cenário descrito como uma “avalanche sem precedentes de sofrimento
humano” pela ONU, ilustra a tragédia em curso. É importante frisar que a população
palestina vem sendo violentada e morta pelo exército israelense por mais de
sete décadas, desde a criação do Estado de Israel em 1948, sendo motivo de
s&eacu te;ria preocupação internacional.
O presidente Lula assumiu a tarefa de
tentar mediar a paz no Oriente Médio através de uma série de conversas com
líderes globais, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin. O diálogo
assumiu uma importância notável devido ao conflito na Ucrânia. Ambos os
líderes, em sua conversa, enfatizaram a necessidade urgente de estabelecer
um cessar-fogo imediato, visando evitar mais perdas humanas.
Além da conversa com Putin, Lula
também buscou dialogar com mandatários de outros nove países envolvidos no
conflito e/ou com interesses na região. Isso incluiu conversações com os
presidentes do Chile, Emirados Árabes Unidos, Israel, Palestina, Egito,
Venezuela, Irã, Turquia e Colômbia. Lula também trocou impressões com o
presidente do Conselho Europeu, sublinhando seu empenho em buscar soluções
multilaterais para a crise no Oriente Médio. A atuação de Lula revela que a
retomada da diplomacia presidencial é uma extensão de sua busca por um mundo
mais pacífico.
GUERRA NA UCRÂNIA:
NEUTRALIDADE E MEDIAÇÃO BRASILEIRA
A guerra na Ucrânia é um
dos conflitos mais sensíveis e complexos da atualidade, com implicações globais
significativas, incluindo o severo impacto econômico e energético. A crise na
região tem sido marcada por tensões prolongadas e atos de
violência que tiveram um impacto devastador na vida das pessoas. Nesse
contexto, o Brasil adotou uma política de neutralidade e busca desempenhar o
papel de um mediador imparcial.
A abordagem do Brasil em relação à
guerra na Ucrânia é baseada na necessidade de responsabilizar todos os lados
envolvidos no conflito e evitar um alinhamento automático com as posições do
Ocidente ou da Rússia. O país tem enfatizado a importância de um mundo
multipolar, onde todas as nações têm o direito de buscar seus interesses, desde
que o façam de maneira pacífica e respeitando o direito internacional.
O presidente Lula tem reiterado a
disposição do Brasil para atuar como mediador no conflito, desde que ambas as
partes envolvidas demonstrem disposição em buscar uma solução pacífica. O
ex-chanceler e atual assessor especial para assuntos internacionais da
presidência, Celso Amorim, desempenhou um papel essencial nesse esforço
diplomático, demonstrando o compromisso do Brasil com a busca de soluções
pacíficas.
Amorim esteve em Kiev, no dia 10 de
maio de 2023, onde se reuniu com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky,
membros de seu gabinete e com o vice-ministro do Exterior da Ucrânia, Andriy
Melnyk. Além disso, o ex-chanceler realizou uma viagem discreta à Rússia no dia
28 de março, onde prospectou cenários para uma negociação de paz. Sua reunião
com o presidente russo, Vladimir Putin, no Palácio do Kremlin, em Moscou,
refletiu a receptividade surpreendente por parte do governo russo. O foco das
conversas foi o conflito, mas também incluiu discussões sobre temas bilaterais,
como o comércio de fertilizantes.
Apesar dos esforços de mediação e das
tentativas de trazer todas as partes envolvidas à mesa de negociações, até o
momento, não se chegou a um resultado concreto que ponha fim ao conflito. A
mediação é um caminho essencial para evitar mais derramamento de sangue e
promover o diálogo entre as partes, mas pode levar tempo até que um
entendimento mútuo seja alcançado.
Uma das características distintivas
da abordagem brasileira é a ênfase na importância de evitar a escalada do
conflito. O Brasil tem alertado para os riscos de aprofundar a crise e tem
instado as partes a encontrarem formas políticas e diplomáticas de resolução.
Isso reflete a preocupação do país com a segurança global e sua crença de que a
guerra não é a solução para conflitos complexos.
PRESIDÊNCIA
ROTATIVA DO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU: LIDERANÇA GLOBAL
O Brasil ocupou a presidência
rotativa do Conselho de Segurança da ONU em outubro de 2023 e teve a
responsabilidade de liderar esforços globais em questões de paz e segurança.
Essa posição confere ao Brasil a oportunidade de influenciar a agenda
internacional e promover iniciativas de paz e cooperação.
A dificuldade em lidar com conflitos
globais se torna evidente, como no caso das resoluções em busca da paz e do
cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, bem como na criação de corredores
humanitários. Apesar dos esforços apresentados, o alinhamento automático dos
Estados Unidos com Israel, motivado por seus interesses políticos e
estratégicos na região, tem impedido a aprovação dessas resoluções devido ao
seu poder de veto.
Outro exemplo é a rejeição da
resolução russa, que não mencionava o direito de defesa do Estado de Israel,
demonstrando como as divergências geopolíticas podem dificultar a tomada de
decisões que promovam a paz global. O Brasil enfrenta o desafio de conciliar as
diferentes perspectivas e interesses em jogo, buscando maneiras de superar
obstáculos e promover soluções que contribuam para a estabilidade e a segurança
internacionais.
O DESAFIO DE DILMA
NO BANCO DO BRICS
Em março de 2023, a ex-presidenta
Dilma Rousseff assumiu a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD),
também conhecido como o “Banco do BRICS”. Seu mandato se estenderá até 2025, e
o desafio à sua frente é consolidar uma jovem instituição bancária de
desenvolvimento no cenário internacional.
O NBD foi fundado em 2014 pelos
países que compõem o BRICS, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África
do Sul, até o momento, (foi aprovada a entrada de Argentina, Etiópia, Egito,
Arábia Saudita, Emirados Árabes e Irã). O objetivo da instituição é fornecer
capital e empréstimos para impulsionar projetos de infraestrutura,
desenvolvimento social e sustentabilidade nos países membros. O NBD nasceu como
uma alternativa aos bancos multilaterais tradicionais, como o Banco Mundial e o
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e chamou a atenção pelo seu
capital inicial considerável (cerca de 100 bilhões de dólares), principalmente
contribuído pela China. O banco está focado em financiar projetos de
infraestrutura em países emergentes e em energias renováveis. O principal
desafio da instituição es tá em se consolidar como um player importante
no cenário internacional.
Como um banco do BRICS, o NBD possui
uma presidência rotativa entre seus membros, com mandatos de cinco anos. Dilma
Rousseff foi indicada, pelo presidente Lula, para assumir a presidência do
banco.
Dilma Rousseff, em um de seus
primeiros discursos como presidente do NBD, afirmou que o objetivo estratégico
da instituição é se tornar o principal banco de desenvolvimento para mercados
emergentes e países em desenvolvimento. Entre os planos está a expansão do
grupo de membros para além do BRICS. Já foram aprovadas a entrada de
Bangladesh, dos Emirados Árabes, do Egito e do Uruguai. Esse movimento tornará
o NBD mais global, refletindo a diversidade e a complexidade dos mercados
emergentes.
Além disso, a instituição busca
expandir o uso de moedas locais nas transações entre seus membros,
diminuindo a dependência do dólar em contratos entre países latinos, africanos
e asiáticos. Isso simplificará as negociações e facilitará as transações, além
de combater a hegemonia estadunidense. O desafio de consolidar o NBD no cenário
internacional é uma oportunidade única para o Brasil contribuir ativamente para
o desenvolvimento sustentável.
BRASIL NA POLÍTICA
EXTERNA GLOBAL: POTENCIAL E DESAFIOS ESTRUTURAIS
A análise da política externa de um
país muitas vezes se concentra nas negociações diplomáticas, acordos comerciais
e parcerias internacionais. No caso do Brasil, uma nação de dimensões
continentais e recursos abundantes, é interessante observar sua política
externa de forma mais ampla. O país desfruta de protagonismo global, mas
problemas estruturais – como a falta de uma política séria de Defesa, a
ausência de indústrias de ponta e a falta de soberania em diversas áreas – o
impedem de se colocar na linha de frente da política global.
Apesar disso, sua vasta extensão
territorial, recursos naturais abundantes, agricultura produtiva e economia em
crescimento são elementos que o colocam em uma posição estratégica.
O país tem participação ativa em
organizações internacionais como a ONU, o G-20 e a OMC, além de liderar
iniciativas regionais, como a União de Nações Sul-Americanas
(UNASUL). O Brasil tem um histórico de contribuições para missões de paz
da ONU e atua como mediador em questões de conflito, como a crise
na Venezuela. No campo econômico, o Brasil é um dos principais atores
no agronegócio, na mineração e na produção de energia, o que o coloca em uma
posição estratégica em relação ao comércio internacional.
DESAFIOS
ESTRUTURAIS
A ausência de uma política de Defesa
coerente é um dos desafios estruturais mais evidentes que limitam o potencial
do Brasil como protagonista global. O país possui Forças Armadas pouco
competentes e comprometidas, a falta de uma estratégia e de uma indústria de
Defesa unificada e recursos insuficientes afetam a sua capacidade de proteger
suas fronteiras e interesses no cenário internacional.
Para superar esse desafio, o Brasil
precisa desenvolver uma política coerente e integrada na área, que contemple
suas vulnerabilidades estratégicas e prepare suas Forças Armadas para enfrentar
os desafios do século XXI, deixando para trás intervenções na vida política,
como aconteceu no governo de Jair Bolsonaro, chegando a tentativa de golpe de 8
de janeiro de 2023. Isso inclui investir em modernização militar, inteligência,
segurança cibernética e capacidades de defesa em áreas-chave, como a Amazônia,
o pré-sal e as fronteiras terrestres.
A falta de investimento em tecnologia
e pesquisa é outro obstáculo significativo que impede o Brasil de se posicionar
como um protagonista global. Embora o país possua uma base industrial
diversificada e uma economia forte, a dependência de tecnologia estrangeira e a
importação de produtos de alto valor agregado minam sua autonomia e
competitividade em setores estratégicos. A promoção da pesquisa e
desenvolvimento em áreas críticas, como ciência, tecnologia e inovação, é
essencial para superar essa limitação.
A falta de soberania em várias áreas
também é uma preocupação fundamental para o Brasil. A exploração do pré-sal,
por exemplo, é uma fonte vital de recursos para o país, mas a presença de
empresas estrangeiras na exploração e a falta de regulamentações adequadas
podem comprometer sua soberania econômica. Da mesma forma, a vigilância do
espaço aéreo e a proteção da biodiversidade amazônica são áreas onde o Brasil
enfrenta desafios em relação à sua soberania.
Superar esses desafios requer uma
abordagem abrangente, que envolva investimento em infraestrutura, tecnologia,
regulamentações sólidas e estratégias de defesa eficazes. A promoção da
cooperação internacional e de parcerias com nações que compartilham interesses
comuns, principalmente em via da integração regional, é outra estratégia
importante para reforçar a soberania do Brasil em áreas críticas.
A NECESSIDADE DE
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
Para superar os desafios estruturais
que atualmente limitam o Brasil em seu papel na política global, é imperativo
adotar um planejamento estratégico mais abrangente. Em primeiro lugar, o Brasil
precisa de um investimento sério em tecnologia e pesquisa. Isso é essencial
para fortalecer suas indústrias de ponta e reduzir a dependência de produtos e
conhecimentos estrangeiros em áreas críticas. A promoção de centros de pesquisa
e inovação, bem como o apoio a startups e empresas de tecnologia, pode
impulsionar a economia e tornar o Brasil mais competitivo globalmente.
O estabelecimento de parcerias
internacionais sólidas também é essencial. O Brasil deve buscar cooperação com
nações que compartilham interesses comuns, permitindo a transferência de
tecnologia e conhecimento, algo que pode fortalecer a integração regional e
internacional como acontece nos BRICS.
Promover a educação de qualidade é
fundamental para atender às demandas do século XXI. A formação de uma força de
trabalho altamente qualificada é crucial para competir em uma economia global
baseada no conhecimento. Isso requer investimentos substanciais em educação e
treinamento, bem como o incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento acadêmico.
O Brasil tem um enorme potencial para
desempenhar um papel de destaque na política global, graças a sua economia
robusta, recursos naturais abundantes e diversidade cultural. No entanto, para
alcançar esse objetivo, o país deve enfrentar corajosamente seus desafios
estruturais. Com visão, planejamento estratégico e investimento em áreas-chave,
o Brasil poderá cumprir sua promessa como uma voz influente no cenário
internacional. Enquanto enfrenta esses desafios, o protagonismo global do
Brasil continua sendo uma promessa que aguarda cumprimento.
RESQUÍCIOS DO
ISOLAMENTO DIPLOMÁTICO E DO PRAGMATISMO IRRESPONSÁVEL
Com a derrota eleitoral de Jair
Bolsonaro, em outubro de 2022, e o panorama de devastação causado pela
desestruturação do Estado e das políticas públicas, o termo “reconstrução” se
consolidou como um componente essencial no léxico político brasileiro. O
período entre a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva e sua posse em 1º de
janeiro de 2023 testemunhou uma ação decisiva do Gabinete de Transição, que se
comprometeu a eliminar os resquícios da administração anterior e a inaugurar um
novo capítulo na história do Brasil. Essa equipe de transição, composta por
cerca de mil indivíduos representando o governo e a sociedade civil e dividida
em 32 grupos de trabalho (GT), completou, em um prazo de aproximadamente 30
dias, uma análise abrangente da situação do país.
No que tange ao GT de política
externa, a abordagem adotada foi particularmente interessante. As ações
prejudiciais executadas e as oportunidades desperdiçadas durante a gestão de
Bolsonaro funcionaram como um guia para as correções necessárias e como uma
base para as ações iniciais, alinhadas com o programa de governo do Lula III.
Além disso, essa oportunidade permitiu uma análise crítica das falhas
observadas nos dois governos anteriores de Lula.
A reconstrução da política externa,
num primeiro estágio, concentrou-se na resolução de questões orçamentárias
urgentes, incluindo o equacionamento de uma dívida de aproximadamente R$5
bilhões que precisava ser quitada ainda em 2022. Segundo o ex-coordenador dos
GT’s de transição e atual presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, “a política
externa do governo [Bolsonaro] transformou o Brasil num pária. Mas não é só um
pária”. O não pagamento acarretaria na perda do direito de voto do Brasil em
organizações internacionais de grande relevância, como a ONU (Organização das
Nações Unidas), a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura) e a OIT (Organização Internacional do Trabalho). A
situaç&at ilde;o expôs o isolamento e o desmonte do governo anterior em
relação à diplomacia multilateral, que historicamente representou uma das áreas
de foco preferenciais da política externa brasileira.
Como parte da “reconstrução”, o atual
ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira anunciou, em seu discurso de
posse, a reintegração do Brasil ao Pacto Global para Migração Segura, Ordenada
e Regular, uma medida posteriormente formalizada por meio de comunicados
enviados à ONU e à OIM (Organização Internacional para as Migrações). Além
disso, a agenda incluiu a retirada do Brasil do Consenso de Genebra e a revisão
das políticas de vistos humanitários, com destaque para haitianos e afegãos. Em
âmbito regional, o presidente Lula anunciou em seus discursos iniciais a
reintegração do Brasil à UNASUL e à CELAC, bem como a reativação
da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). A normalização
das relações com a Vene zuela também foi considerada prioritária, corrigindo a
estratégia de isolamento adotada por Bolsonaro que se transformou em um ponto
de disputa estratégica entre EUA, Rússia e China.
Praticamente em todas as áreas em que
o Brasil havia desempenhado um papel de destaque no cenário global – como
saúde, meio ambiente, mudança climática, desenvolvimento sustentável, direitos
humanos, questões sociais e integração regional, assim como nas relações com os
países africanos e na cooperação para o desenvolvimento – as posições
brasileiras haviam regredido durante o governo anterior, marcado pelo
isolamento diplomático e o pragmatismo irresponsável. A reconstrução não se
limitou a retornar ao status quo, mas a projetar as políticas em um
novo contexto global, regional e doméstico, de acordo com a agenda do governo
comprometido com a mudança e a restauração da política externa do Brasil. A
ênfase na agenda ambiental e climática emergiu como um exemp lo proeminente
desse desafio.
Desde o primeiro discurso de Lula
como presidente eleito, ficou evidente que a agenda ambiental e climática
assumiria um papel central na política externa e na liderança do país. A
primeira atividade oficial de Lula, ainda como presidente eleito, foi a sua
participação na COP 27, no Egito, onde reafirmou o compromisso com a proteção
dos biomas, condenou a extração e o garimpo ilegal e defendeu medidas de
combate à violência contra as populações indígenas. Ao lado dos presidentes da
Colômbia, Gustavo Petro, e do Chile, Gabriel Boric, a política externa de Lula
III tem a oportunidade de centralizar a agenda climática e ambiental na
cooperação regional, rompendo com a ênfase anterior em setores como integração
política, defesa, energia e infraestrutura. Essa mudança, ao priorizar as
questões ambientais e cli máticas, abre caminho para que a justiça social e a
justiça climática se tornem conceitos fundamentais na agenda da integração
sul-americana.
O cenário internacional é marcado por
uma competição crescente entre as duas principais potências, Estados Unidos
e China, em busca da hegemonia global. Esse conflito leste-oeste tem
repercussões em todo o mundo e exige que o Brasil tome uma posição equilibrada.
Por um lado, é vital para o Brasil manter relações sólidas tanto com os Estados
Unidos quanto com a China, dada a importância de ambos os países como parceiros
comerciais e estratégicos.
Bruno Fabricio
Alcebino da Silva é Bacharel em Ciências e Humanidades e graduando em Relações
Internacionais e Ciências Econômicas pela Universidade Federal do ABC (UFABC).
Pesquisador do Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do
Brasil (OPEB).
Bolsonaro
segue em sua retórica decadente https://bit.ly/467BF0d
Postado por Luciano Siqueira às 07:38 Nenhum comentário:
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