Plenário da Casa aprovou projeto que dá voz a parlamentares negros e pardos em espaços de poder, como o colégio de líderes onde se decide a pauta de votações da semana
Por Marciele Brum
Publicado 02/11/2023 09:00 | Editado 02/11/2023 11:35
(Foto: Luz Dornelles/Ascom Denise Pessoa).
No mês em que se
celebra a Consciência Negra, o povo negro garantiu uma conquista histórica.
Nesta quarta-feira (1/11), foi aprovado o Projeto de Resolução (PRC) 116/23,
que institui pela primeira vez a bancada negra na Câmara dos Deputados. A
matéria vai à promulgação.
O grupo reunirá 121
deputados (24% do total) que se declaram pretos ou pardos, incluindo
representantes do PCdoB, como Daiana Santos, primeira deputada federal negra
eleita pelo Rio Grande do Sul.
“Toda essa
caminhada de luta por direitos e espaços no âmbito político vem de muito tempo,
de muita luta por parte do movimento negro. Agora, o mais importante é dar
seguimento em busca de soluções efetivas que contemplem a população negra, que
tanto sofreu com um longo período de escravidão e negação de direitos. Que esse
seja um dos primeiros grandes feitos que nós vamos estruturar aqui”, destaca a
parlamentar.
Leia mais: Parlamentares
decidem criar bancada negra na Câmara dos Deputados
A bancada negra
terá um coordenador e três vice-coordenadores, sendo escolhidos por eleição
anualmente no dia 20 de novembro, data em que se comemora o Dia da Consciência
Negra.
Uma das principais
mudanças é assegurar a participação do grupo nas reuniões de líderes com o
presidente da Câmara, Arthur Lira. Nesse colegiado, são definidos os temas que
irão a Plenário para votação na semana. A partir de agora, terão direito a voz
e voto. Será possível ainda usar a palavra, por cinco minutos semanalmente,
durante as Comunicações de Liderança, para expressar a posição de seus
integrantes.
“Foi um passo
importante para que parlamentares negros reforcem sua presença na Câmara dos
Deputados. E esperamos também que sirva para ampliar a diversidade da Casa e
superar a sub-representação negra”, avalia o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP),
primeiro presidente negro da União Nacional dos Estudantes (UNE).
À frente da Bancada
do PCdoB na Câmara, a deputada Jandira Feghali avalia que o reconhecimento
institucional da bancada negra avança para uma luta antirracista que é travada
há muitos anos pelos parlamentares.
“É muito
importante que a Câmara passe a compreender a bancada negra como uma bancada
que vai articular as políticas afirmativas de combate ao racismo, e que eu
espero que tenha o apoio de todos na Câmara. A nossa luta antirracista é muito
importante, e a bancada negra como a bancada da mulher demarca os dois tipos de
opressão que nós temos que é a de gênero e a de raça, além da opressão de
classe. Então, é preciso a superação da desigualdade nesses três tipos de
opressão. Como já existe a bancada feminina, criar a bancada negra é a demarcação
de que essa luta vai ganhar força, vai ganhar fôlego e vai ter vitórias”,
analisa Jandira.
O projeto tem a
autoria dos deputados Talíria Petrone (PSOL-RJ) e Damião Feliciano (União-PB).
A relatoria foi feita por Antonio Brito (PSD-BA). A proposta não gera custos
adicionais para a Câmara. Não há criação de cargos, de assessoria e destinação
de salas para o trabalho.
“Nada mais justo
para um Brasil que não avançou na democracia racial”, afirma Talíria.
Já a deputada
Benedita da Silva (PT-RJ) considerou a aprovação como um reconhecimento
histórico. “Neste momento, me sinto recompensada. Agora tenho uma bancada, que
vai dar continuidade a uma luta”, enfatiza a parlamentar que ficou emocionada
em Plenário.
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