Tributação anunciada irá gerar fornecedores brasileiros, empregos
brasileiros, e ajudará a impulsionar o PIB
Luís Nassif/Jornal GGN
2024 iniciou-se sob fortes auspícios, graças às medidas anunciadas por Geraldo Alckmin.
Luiz Carlos Mendonça de Barros é um grande operador de mercado. Ganhou muito dinheiro com a maxidesvalorização de 1982, confiando no seu feeling. E muito mais dinheiro no governo FHC, durante o qual ele foi insider de si mesmo: ajudava a definir a política monetária e cambial e operava em cima.
Alguns anos atrás decidiu investir no
milagre chinês e tentou se cacifar como representante de uma marca de veículos.
Não sei se conseguiu ou não.
Mas ontem, o Ministério do
Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) anunciou três
medidas:
1. Tributar a importação de veículos
elétricos.
2. Dar subsídios à produção interna
de veículos elétricos.
3. Permitir depreciação acelerada para novos investimentos em bens de capital.
Mendonça de Barros ficou indignado e
usou o bordão de que o governo estava apelando a políticas velhas, que tinham
afundado o país. As mesmas políticas velhas, aliás, responsáveis pelo
crescimento exponencial do Brasil até os anos 90 e pelo milagre chinês.
Vamos entender a lógica do raciocínio
dele, e os efeitos dessas medidas para ele e para o Brasil.
Com o imposto de importação, o
veículo importado ficará mais caro. Ou sairá da margem do importador, ou acaba
a importação. Mendonça de Barros perde. E o Brasil?
Se há um imposto penalizando as
importações e outro estimulando a produção interna, o que fará o fabricante
chinês, ou alemão, ou americano? Passará a produzir no Brasil.
Nesse caso, irá gerar fornecedores brasileiros, empregos brasileiros, pagará
impostos sobre os produtos, sobre os salários, ajudará a impulsionar o PIB.
É a mesma lógica da depreciação
acelerada. A depreciação consiste em um percentual do investimento que pode ser
abatido a cada ano do Imposto de Renda, dependendo do prazo de vida útil do
equipamento. Com a depreciação acelerada, a dedução fica mais rápida e maior.
Os idiotas da objetividade dirão que,
com a depreciação acelerada, o governo estará abrindo mão de arrecadação.
Estaria, se fosse uma dedução para empresas já instaladas. Se a ideia é
estimular novos investimentos, haverá aumento de arrecadação óbvio, quando a
empresa estiver produzindo.
Falta, agora, escapar da armadilha
das metas inflacionárias. Não há lógica nessa ideia de controlar a liquidez da
economia através de títulos da dívida pública. Ou seja, se há qualquer sinal de
aumento da inflação, mesmo que não seja de demanda, aumentam-se os juros – e o
dinheiro que poderia ir para investimentos vai para o bolso do rentista. Aí,
entram dólares no país para aproveitar a bonança, apreciando o câmbio. Nesse movimento,
as exportações brasileiros ficam mais caras, as importações mais baratas,
prejudicando a balança comercial.
Mais que isso, as variações no câmbio
espantam o investimento externo produtivo. O capital produtivo, quando entra no
país, tem que analisar a taxa de retorno – em reais e em dólares, já que os
lucros são remetidos para fora. Com o câmbio sendo uma variável da política
monetária, há um desestímulo à entrada de capital produtivo.
Nessa dança, só quem ganha é o capital financeiro do Mendonça de Barros ou os
importadores.
O primeiro dogma foi derrubado.
Faltam vários ainda.
Cartas à mesa https://bit.ly/3Ye45TD
Postado por Luciano Siqueira às 20:47 Nenhum
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