Projeto de senador general Hamilton Mourão visa beneficiar militares bolsonaristas envolvidos na tentativa de derrubada do governo Lula
por Zenaide Azeredo
Publicado 18/01/2024 11:06
Golpistas invadem e depredam prédios públicos em 8/1/2023. Foto: Marcelo
Camargo/Agência Brasil
Sem qualquer
punição aos militares que no 8 de janeiro de 2023 participaram da tentativa de
golpe contra um presidente democraticamente eleito, o Brasil arrisca-se,
novamente, a repetir os mesmos erros de seu passado recente. Encontra-se em
tramitação no Senado um projeto de lei que atenta contra a democracia e os
direitos humanos e que, tendo em vista a atual composição no Congresso
Nacional, corre o risco de ser aprovado. Uma anistia aos golpistas do 8 de
janeiro é o que planeja o senador general Hamilton Mourão (Republicanos/RS), ex
vice-presidente do governo passado.
De acordo com esse
projeto, o PL 5064/23, os vândalos bolsonaristas, autores de uma depredação sem
igual nas sedes dos Três Poderes, apenas “participaram de uma manifestação”
objetivando “protestar e não atentar contra o Estado Democrático de Direito”. A
propósito, 30 pessoas já foram julgadas e condenadas pelo STF por esse e outros
crimes, como golpe de Estado, dano qualificado e depredação de patrimônio
público privado. Porém, nenhum indiciado pertence às Forças Armadas. E presos,
apenas integrantes das polícias militares.
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Ao vandalizarem os
prédios e suas obras raras no Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal e
Congresso Nacional os golpistas, militares e civis, tentaram provocar a
convocação de uma GLO – Garantia da Lei e da Ordem – destinada a colocar o
Exército de volta ao poder. Diante do risco de virem a ser julgados e
condenados pelo STF, os militares identificados no vandalismo pressionam os
parlamentares para lhes concederem essa anistia preconizada pelo general
Mourão.
Reincidente
Mourão, ele
próprio, é um reincidente na prática de crimes contra a democracia. Em 2017,
numa palestra em Brasília, ele defendeu uma intervenção militar no País. Apesar
do então ministro da Defesa, Raul Jungmann, ter pedido providências, o
comandante do Exército na ocasião, general Villas-Boas, não viu crime na
atitude de seu subordinado. Ainda na ativa, o general Mourão já havia praticado
outro crime, em 2015, ao criticar a presidente Dilma Roussef, que,
constitucionalmente, era a Comandante Suprema das Forças Armadas.
Ao tentar estender
mais essa anistia a militares, Mourão pretende repetir uma abominável prática,
infelizmente já inserida na história militar no Brasil: a anistia de fascistas,
assassinos, baderneiros, golpistas e torturadores de farda. Anistia essa,
segundo o professor Paulo Ribeiro da Cunha, da Unesp, em entrevista ao Brasil
de Fato, “socialmente limitadas e ideologicamente norteadas”. Ou seja, são
anistias mais alinhadas à direita. No período republicano o Brasil teve 48
anistias, sendo a primeira em 1898 e a última em 1979.
Sob ameaça de uma
nova anistia, a 49º, cabe a nós, democratas, lutar para que o Senado não aprove
o PL 5064/23. Sensibilizar os senadores da Comissão de Defesa da Democracia
para essa causa seria uma maneira de tentar subverter essa tendência histórica
de concessão de anistia a golpistas. Esperemos que o relator da matéria,
senador Humberto Costa (PT/PE), instrua seus pares e desaprove o projeto do
general Mourão. “Sem Anistia” continua sendo a palavra de ordem!
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