“É preciso regular esse setor no nosso País e o Governo deve
ser impulsionador disso. O Ministério das Comunicações não pode se esconder
desta pauta. Tal como a presidenta Dilma, o ministro Paulo Bernardo também tem
que estar atento à voz das ruas”
Por Valmir Assunção*
Desde que começou este levante social no nosso País, tenho
acompanhado com um interesse especial a cobertura da imprensa brasileira sobre
os protestos.
Vamos a um pequeno relato: nas primeiras manifestações
massivas, os meios de comunicação, em especial a Globo, trataram os
manifestantes como um conjunto de vândalos, que atrapalham o trânsito, sem
pauta nenhuma, quando se havia a pauta da tarifa do transporte público.
Quando os protestos ganharam o país, não só a Globo, como
muitos meios burgueses resolveram voltar atrás. Quando as pautas se tornaram
difusas, os meios resolveram pautar as manifestações, de maneira, inclusive,
bastante descarada. Há exemplos de apresentadores tentando manipular pesquisas
de opinião pública, jornais que centram as manifestações para a pura e simples
luta contra a corrupção, sempre tentando diferenciar os “pacíficos”, dos
“vândalos”, daqueles que tinham cometido algum excesso.
Um marco importante foi o dia em que os manifestantes de São
Paulo foram brutalmente reprimidos pela polícia militar. Mas isso não pode ser
dissociado de um fator muito importante: os grandes meios de comunicação,
através de seus editoriais, haviam legitimado a violência policial, incitando,
inclusive, que a polícia deveria reprimir os “baderneiros”. A resposta foi tão
efetiva que sobrou, inclusive, para os trabalhadores de imprensa que tiveram
que lidar com a truculência da polícia paulista naquela noite.
A população, que nunca foi boba, acordou para o grau de
oportunismo e manipulação dos meios de comunicação. O “Fora Globo” foi às ruas,
direcionando os protestos contra esta e outros meios burgueses. Tamanha
hostilização que resultou em carros da Record e SBT queimados, profissionais da
Globo trabalhando “disfarçados”, sem se identificar ( o que já é questionável).
O que o povo acordou também é o quanto estes meios são
ligados ao poder econômico e ainda recebem bilhões de publicidade estatal. Só a
Globo recebeu R$ 5,9 bilhões para veicular publicidade estatal federal – tanto
da administração direta como indireta – se somarmos os últimos 13 anos.
Mas também quero chamar atenção para outro detalhe: esses
meios que tanto criminalizam os movimentos sociais, em especial o MST, que
tratam as marchas e ocupações de ruas, BRs e prédios públicos como vândalos e
baderneiros, agora resolveu diferenciar os manifestantes urbanos? Será que
agora teremos outro patamar de relação entre os meios de comunicação e o
conjunto dos movimentos sociais que lutam e se manifestam?
Penso que seria, no mínimo, coerente com esta milagrosa
mudança de postura dos grandes meios em relação ao conjunto das manifestações.
As manifestações de rua também nos dizem: é preciso
democratizar a comunicação no Brasil. É preciso regular esse setor no nosso
País e o Governo deve ser impulsionador disso. O Ministério das Comunicações
não pode se esconder desta pauta. Tal como a presidenta Dilma, o ministro Paulo
Bernardo também tem que estar atento à voz das ruas.
Liberdade de expressão não é somente para as 11 famílias que
monopolizam o conjunto dos meios. O que a sociedade, com a síntese do “Fora
Globo”, diz é que quer falar, ter a sua liberdade de expressão garantida. E
isso não passa por um setor monopolizado, sem diversidade, pluralidade.
*Valmir Assunção é deputado federal (PT-BA) e vice-líder do
PT na Câmara
**Esse texto foi lido em pronunciamento na Câmara dos
Deputados no dia 26 de junho de 2013
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