Por Bepe Damasco, em seu blog:
O Banco Central é o principal instrumento para a aplicação
das políticas monetárias de um governo. É assim no Brasil e em boa parte do
mundo. E sempre foi objeto do desejo dos mercados. Controlá-lo é a cereja do
bolo neoliberal. Por isso, vire e mexe, vem à tona esta história de Banco
Central independente. Rentista definindo regras monetárias é a mesma coisa que
vampiro tomando conta de banco de sangue.
E nesta semana ocorreu mais uma investida. Chamou a atenção
a forma orquestrada usada para recolocar na ordem do dia o debate da tese do
Banco Central independente. Tudo começou com a entrada em cena do presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) ameaçando votar um projeto de lei neste
sentido de autoria do senador Francisco Dornelles (PP-RJ). Renan alega que,
pelo modelo atual, presidentes e diretores do BC sofrem pressão dos governos.
Na sequência, a Folha de São Paulo faz a sua parte publicando matéria coerente
com o jornalismo com base na manipulação, na mentira e no partidarismo mais
rasteiro praticado na Alameda Barão de Limeira, envolvendo o ex-presidente Lula
numa articulação pró-independência do BC.
Lula desmente em nota publicada no site do seu instituto e
dá declarações duras condenando a proposta de independência do BC. A Folha
primeiro se cala, mas logo em seguida ataca com a cantilena estúpida de tentar
intrigar Lula com Dilma. "Atuação de Lula sobre BC constrange
Planalto", proclama o jornal dos Frias. A mesma matéria dizia que
"dois dos conselheiros do ex-presidente, Henrique Meirelles (ex-presidente
do Banco Central) e Antonio Palocci (ex-ministro da Fazenda ) são adeptos da
proposta de um BC independente." Aqui é importante pôr os pingos nos is :
1) nenhum dos dois têm influência sobre o pensamento econômico de Lula; 2)
Palocci é tido e havido por uma parte dos militantes do Partido dos
Trabalhadores como um petista de alma neoliberal .A outra parte, na qual me
incluo, considera que de petista ele não tem nada.
As bravatas de Renan Calheiros e as mentiras da Folha
envolvendo Lula logo provocaram o mais que previsível efeito manada do PIG em
defesa do BC independente. Em uníssono, articulistas, comentaristas e
"especialistas" pregam o controle do BC por parte do mercado como a
panaceia para a desconfiança dos agentes financeiros.
Fico imaginado (toc...toc...toc...) como funcionaria um
Banco Central independente no Brasil. Ah, independente só dos interesses do
povo brasileiro, que fique bem claro. Não precisa ser economista para cravar
que as taxas de juros seriam arbitradas pela sanha rentista e não pautadas
pelas necessidades de investimento e crédito do setor produtivo. Jamais os
adoradores do Deus Mercado levariam em conta em sua decisões variáveis como
emprego e renda. A política cambial seguiria na mesma linha, orientada não para
facilitar as exportações brasileiras, por exemplo, mas sim para favorecer a
especulação desenfreada dos que levam a vida "sem dar um prego em barra de
sabão."
Louve-se nessa movimentação para entregar o Banco Central
brasileiro aos agiotas, a reação enérgica e patriótica da presidenta Dilma, que
fez chegar ao presidente do Senado e à cúpula do PMDB sua indignação. Renan,
então, recuou e garantiu que este ano o projeto não será votado. Especula-se
que o que ele quer mesmo é ver um correligionário seu, o senador Vital do Rêgo
(PMDB-PB), ministro da Integração Regional. Se for verdade, o caso é ainda mais
grave. O presidente de um poder da República põe em risco a autonomia do país
sobre o seu banco central em nome de um apetite voraz por cargos. Deplorável.
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