Por Eduardo Guimarães – Blog cidadania
De quinta-feira (14) para cá, após a decretação da prisão
dos réus do julgamento mensalão pelo presidente do Supremo Tribunal Federal,
Joaquim Barbosa, a dinâmica dos fatos surpreendeu tanto os que temiam quanto os
que ansiavam pelas cenas de aprisionamento daqueles condenados, que,
supostamente, constituiriam um duro golpe para o PT.
Porém, não é a primeira vez que isso acontece em relação a
um processo judicial que pretendeu ser, na visão dos que o engendraram, o
grande golpe que destruiria eleitoralmente o PT, recolocaria o PSDB no poder e
devolveria aos conglomerados de mídia o poder de indicar ao povo em quem votar,
como conseguiam fazer até 1998.
O ano de 2005 marcou o início de inegável campanha de
grandes conglomerados de mídia contra o PT. Atiraram-se contra o partido e
contra o seu símbolo maior, Lula, com muito mais avidez do que os adversários
declarados deles, PSDB e DEM à frente.
Com a mídia fazendo o trabalho, os partidos de oposição ao
governo federal petista e ao próprio partido desse governo puderam se dar ao
luxo de criticar comedidamente o escândalo do mensalão, deixando a
“indignação”, o “rasgar de camisa” a colunistas amestrados, coincidentemente
todos afinados com a opinião dos patrões.
Até o início de 2006, a certeza de que aquele noticiário
desmoralizante se revelaria devastador para a reeleição do primeiro governo
Lula, era monolítica. A tese de deixá-lo “sangrar” partia do pressuposto de que
com a criminalização não só do PT, mas de seu líder maior, da militância do
partido e até de seus simpatizantes, a volta do PSDB ao poder seria inevitável.
Era apenas o quarto ano do governo Lula, que recebera o país
economicamente devastado, com uma dívida externa de centenas de bilhões de
dólares, sem reservas cambiais, com desemprego e inflação em dois dígitos,
desigualdade em alta, empresas em estado falimentar, dívida pública quase
impagável e com a moeda nacional tendo metade do valor que tem hoje.
Não se pode dizer que em 2006, ao fim dos quatros anos do
primeiro governo Lula, a situação falimentar em que o país estava no início
daquele governo fora revertida. Ainda havia muito desemprego, a pobreza era
extremamente maior do que é hoje, a economia crescia pouco, mas havia percepção
de que as coisas estavam melhorando rapidamente.
Mas, mesmo assim, como seria possível que, mesmo com o povo
sentindo sua vida começando a melhorar, fosse esquecida toda a tragicomédia de
2005 e que prosseguia ao longo do ano eleitoral de 2006, com jornais,
telejornais, rádios, revistas semanais, grandes portais de internet,
empresários, artistas e intelectuais decretando a “falência moral do PT”?
Ninguém acreditava que, com o PT sendo condenado pela mídia
sem apelação e com certa elite criminalizando qualquer um que pensasse
diferente, o partido conseguiria não só reeleger o presidente da República, mas
também, ao longo de todas as eleições seguintes, eleger a sucessora de Lula e
manter a grande bancada que elegeu em 2002.
Veja, no quadro abaixo, a evolução das bancadas dos partidos
na Câmara dos Deputados ao longo das das quatro últimas eleições federais – o
Senado não é comparado porque os mandatos naquela Casa se renovam a cada oito
anos e, assim, ela não ilustra bem o clima político em cada período, apesar de
a bancada petista ter crescido muito, por lá.
O resumo da ópera que o gráfico acima apresenta, é o
seguinte: o PT elegeu 59 deputados federais em 1998, 91 em 2002, 83 em 2006 e
88 em 2010. Pode-se dizer que o efeito “devastador” que se esperava do mensalão
contra o partido, não “rolou”. O que “rolou” foi um efeito – esse, sim,
devastador – para os que deveriam colher os benefícios diretos da pretensa
debacle petista.
Entre 1998 e 2002, PSDB e DEM vieram afundando ano após ano
a despeito de a mídia não só fustigar seu adversário mortal como também
proteger esses partidos dos escândalos que, ocorrendo nas hostes oposicionistas
onde elas eram governo (nos Estados e municípios), eram solenemente minimizados
ou até ignorados por aqueles impérios de comunicação.
Em 1998, enquanto o Brasil quebrava, o PSDB elegeu 99
deputados e o PFL (hoje DEM), por sua vez, elegeu incríveis 105 deputados,
tornando-se, então, a maior legenda da Câmara.
Todavia, o estelionato eleitoral que os dois partidos
praticaram naquele ano – quando reelegeram Fernando Henrique Cardoso prometendo
não desvalorizar o real – lhes custaria muito caro.
Em 2002, o PSDB elegeu 70 deputados e o PFL (DEM), 84; em
2006, quando deveriam colher o benefício da pretensa desmoralização do PT no
âmbito do escândalo do mensalão, um elegeu 66 deputados e o outro, 65. Em 2010,
os tucanos e os demos elegeriam em torno de metade do que haviam conseguido uma
década e pouco antes; o PSDB elegeu 53 deputados e o DEM, trágicos 43.
Como é possível que com toda a mídia criminalizando o PT,
com alguns de seus principais líderes sendo indiciados, julgados e condenados
por corrupção e por outros crimes igualmente desabonadores, o partido se
mantenha tão vigoroso, eleitoralmente?
Antes que alguém se levante e grite “É a economia,
estúpido!”, vale refletir que, de acordo com o que diz a imprensa assumidamente
oposicionista – pois suas associações de classe já declararam, publicamente, que
cabe à imprensa fazer oposição –, a economia brasileira “vai mal”.
Claro que só acredita nisso quem quer. Sim, é a economia que
mantém o PT eleitoralmente forte. Ao longo da era petista, o desemprego foi
exterminado e os salários se tornaram polpudos ao ponto de que, hoje, qualquer
subalterno disputa o consumo de massas com as classes historicamente mais
favorecidas.
Para o povo brasileiro, portanto, a economia, onde lhe
interessa – emprego e renda –, vai muito bem, obrigado, a despeito do que digam
Miriam Leitão, Carlos Alberto Sardemberg e outros pretensos “luminares” do
noticiário econômico. O tal “pibinho” é encarado com ceticismo por uma
sociedade que vem sentindo sua vida melhorar ano após ano.
Mas será só por isso que a sociedade, pelo menos até 2012 –
quando o PT se tornou o partido mais votado do país –, seguiu dando uma banana
para o noticiário, para o STF e para a oposição? Será só pela excelência da
economia brasileira que esse partido segue colhendo sucessivas vitórias
eleitorais?
Quando se vê o noticiário sobre a consumação da vendeta
jurídico-midiática contra o PT, com a prisão de José Dirceu, José Genoino e
tantos outros réus do julgamento do mensalão, percebe-se que o que mantém os
brasileiros “espertos” é a arrogância dessa mídia e desse judiciário em relação
ao povo. Esses poderes discricionários acham que todo mundo é trouxa.
Todos sabem que político, no Brasil, nunca foi parar na
cadeia. Sobretudo políticos de grande estatura, como os dois Josés que ora se
encontram encarcerados. Todos percebem, portanto, que há algo errado. A Justiça
brasileira só puniu, em toda sua história, o PT.
Ora, todos sabem que não há corrupção só no PT. Todos têm
visto escândalos imensos surgindo contra o PSDB e não é de hoje. Todo mundo
sabe que as privatizações foram danosas ao país, razão pela qual os tucanos, a
cada eleição, procuram se desvincular da pecha de privatistas. E todos sabem
quem privatizou de fato o Brasil. E a preço de banana.
Para tentar conferir um ar de lisura ao julgamento de
exceção que, no dizer de grandes e eminentes juristas, condenou réus sem
provas, a mídia tratou a prisão dos “mensaleiros” como início de uma “nova
era”, mas sempre ressalvando que não se deve esperar “milagres”, ou seja, que
os tucanos e demos, hoje atolados em denúncias de corrupção contra seus
governos estaduais e municipais, sejam tratados da mesma forma.
Em verdade, a mídia tenta criar hoje o clima do impeachment
de Fernando Collor, que prometia passar o país a limpo e depois se viu que foi
apenas um ponto fora da curva, como tem sido qualificado o julgamento do
mensalão. Ou alguém acredita que o STF ou qualquer instância da Justiça vá
atuar contra tucanos e demos da forma como atuou contra o PT?
Vale repetir, pois: a teoria da “nova era” de fim da
impunidade após o julgamento do mensalão é uma farsa como o impeachment de
Collor.
Do ano passado para cá, porém, não deu mais para segurar.
PSDB e DEM tiveram suas vísceras expostas como nunca.
Durante o escândalo do Cachoeira, em Goiás, o país viu o
“mosqueteiro da ética” inventado pela revista Veja, o ex-senador Demóstenes
Torres (DEM-GO), assim como o governador tucano Marconi Perillo, ambos de
calças arriadas e se promiscuindo com o bicheiro goiano. Descobriu-se que, ao
longo dos governos tucanos em São Paulo, bilhões de reais foram roubados. E
viu-se como esse roubo tornou infernal o transporte na capital paulista.
Agora, o país vê o que PSDB e DEM operaram na prefeitura de
São Paulo entre 2005 e 2012, ainda que a mídia tente o impossível, ou seja,
convencer as pessoas de que a roubalheira nos governos desses dois partidos é
culpa do PT.
Com tudo isso, as pessoas veem que só quem vai para a cadeia
são petistas. Não há processos ou ao menos acusações da mídia aos figurões do
PSDB, a um Alckmin ou a um Serra, em cujos governos bilhões foram roubados.
A “ética”, pois, já se mostrou um campo de luta política
infrutífero. Tão infrutífero que o marqueteiro que o PSDB contratou para tentar
eleger Aécio Neves – ou José Serra – presidente no ano que vem já deu a dica em
entrevista à Folha de São Paulo, afirmando que fustigar o PT com o mensalão,
com ou sem prisão de Dirceu e Genoino, não irá funcionar.
O que se viu nos últimos dias no país, portanto, não passou
de mais do mesmo, daquele circo todo que se mantém armado desde 2005 e que já
colheu tantos fracassos de bilheteria – em 2006, 2010 e 2012. Foi muito mais
uma vendeta, uma vingança que levantou o moral combalido das hostes
oposicionistas, tanto das assumidas quanto das enrustidas.
2 comentários :
Esse blog deveria se chamar PT noticia e não tabira noticias
Célio, eu respeito a sua posição política para você respeitar a minha. O blog exerce a política e a cidadania e nele eu mostro as minhas preferências. Não sou capacho de ninguém para mudar a minha preferência política. Neste espaço faço um contra-ponto a grande mídia que só enxerga a corrupção de um lado só. Almejo um país sem corrupção, inclusive a corrupção que há na grande mídia.
Antonio Moreira
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