Por Kiko Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
Nunca as fotos de um homem e uma mulher passeando em
Florença geraram tanto barulho. Seriam absolutamente ordinárias se o casal não
fosse formado pelo ex-senador Demóstenes Torres e uma senhora.
As imagens foram publicadas no Blog da Cidadania. Numa boa, Demóstenes
passeia com a loira mais alta que ele olhando as lojas - lambendo vitrines,
como dizem os franceses. Estão ali flanando, como dois turistas. Dois turistas
ricos.
Eles param em frente à Louis Vuitton, na Piazza degli
Strozzi. Estão no coração da cidade. A algumas quadras está o Duomo, a alguns
outros a Basílica de Santa Maria Novella. Stendhal teve uma síncope diante da
beleza florentina, da herança do Renascimento pelas ruas, e escreveu um ensaio
sobre isso. Os sintomas ficaram conhecidos como “Síndrome de Stendhal”.
O senhor calvo e a mulher certamente passaram pela Piazza
della Signoria, a magnífica Piazza della Signoria, onde ficava a sede governo.
É ali que se ergue uma réplica do Davi de Michelangelo. Foi ali que o padre
Savonarola foi queimado e o conspirador Francesco Pazzi enforcado.
Florença, que já foi a cidade mais poderosa do mundo, tem
uma história imensa de dinheiro, política e traição. No século 15, Lourenço de
Medici tinha uma rede de espiões e era implacável com os inimigos. O tirano
esclarecido comandou um império. É também um lugar caríssimo e sofisticado.
Estão lá todas os nomes famosos da moda italiana: Ferragamo, Cavalli, Gucci,
Prada, Enrico Coveri, Emilio Pucci etc.
Demóstenes está torrando uma grana, é evidente. Por quê?
Bem, porque ele pode.
É acusado de participação nos esquemas do bicheiro Carlinhos
Cachoeira. Foi cassado pelo Senado em julho de 2012 por quebra de decoro
parlamentar.
Segundo a Polícia Federal, que deflagrou a Operação Monte
Carlo, recebeu “vantagens indevidas”: viagens em aviões particulares, dinheiro
(R$ 5,1 milhões em diversos pagamentos; um deles de R$ 20 mil em notas de 20
reais), garrafas de bebida e eletrodomésticos.
Está afastado das funções de procurador de Justiça do
Ministério Público de Goiás, mas é membro vitalício do MP. Recebe R$ 25 753 por
mês. Já ganhou, sem trabalhar, perto de R$ 400 mil, apenas aguardando a decisão
do processo (seu advogado, aliás, é o onipresente e onisciente Kakay).
“Não existe animal mais cruel que o homem sem lei”, dizia o
velho Savonarola nos tempos em que organizava sua Fogueira das Vaidades.
0 comentários :
Postar um comentário