Por Renato Rovai, em seu blog:
1- Se a oposição tinha alguma dúvida acerca da saúde e da
disposição de Lula para enfrentar como candidato ou como cabo eleitoral a
disputa deste ano, todas as dúvidas foram sanadas nesta entrevista de 3h30 aos
blogueiros. Ele falou como um Fidel Castro. Fez análises como há muito tempo
não fazia sobre todos os temas. Provocou a oposição, cobrou o PT, defendeu seu
governo e o de Dilma, fez piadas e não teve medo de enfrentar temas polêmicos
como a regulação da mídia. Lula foi Lula em sua melhor forma.
2- Ao sentar na mesa fui avisado pela assessor de imprensa
do Instituto, José Crisphiniano, que faria a primeira pergunta. Imaginei
começar quente perguntando se havia alguma chance de ele ser candidato à
presidência em 2014. E emendar perguntando sua opinião sobre a lei
antiterrorismo. Quando peguei o microfone, Lula me deu um drible da vaca. Pediu
a palavra antes e disse que não era candidato e que sua candidata a presidente
é Dilma. Falou uns cinco minutos sobre o tema, sinalizando que aquela
entrevista não tinha por objetivo a ampliação do “volta Lula”.
3- Lula foi muito menos governista que muitos militantes ao
tratar das manifestações de junho. Disse que é bom que a sociedade se manifeste
e que aprendemos a fazer política fazendo manifestações. “Precisamos aprender a
lidar com isso e tirar lições. Não vi nenhuma reivindicação absurda, mas
pedindo para o estado cumprir sua condição de Estado”, disse. Acrescentando:
“Quantas as vezes a Dilma deve ter carregado faixa com frases como mais saúde,
mais educação?”
4- O presidente foi enfático ao tratar da Lei
Antiterrorismo. “Não acho que o Brasil precise de uma lei antiterrorismo,
porque não temos terrorismo no Brasil. A própria sociedade aprendeu a depurar
que tipo de pessoa vai em prol de uma causa e quem vai fazer baderna.”
5- Ao ser provocado por Altamiro Borges sobre a CPI da
Petrobras, Lula não passou a mão na cabeça do vice-presidente da Câmara, André
Vargas (PT-PR). Ao contrário, foi incisivo ao comentar o fato do possível
envolvimento dele com o doleiro Alberto Youssef . “Espero que ele consiga
provar que não tem nada além da viagem de avião porque no final quem paga o
pato é o PT. E a viagem em si já foi um erro…”
6- O presidente fez um ziguezague para dar uma cutucada em
Eduardo Campos, mas isso pode ser uma demonstração de que na campanha sua
língua pode ficar mais afiada em relação ao ex-governador. “Tenho uma belíssima
relação com o Eduardo Campos, tinha uma bela relação com o Miguel Arraes, avô
dele, sou agradecido a ele pelo que contribuiu com o meu governo e ele deve ser
agradecido a mim pelo que fiz pelo desenvolvimento de Pernambuco. Mas não
entendo por que ele resolveu antecipar um processo que poderia ser natural no
desenvolvimento da aliança com o PT. A Marina entendo, sei de uma parte das divergências
entre as duas, ela e Dilma, quando estavam no governo, mas o Eduardo eu não
compreendo.”
Além disso, Lula afirmou que Eduardo sai da base do governo
para fazer um discurso mais à direita. Ou seja, Marina pode ter um motivo
ideológico para seu rompimento com o governo. No caso de Eduardo, Lula entende
que o buraco é mais embaixo. E isso pode sinalizar que o neto de Arraes vai ter
de se preparar para enfrentar não só Dilma. Mas também o ex-presidente.
7- Lula não usou indiretas para jogar pra cima do PT o
resultado da investigação do mensalão. “Espero que o PT tenha aprendido a lição
do que significou a CPI do Mensalão, que deixou marcas profundas nas entranhas
do PT. Se o PT tivesse feito o debate político no momento certo e não esperasse
uma solução jurídica, talvez a história fosse outra. A imprensa construiu o
resultado desse julgamento.” E chamou a atenção para o fato de que isso teve
relação com as disputas internas, dando a entender de que no caso da CPI da
Petrobras isso poderia acontecer de novo.
8- Sobre a Petrobras, o presidente se mostrou empolgado em
fazer o debate com a oposição. “Bolsa é assim mesmo. Não se pode medir a
Petrobras só pela bolsa, mas pelo conhecimento tecnológico que tem, pela
quantidade de petróleo que existe no pré-sal.” E disse que não se pode comparar
o resultado do valor da Petrobras na bolsa do final do governo dele com o de
Dilma. Que o certo é comparar o do final do governo Dilma com o do de Fernando
Henrique Cardoso.
9- O presidente trouxe o tema da regulação dos meios de
comunicação para a entrevista. Falou mais sobre ele do que foi perguntado. E
soltou entre uma pergunta e outra primeiro essa frase: “Perdemos um tempo
precioso em não fazer a discussão do marco regulatório desse país, espero que
retomemos essa discussão.” E em outro momento disse que seria necessário voltar
a esse debate “não sei se ainda na eleição ou se no próximo governo”.
10- Lula disse que considera a reforma política a mais
importante reforma a ser feita no país. E acrescentou: “estou convencido que
esse Congresso não fará a reforma política. Sou favorável à Constituinte
exclusiva para fazer a reforma política. Não tem outro jeito.” É um sinal de
que isso pode ser um dos temas desta eleição presidencial.
11- Em alguns momentos o presidente voltou a dizer que “a
história do mensalão vai ser recontada nesse país. E se puder, vou ajudar a
contá-la.” Na entrevista com os blogueiros, em 2010, no Palácio do Planalto, já
havia dito algo semelhante. Essa parece ser uma de suas obsessões. Mas ao mesmo
tempo parece também achar que precisa tomar muito cuidado para tratar do tema.
12- Lula deu de presente para a comunicação do governo o
discurso que deveria adotar para tratar da Copa do Mundo. “A Copa do Mundo no
Brasil é o encontro de civilizações causado pelo esporte. É mais do que
dinheiro…” Ou seja, vamos falar mais sobre o que o evento significa para o
Brasil do ponto de vista da sua formação cultural e menos em legado.
13- Lula criticou a mídia tradicional por algumas vezes
durante a entrevista, mas fez questão de ser específico numa delas. Disse que
Pedro Bial foi muito mal educado ao entrevistá-lo no Planalto. Exatamente Pedro
Bial, um dos principais rostos globais. O que isso significa? Pode não
significar nada, mas pode significar muita coisa. O ex-presidente parece estar
absolutamente tranquilo para enfrentar a Globo. E talvez por isso tenha
sinalizado tantas vezes que foi importante ter conquistado a neutralidade na
rede, com o Marco Civil. E que agora é hora de discutir a regulação dos meios
de comunicação.
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