Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
A frustração com o empate da seleção brasileira de futebol
no jogo contra os mexicanos produz todo tipo de reflexão nas edições de
quarta-feira (18/6) dos jornais. Predominam os textos ponderados, que
consideram melhor enfrentar agora as possíveis deficiências da equipe do que
ganhar todas as partidas da primeira fase e ter que encarar eventuais falhas
nas etapas eliminatórias.
Como acontece desde a abertura da Copa, a imprensa segue
impressionada com o espetáculo das torcidas, como se os jornalistas estivessem
sendo apresentados agora ao espírito do futebol. O clima nas ruas contradiz
frontalmente a percepção transmitida pelo noticiário sobre política e economia,
onde parece predominar um estado de sombrio mau humor.
Neste período em que o Brasil mergulhou no clima da Copa, os
indicadores selecionados pela mídia mostram uma economia instável, mas a
avaliação dos números depende basicamente do viés de cada analista. Por
exemplo, aqueles que se opõem à política econômica baseada no fortalecimento do
mercado interno, com o incremento da renda do trabalho, enxergam apenas o
aspecto negativo das planilhas. Para esses, tem pouco valor, por exemplo, o
fato de que caiu em 61% o número de demissões nos últimos dez anos, fator que
torna mais consistente o quadro composto pela maior oferta de empregos formais,
associada ao aumento na renda média dos salários.
A doutrina adotada pela imprensa brasileira é orientada pela
concepção de que o mercado financeiro deve regular as relações econômicas,
mesmo à custa de crises que, evidentemente, acabam por punir os mais
vulneráveis. Portanto, não há hipótese de conciliação entre as duas correntes e
por isso a imprensa irá lutar com todas as possibilidades para tirar do poder
aqueles que optaram por um modelo mais distributivista.
Um estudo conduzido pela Fundação Getúlio Vargas com o TCB –
The Conference Board –, instituição de pesquisas econômicas fundada em 1916
(ver aqui), mostra que é justamente o emprego que mantém o Brasil a salvo de
uma recessão. Num cenário de grande volatilidade, os demais indicadores sofrem
mais influência das expectativas pessimistas amplificadas pela imprensa.
Uma questão de poder
O leitor curioso irá perguntar: mas a política de incremento
da renda do trabalho não estaria beneficiando a imprensa, ao estimular o
consumo e, portanto, fortalecer o mercado interno? Afinal, os jornais não tiram
seu sustento da publicidade, que vive do consumo?
Essa é uma questão central na análise do noticiário.
Realmente, em muitas de suas pautas, a mídia tradicional parece
estar agindo contra seus próprios interesses de negócio, o que seria até motivo
de admiração, não fosse o aspecto paralelo dessa aparente contradição: o poder.
Tradicionalmente, aquilo a que chamamos de imprensa sempre constituiu uma forma
paralela do poder institucional, instrumentalizando aquela nuvem de suposições
chamada de “opinião pública” como forma de pressão sobre os poderes
republicanos. Com esse potencial de influência, as empresas de comunicação
sempre terão meios para aliar o poder político ao lucro.
Sem o condão de definir os rumos da economia, a imprensa vê
crescer o protagonismo dos cidadãos e se perturba com a possibilidade de o
poder político passar a ser compartilhado com a sociedade. Não é por outra
razão que os jornais se desesperam com o decreto que propõe organizar e dar
mais eficiência aos conselhos consultivos, assim como sofrem espasmos quando se
fala em regulamentação da mídia.
Os dois temas são abordados em editoriais, na quarta-feira
(18/6), pelo Estado de S.Paulo e O Globo. O Sistema Nacional de Participação
Social soa, nas redações, como uma aberração, embora os conselhos, criados em
1931, estejam esperando a regulamentação desde a Constituinte de 1988.
Vemos, então, a imprensa em seu labirinto: para sobreviver
no ambiente que se consolida com as tecnologias digitais de informação e
comunicação, seus negócios precisam se adaptar ao intenso protagonismo
individual que define a sociedade contemporânea. Mas para manter sua influência
sobre as antigas instituições públicas, a imprensa precisa se opor à
consolidação de novas formas de participação da sociedade nas decisões
coletivas.
Essas são as raízes do ódio que escorre dos jornais.
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