A Copa do Mundo não completou uma semana e já é possível
perceber um novo fiasco histórico dos profetas do caos. Os aeroportos não
ficaram um inferno nem os voos atrasaram - na média, o número de atrasos e
cancelamentos é um dos melhores do mundo.
Os estádios estão aí, alegrando visitantes e torcedores. Os
números de gols mostram matematicamente que esta pode ser uma das melhores
Copas de todos os tempos.
O transito não está melhor nem pior.
Os problemas reais do Brasil seguem do mesmo tamanho e
aguardam solução.
Não custa lembrar, também, que nenhum país está livre de um
acidente horrível nos próximos 15 minutos.
Mesmo assim, o clima do país mudou. Já consegue viver uma
experiência que se anunciava como tragédia: hospedar uma Copa do Mundo.
O desagradável é que essa situação podia ser percebida em
fevereiro.
Foi então que, em companhia do repórter Claudio Dantas
Sequeira, entrevistei Aldo Rebelo para a IstoÉ. Perguntamos ao ministro sobre a
ameaça de caos que todos associavam a Copa. Aldo respondeu:
“A experiência mostra que em eventos desse porte há, em
primeiro lugar, uma grande permuta entre viajantes e passageiros. Muita gente
está chegando à cidade-sede, mas muita gente está saindo. As empresas de evento
não fazem feiras nem seminários nessa época. O passageiro tradicional, que
visita parente, que viaja a negócios, para ir a um museu, também não viaja.”
Antecipando uma situação que hoje se verifica em voos com
menos passageiros do que se anunciava, o ministro disse: “Em Londres, durante a
Olimpíada, havia menos gente na cidade durante os jogos olímpicos do que em
dias normais. “
Aldo prosseguiu: “Quem não gostava de esporte não foi para
Londres naquele período, mas para Budapeste, para Praga, para Madri. Já sabemos
que algumas cidades brasileiras terão menos visitantes do que em outras épocas
do ano. No Rio de Janeiro, não haverá o mesmo número de visitantes que a cidade
recebe durante o Carnaval. Em Salvador também não.”
Em maio, em entrevista ao TV Brasil, Aldo Rebelo apresentou
argumentos semelhantes. Mostrou a falácia em torno dos gastos excessivos com a
Copa. Fez comparações didáticas. É um depoimento esclarecedor, que você pode
ler no link
http://www.tvbrasil.ebc.com.br/espacopublico/episodio/espaco-publico-entrevista-o-ministro-do-esporte-aldo-rebelo
O espantoso é reparar que muitas pessoas trataram estes
depoimentos - e outros que tinham o mesmo conteúdo - como exemplo de jornalismo
sem valor, chapa-branca.
A realidade - em poucas semanas - encarregou-se de mostrar
seu caráter informativo e, com perdão do autoelogio, esclarecedor.
Nelson Rodrigues diagnosticou um mal cultural do brasileiro,
o complexo de vira-lata. É certo que este olhar autodepreciativo contribui para
embaçar uma visão mais realista da realidade. Ainda mais quando há um
interesse, nem sempre oculto, a partir de forças nem um pouco ocultas, como
você sabe, de criar um ambiente de medo, desconfiança e derrota.
Mas ouso sugerir uma segunda abordagem à doença, talvez mais
atual. Após anos sem tratamento adequado, sem remédios e sem terapia, os
sintomas iniciais de sub-raça se desenvolveram e tomaram conta dos pacientes.
Eles adquiriram uma nova personalidade. Deixaram de temer as
próprias fraquezas. Estão convencidos de que condição inferior é sua verdadeira
natureza – o que talvez explique a cafajestada, abaixo de qualquer diagnóstico
médico, na Arena Corinthiana, tratada com muita naturalidade até que a reação
de homens e mulheres comprometidos com valores democráticos.
Não é difícil entender por que, até agora, não conseguem
enxergar o que se passa na Copa.
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