Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
Aproveitando que o Datafolha publicou a íntegra do relatório
de sua pesquisa para presidente da República, arrisco uma análise de alguns
gráficos.
Comecemos pela espontânea. Para quem não se lembra, pesquisa
espontânea é aquela em que o entrevistador pede ao eleitor para falar quem é
seu candidato, sem lhe apontar nenhum nome.
Neste quesito, Dilma ganharia, de longe, no primeiro turno,
porque os seus 22% são bem maiores que os 11% de Aécio e Campos. Os nanicos
desaparecem na espontânea.
Até Lula aparece apenas com 1%, e não o incluí, por razões
óbvias, no somatório da oposição.
O 1% de Lula mostra que o eleitor está bem informado quanto
ao fato do ex-presidente não ser candidato este ano.
Continuo depois do gráfico.
Há uma diferença grande de gênero, tanto para Dilma quanto
para Aécio. Ambos são mais fortes entre os homens. Pelo que apurei, e
confirmei, em pesquisas e eleições anteriores, a tendência é de um voto
equilibrado entre homens e mulheres. E a tendência é apontada pelos homens, não
porque as mulheres sejam influenciadas (até são, mas não é disso que estou
falando) pelo voto masculino, mas porque a tendência é o voto se organizar, mais
ou menos, pela classe social, pelo padrão de vida e pela região onde vive o
eleitor. E, nesse quesito, a quantidade de homens e mulheres é a mesma.
Esse cálculo beneficia Dilma, porque ela tem 27% dos votos
espontâneos masculinos. Aécio tem 12%, Campos, 3%.
Marina nem sequer pontua na pesquisa espontânea, o que põe
em questão se a sua figura é eleitoralmente tão importante quanto se dizia há
algum tempo.
Dilma tem bastante força num eleitorado tradicionalmente
conservador e de ideias firmes: os cidadãos com mais de 60 anos. É um
eleitorado difícil de conquistar, mas depois que se conquista, ele apresenta
bastante fidelidade. Neste segmento, Dilma faz sua melhor pontuação espontânea:
26%.
Interessante notar ainda que o problema principal de Dilma
está localizado nas famílias com renda mensal entre 5 e 10 salários; neste
segmento, ela marcou apenas 16 pontos, contra 18 de Aécio Neves. Quando se sobe
a faixa de renda, contudo, para famílias com renda superior a 10 salários, a
petista registra 25 pontos, sua melhor marca espontânea, contra 26 de Aécio.
Agora, vamos analisar as respostas estimuladas, quando o
pesquisador apresenta os nomes dos candidatos.
Primeiramente, vejamos por região. Eu simplifiquei as
tabelas do Datafolha.
Confira essa, abaixo, do voto em Dilma por região. Observe
que Dilma se manteve estável no Sudeste (28%), cresceu 3 pontos no Sul, cresceu
2 pontos no Norte, mas perdeu 6 pontos (!) no Nordeste, e mais 3 pontos no
Centro-Oeste.
Agora vejamos a tabela por gênero. Observe que Dilma tem se
mantido estável junto ao eleitorado masculino. Até ganhou um pontinho na última
pesquisa. Isso é positivo, porque, conforme disse acima, aponta uma tendência
geral.
Aécio, por sua vez, perdeu 1 ponto junto ao eleitorado masculino,
caindo de 24 para 23 pontos, e se manteve estagnado em 17 pontos junto às
mulheres.
Campos tem perdido terreno. Tinha 11 pontos entre os homens,
no início de julho, e agora tem 9. Entre as mulheres, o declínio do
pernambucano tem sido ainda maior: saiu de 10 pontos em maio, caiu para 6
pontos em junho, ganhou dois pontinhos no início de julho, e agora tem apenas 7
pontos.
Todos os dados sinalizam para uma eleição polarizada. Campos
dançou.
Outra tabela interessante é a que segmenta os votos por
escolaridade. Dilma conseguiu interromper a clivagem classista crescente e
voltou a subir entre os mais escolarizados.
Em abril, ela tinha apenas 22 pontos entre os eleitores com
ensino superior; agora tem 27, e ganhou 2 pontos nas duas últimas semanas.
Aécio e Campos perderam pontos do início de julho para hoje: o tucano perdeu 4
pontos, o socialista, 2 pontos.
Aécio Neves conseguiu a proeza de perder 4 pontos junto a
seu eleitorado mais forte: as famílias com renda superior a 10 salários. No
início de julho, ele tinha 39%, agora tem 35%. Campos também perdeu nesse
segmento: saiu de 13 para 10 pontos. Com isso, os votos somados de Aécio e
Campos, junto aos mais ricos, somam 45 pontos, contra 28% de Dilma. Uma
diferença de 17 pontos. Há duas semanas, os dois tinham 52 pontos, contra 30 de
Dilma. Diferença de 22 pontos.
O marketing de Eduardo Campos, pelo jeito, fracassou
miseravelmente numa coisa básica: torná-lo mais conhecido. Ao privilegiar
apenas os ambientes “vip”, ele ficou ainda mais desconhecido do que era
anteriormente.
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