terça-feira, 21 de abril de 2015

Luciano Siqueira aos amigos Marcão, Manoel Santos e Pedro Eugênio

 

Três combatentes que se foram no curto espaço de dez dias. Em comum, a crença de que um mundo de igualdade e justiça é possível e a determinação de lutar sempre. Lutadores da minha geração, ocupando distintas trincheiras.

Por Luciano Siqueira, no Blog da Folha 



Folhape
Luciano Siquira lamenta a morte de três companheiros de luta em um espaço de 10 dias. Luciano Siquira lamenta a morte de três companheiros de luta em um espaço de 10 dias. 
Meus amigos.

Marcão, desde os idos de sessenta, quando atuou no movimento estudantil ao lado de minha companheira Luci, Tadeu Lira, Roberto Franca e muitos outros. 

Pedro, desde que na minha primeira eleição para deputado estadual, ele então professor da Universidade Federal de Pernambuco, ajudou a campanha de muitas formas – inclusive conduzindo “pirulitos” no grande comício pró-Marcos Freire e Cid Sampaio, no Largo de Casa Amarela.



Com Manoel construí aos poucos e por curto período uma daquelas amizades que a gente faz a partir da luta pelo mesmo ideal. Tenho comigo isso: gosto das pessoas pelo bem que fazem – unilateralmente, sem pedir licença nem retribuição. Na Assembleia Legislativa, ele deputado pelo PT e eu pelo PCdoB, nos aproximamos mais. Já na posse eu me apresentei a ele como soldado à disposição a luta dos trabalhadores rurais. 

Com Marcão e Pedro o diálogo foi mais intenso e mais frequente e percorreu várias fases de nossas vidas. Com uma boa dose de confidências.

Pedro e Manoel se destacaram como parlamentares de luta, compromissos sólidos, competência e combatividade.

Marcão foi capaz de gestos de ousadia e desprendimento ao longo de quarenta e oito anos de militância comunista. Atuou na clandestinidade. Universitário, converte-se em operário de fábrica para fugir à repressão e se ligar aos trabalhadores, em Fortaleza. Juntou-se aos que reorganizaram o PCdoB em Pernambuco no final dos anos setenta, após pesadas quedas sob a ofensiva da repressão policial. Há alguns anos, ocupou uma trincheira muito própria – a da literatura – onde interpretou o modo de ser, de lutar, de amar, de sofrer e de viver da gente simples do Recife e de outros lugares. Tornou-se o premiado escritor Marco Albertim.

Ontem, no velório de Manoel, à semelhança do velório de Marcão, os amigos me falavam da morte. Delicadamente inverti o diálogo: prefiro falar da vida. Desta curta vida de todos nós, que é preciso vivê-la intensamente – para que a aurora de cada dia nos anuncie uma verdade absoluta e inquestionável: quem luta a vida inteira viverá sempre.

Marcão, Manoel e Pedro Eugênio – combatentes de toda uma vida – estarão para sempre entre nós e inspirarão novas gerações.

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