Por Tereza Cruvinel, em seu blog:
A
cada dia fica mais difícil entender algumas coisas que estão
acontecendo no Brasil. Ou faltam partes do enredo ou estamos vivendo
mesmo uma anomia, um surto inquisitorial ou um “clima de perseguição”,
como disse o publicitário João Santana ao largar uma campanha
presidencial na República Dominicana para voltar ao Brasil e ser preso,
embora tenha tentado prestar depoimento antes.
Nesta
Operação Acarajé, a 23ª conduzida pela força tarefa da Lava Jato,
existe um texto e um sub-texto. O texto que chega ao senso comum diz o
seguinte: vai ser preso o marqueteiro que o PT pagou com propinas do
Petrolão. Mas o exame do sub-texto conta as coisa de modo diferente:
Santana é suspeito de receber recursos ilegais mas isso não tem conexão
com as campanhas petistas. Pelo menos até agora, foi o que disse a PF.
Não
é fácil compreender a decretação da prisão preventiva de alguém que na
semana passada ofereceu-se para prestar depoimento e esclarecer dúvidas e
suspeitas, como fez Santana. Mas o juiz Sergio Moro não quis, e ainda
negou aos advogados do publicitário acesso ao processo em que ele figura
como suspeito. Claro, que graça haveria na notícia de que Santana, como
bom cidadão, compareceu espontaneamente para prestar esclarecimentos à
Justiça? Navegar é preciso, e a Lava Jato navega no espetáculo. Não
poderia perder o efeito da fotografia em que o “marqueteiro do PT”
aparecerá preso e sendo levado para Curitiba.
Aliás, nestes
tempos interessantes, os acusados importantes têm seus nomes alterados
numa metonímia que atende aos objetivos desejados. O empresário Bumlai
já protestou contra o fato de ter sido rebatizado de “amigo do Lula” no
noticiário. “Eu tenho nome”, disse ao depor numa CPI no final do ano
passado. Assim também João Santana, que já teve e tem tantos outros
clientes, foi carimbado como “marqueteiro do PT”.
É difícil
também compreender por que só agora a Lava Jato saiu no encalço de
Santana, se já faz um ano que a Polícia Federal descobriu um bilhete de
sua mulher Mônica sobre pagamentos no exterior que embasou as suspeitas e
investigações posteriores. Mas por que não antes? Não é por temer a
ação de suspeitos que a Lava Jato usa e abusa das preventivas?
Parlamentares do PT enxergam uma coincidência entre a iminente prisão de
Santana, logo que ele chegar ao Brasil, e a proximidade do julgamento,
pelo TSE, da ação de impugnação de mandato eletivo (AIME) em que o PSDB
pede a cassação dos mandatos de Dilma e Temer e a posse do senador
Aécio. Isso dá para entender. Se ficar provado que Santana foi pago com
recursos que eram na verdade propina, o jogo estará feito no TSE e o
ministro Gilmar fará o gol da sua vida.
Mesmo assim, continua
sendo difícil entender. A Polícia Federal declarou textualmente que, em
relação aos pagamentos feitos pelas campanhas de Lula, Haddad e Dilma
"não há, e isso deve ser ressaltado, indícios de que tais pagamentos
estejam revestidos de ilegalidades". Ora que interesse. Mas Santana
trabalha para o PT, e a conexão está feita. Não fosse o vínculo, será
que suas finanças despertariam algum interesse? Você duvida? Eu também.
Mais
espantoso foi o anúncio de que a Odebrecht pode ter “construído” o
prédio do Instituto Lula. Centenas, talvez milhares de pessoas já
estiveram no casarão antigo da rua Pouso Alegre, no Ipiranga, desde que
lá foi implantado, em 1991, o IPET e depois seu sucessor, o Instituto da
Cidadania, antecessor do Instituto Lula. Mas estamos na temporada de
caça a Lula e toda notícia desta natureza, mesmo que depois
desmoralizada pelos fatos, ajuda a matar o mito.
Mas o que não
entendo mesmo é a eternidade da Lava Jato, se tão claro está que,
enquanto ela durar, nem o governo vai governar nem a economia vai se
recuperar. Mas quem se habilitará a negociar com Sergio Moro um limite
temporal antes que o país derreta? O STF já deu mostras de que não fará
isso.
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