“As pessoas ainda
estão sofrendo as consequências da primeira pandemia. É como se uma estivesse
emendada na outra”, diz Bruno Kesseler, presidente da Cufa DF.
por Mariana Branco
Publicado 11/12/2020 16:56 | Editado 11/12/2020 17:15
Desde o início da
pandemia do novo coronavírus, as periferias foram mais cruelmente atingidas
pela situação. Tanto pela geografia e arquitetura, que dificultam o
distanciamento social, quanto pelo fato de os moradores exercerem ocupações que
de alguma forma os deixaram vulneráveis na situação de emergência. Isso inclui
desde pessoas que perderam o ganha-pão, como domésticas ou vendedores
autônomos, até trabalhadores que atuam em áreas essenciais que nunca pararam,
como supermercados e transporte público. Estes conviveram com o medo de levar a
doença para casa.
A chegada da
segunda onda de contágio (ou repique da primeira, a depender da análise e do
especialista), assim como o fim do auxílio emergencial a partir de janeiro trazem
novos desafios à população dessas áreas, que, diante da ineficiência do Estado
no auge da crise sanitária, recorreram de maneira intensa à autogestão. São pessoas como a
vendedora Joice Nunes Ferreira, de 29 anos.
Mãe de três filhos
e moradora da Cidade Estrutural, uma das mais famosas favelas de Brasília,
Joice fazia trufas em casa para vender quando a pandemia chegou em março. Ela
havia sido demitida do emprego em uma hamburgueria no final de 2019 e os
bombons foram a alternativa que encontrou para continuar sustentando a casa. O
marido estava em uma situação semelhante.
Com experiência
como pasteleiro, há algum tempo não conseguia emprego com carteira assinada.
Então, começou a dar aulas de bateria em casa. Com a emergência sanitária,
tanto a produção das trufas de Joice quanto as aulas de bateria do marido
tiveram de ser suspensas. Segundo ela, o casal passou por enormes dificuldades
entre março e junho, antes de conseguir o auxílio emergencial.
“Só foi aprovado em
21 de junho. A gente passou muito apertado. Sobrevivemos de doações, cestas”,
conta a vendedora autônoma, que, aos poucos, foi retomando a produção das trufas
com a flexibilização das regras sanitárias. “Estou conseguindo vender. Vendo
onde dá, pelo celular, saio na rua com meu filho, aceito encomenda”, relata. A
situação, no entanto, continua difícil.
Joice Nunes Ferreira é moradora da
Cidade Estrutural – Foto: Arquivo Pessoal
O marido ainda não
pode retomar suas aulas e a redução no valor do auxílio, de R$ 600 para R$ 300,
fez muita diferença, principalmente diante da aceleração da inflação.
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