sábado, 12 de dezembro de 2020

Impactos da segunda onda e fim do auxílio recairão sobre periferias

 


“As pessoas ainda estão sofrendo as consequências da primeira pandemia. É como se uma estivesse emendada na outra”, diz Bruno Kesseler, presidente da Cufa DF.

por Mariana Branco

Publicado 11/12/2020 16:56 | Editado 11/12/2020 17:15

 

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, as periferias foram mais cruelmente atingidas pela situação. Tanto pela geografia e arquitetura, que dificultam o distanciamento social, quanto pelo fato de os moradores exercerem ocupações que de alguma forma os deixaram vulneráveis na situação de emergência. Isso inclui desde pessoas que perderam o ganha-pão, como domésticas ou vendedores autônomos, até trabalhadores que atuam em áreas essenciais que nunca pararam, como supermercados e transporte público. Estes conviveram com o medo de levar a doença para casa.

A chegada da segunda onda de contágio (ou repique da primeira, a depender da análise e do especialista), assim como o fim do auxílio emergencial a partir de janeiro trazem novos desafios à população dessas áreas, que, diante da ineficiência do Estado no auge da crise sanitária, recorreram de maneira intensa à autogestão. São pessoas como a vendedora Joice Nunes Ferreira, de 29 anos.

Mãe de três filhos e moradora da Cidade Estrutural, uma das mais famosas favelas de Brasília, Joice fazia trufas em casa para vender quando a pandemia chegou em março. Ela havia sido demitida do emprego em uma hamburgueria no final de 2019 e os bombons foram a alternativa que encontrou para continuar sustentando a casa. O marido estava em uma situação semelhante.

Com experiência como pasteleiro, há algum tempo não conseguia emprego com carteira assinada. Então, começou a dar aulas de bateria em casa. Com a emergência sanitária, tanto a produção das trufas de Joice quanto as aulas de bateria do marido tiveram de ser suspensas. Segundo ela, o casal passou por enormes dificuldades entre março e junho, antes de conseguir o auxílio emergencial.

“Só foi aprovado em 21 de junho. A gente passou muito apertado. Sobrevivemos de doações, cestas”, conta a vendedora autônoma, que, aos poucos, foi retomando a produção das trufas com a flexibilização das regras sanitárias. “Estou conseguindo vender. Vendo onde dá, pelo celular, saio na rua com meu filho, aceito encomenda”, relata. A situação, no entanto, continua difícil.

Joice Nunes Ferreira é moradora da Cidade Estrutural – Foto: Arquivo Pessoal

O marido ainda não pode retomar suas aulas e a redução no valor do auxílio, de R$ 600 para R$ 300, fez muita diferença, principalmente diante da aceleração da inflação.

 

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