segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

PRIMEIRA FORMAÇÃO DA EREFEM ARNALDO ALVES CAVALCANTI (DESAFIOS PARA A FORMAÇÃO HUMANA INTEGRAL)

 

              

                

No dia 13 de janeiro de 2021, na Escola Arnaldo Alves Cavalcanti, a Equipe Gestora, tendo a frente Solange Morato, promoveu com a professora Maria José, que faz parte da Coordenação Geral de Formação Integral da GRE (Afogados da Ingazeira) a primeira formação dos profissionais que implantarão o programa de educação integral na referida escola neste ano de 2021. A formação foi rica em debates, mas consideramos que algumas opiniões e temas levantados e defendidos pelos colegas docentes da referida instituição carecem de mais reflexão,  aprofundamento e respostas. Não temos a pretensão de responder os questionamentos, conceitos e opiniões de forma definitiva, até porque o conhecimento é infinito, mas vamos propor algumas questões inspiradas no encontro e procurar apresentar algumas respostas como contribuição para futuros debates e formações.

Nesse sentido consideramos importante refletir sobre o seguinte: Como se conquistou as escolas de tempo integral? O pragmatismo docente tem relação com a educação bancária?  É possível separar o professor do educador? Qual é o significado da vida e da riqueza?  As  escolhas que fazemos são independentes das oportunidades que temos? Como estimular e proporcionar aos discentes o acesso ao poder?  É possível formar um ser humano integral, conquistar a cidadania e os direitos humanos no capitalismo? As questões levantadas dão conta dos enormes desafios que se apresentam no primeiro dia de formação. Cada uma delas pode equivaler a uma tese. Por isso esse artigo, não tem a pretensão de encerrar o debate, apenas inicia a problematização. Mas, apesar de  considerarmos que, além de ser preciso ter objetivo e ter ideal para enfrentar tantos problemas, acreditamos que o coletivo da nossa escola fará a sua parte, ou seja, vai dar a sua contribuição para a formação humana integral.

A promoção e o  acesso à escola pública e  integral no Brasil é uma conquista das lutas promovidas pelos sindicatos de professores e pelo movimento estudantil, ao lado do movimento social. É um avanço da nossa democracia, no geral defendidas e implementada por governantes progressistas,  ligados a partidos de esquerda, como o PDT, o PT, o PC do B e o PSB , etc.  A implantação da escola de tempo integral em Pernambuco, por exemplo, se deve ao governador Eduardo Campos, do PSB em 2007-2008.  Os partidos de direita, liberais e neoliberais, MDB, DEM, PSDB, PSL, entre outros, historicamente nunca tiveram, como prioridade, a educação pública integral e de qualidade. Essas correntes liberais e conservadoras no comando do país,  dos Estados e dos municípios, no geral, servem ao “deus mercado”, ao lucro e ao capital finananceiro e não ao interesse público. Esses grupos, de vieses ideológicos muito semelhantes,  como comandaram o país nas três esferas de poder a maior parte do tempo em nossa história, são os principais responsáveis pelo que MEDEIROS, (2015) escreveu no artigo, “Todos os motivos do mundo” para viajarmos para Marte. Eles  produziram em nosso país a prática da corrupção, pagam mal aos professores, distribuem pouco a renda, deixam aumentar o custo de vida, defendem a educação privada, em detrimento da educação pública etc. No caso da extrema direita, viés ideológico produzido pelos conservadores, ela promove fanáticos religiosos, ataca a democracia, retira direitos sociais e despreza a Ciência e a vida, a exemplo do Governo Federal de extrema direita atual, de viés liberal na economia e autoritário na política.       

            Segundo a filosofia do programa de escola integral esse modelo “fundamenta-se na concepção da educação interdimensional, como espaço privilegiado do exercício da cidadania e o protagonismo juvenil como estratégia imprescindível para a formação do jovem autônomo, competente, solidário e produtivo. Desse modo, ao concluir o ensino médio nas escolas de Educação Integral, o jovem estará mais qualificado para a continuidade da vida acadêmica, da formação profissional ou para o mundo do trabalho”.

Essa Filosofia da escola de tempo intergral nos faz refletir sobre o pragmatismo docente, problema surgido no debate da formação na escola, que definimos aqui como a ideia de que a educação deve ter resultado práticos imediatos, como por exemplo, preparar o jovem para o mercado de trabalho, negligenciando ou descartando a formação humana integral. Essa concepção de educação tem relação com a educação bancária que considera o estudante como mero receptor e reprodutor de contúdos. Nesse sentido a constatação da professora Elvira Fernanda no encontro de que  “nos preocupamos mais com os conteúdos do que com a formação integral”, faz sentido, pois essa preocupação está muito presente em nossas práticas pedagógicas.    

Essa educação bancária, citada no parágrafo anterior, produz equívocos, como por exemplo: tentar  separar o professor do educador. Essse problema, surgido  também na formação,  faz uma certa defesa de que a educação humana, voltada para volores, seria responsabilidade exclusiva dos pais. Mas é importante ressaltar que  pelo menos uma parte dessa formação humana, fica sob a responsabilidade do docente e da escola,  mais ainda com o ensino integral. Passamos muito tempo com os nossos alunos para ficarmos presos só a conteúdos desligados da vida real. Para a escola oferecer uma formação humana integral não pode haver essa  separação. Isso tem relação com a suposta neutralidade docente,  como bem nos ensinava Paulo Freire. Todos nós temos “uma visão de mundo” e a partir do nosso planejamento, da medologia de ensino, dos  critérios de avaliação, nós apresentamos, mesmo sem alguns perceberem, os objetivos que queremos para o nosso aluno e para o nosso mundo. Por isso é importante refletir e responder o questionamento da professora, responsável pela nossa formação, Maria José, “Em que mundo eu quero viver”?  Todos nós somos professores e educadores ao mesmo tempo. Infelizmente, na prática pedagógica, por exemplo, podemos também ser deseducadores. O autoritarismo, a rotulação depreciativa, a perseguição ao aluno, a competição negativa, o individualismo etc. Contribuem para a deseducação dos nossos alunos. A nossa prática  pode estimular, inspirar e ensinar valores positivos ou antivalores. O amor, a solidariedade, a empatia, a liberdade, a democracia, a tolerância, a resiliência etc. Podem ser substituídos pelos seus antônimos em nossa prática. Um mundo sustentável, justo e fraterno necessita de um professor progressista e democrático. Necessita de um(a)  docente que dissemine e  sensibilize os alunos para praticarem os volores humanos.  Portanto é falsa a ideia que tenta separar o professor do educador.            

A professora Maria José, (GRE) nos auxilia nesse debate quando afirma: “os valores que a gente ensina estão ralacionados com a nossa prática pedagógica”. Nesse sentido é bom todos nós professores fazermos uma reflexão e uma autoavaliação sobre a nossa prática pedagógica e sobre os valores que ensinamos em sala – de - aula. A prática não é o critério da verdade?  Um exemplo não vale mais do que mil palavras? A teoria não deve estár associada à prática? 

Nesse sentido para ampliarmos o campo conceitual sobre a complexa tarefa de educar duas questões levantadas no encontro carecem de respostas: O que é a vida e o que é a riqueza para você? Cabe aqui algumas respostas que ajudam no debate. A educadora Lourdes Cesário respondeu no encontro: “riqueza é a junção de tudo aquilo que nos faz bem e que é necessário para vivermos com dignidade”. Observem que o conceito de riqueza para essa educadora é muito mais abrangente do que a quantidade de bens materiais que cada um consegue acumular.

A professora Márcia Feitosa respondendo sobre o signifcado da vida disse que na sociedade capitalista “algumas vidas valem mais do que outras”. Para confirmar tal afirmativa ela cita o caso das crianças pobres que não têm as mesmas oportunidades nem os mesmos direitos garantidos nessa sociedade, como as crianças mais abastadas e ricas. Respondendo a esse questionamento a Professora Adelma defende que “todos devem ser tratados iguais”.

            Se a vida é o mais básico e universal dos valores, cabe aqui lembrar uma frase bíblica de (João 1010): “ Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. Isso quer dizer que para um bom cristão é inadimissível haver desigualdade social e miséria. Todo antivalor ou situação que contrarie a “abundância” é produto da ignorância e da deseducação.   

Ainda sobre os valores a professora Josefakele alfineta o modelo de sociedade que nós temos dizendo que em nossa sociedade o capital, o lucro e o ter desprezam os valores humanos. Para ela o capital ensina ilusão passando a ideia de que quanto mais você tem mais você é feliz.  Ela  fez uma constatação muito importante no encontro em relação a nossa prática docente, dizendo que exercitamos muito pouco a dialética. Para ela esse problema tem relação com as nossas dificuldades na implementação de uma formação integral. A autossuficiência e o individualismo docente concorrem para isso. Concordamos plenamente com ela, pois a “gente só dar o que tem”. A pouca vivência e experiência no exercício docente da dialética nos limita e nos coloca cada um no seu “gueto”, como se as disciplinas existissem de forma isoladas. Essa separação tem origem na estrategia ideológica burguesa ao instituir a escola pública: “dividir para reinar.  Para dialética a parte está ligada ao todo, portanto não é possível formar o ser humano de forma integral ensinando de forma isolada. Nesse sentido, além da necessidade de contexturalizar-mos os conteúdos, uma disciplina para ser bem ensinada precisa das outras, o que chamamos de interdisciplinalidade. Cada vez mais, vivenciando o contraditório, torna-se necessário o diálogo frequente, fraterno e respeitoso entre as disciplinas. 

 

Na conclusão do artigo três questões discutidas no referido encontro precisam também da nossa reflexão. A primeira é  como estimular e proporcionar aos discentes o acesso ao poder? A segunda questão que carece de resposta é: As  escolhas que fazemos são independentes das oportunidades que temos? E a terceira questão. É possível formar um ser humano integral, conquistar a cidadania e os direitos humanos no capitalismo?

Percebe-se que as três questões, apesar de terem relação, não são pouca coisa. Inicialmente para dar conta da primeira questão sobre ensinar o exercício do poder para nosso aluno, nós precismos de uma educação profundamente democrática. É na sala de aula  onde começa o exercício da cidadania e a vivência prática da democracia. A eleição do representante de turma, o estímulo a particiapação dos estudantes no Grêmio Estudantil e a CONSTRUÇÃO COLETIVA de um “contrato didático”, ajudam nesse objetivo. Precisamos ensinar a importância do poder e da cidadania desde cedo.

A segunda questão apresentada na reunião em forma de opinião abordava-se a questãos da oferta de vagas no ENEM sempre maior do que a procura. Para alguns docentes o problema maior está na “falta de norte” ou mesmo de escolhas do nosso aluno nesse período. É verdade que muitos alunos não sabem ainda fazer a própria escolha do curso, da profissão ou deixam passar a oportunidade de fazer o próprio ENEM. É uma falha também da  educação geral do discente. Mas é bom que se diga que o próprio ENEM, SSA, SISU, entre outros, são programas de governos. As ofertas das nossas oportunidades estão diretamente ligadas ao tipo de governo e de Estado que tivemos ou temos. No caso do Brasil foram criados ou ampliados no Governo Lula. Clareando a questão: foi preciso um governo de esquerda no país que tomasse uma decisão política para implantar ou ampliar esses programas educacionais.

Por fim, para responder se é  possível formar um ser humano integral, conquistar a cidadania e os direitos humanos no capitalismo, nós retomamos a professora Josefakele quando ela disse que o capitalismo vende ilusão e massacra os valores humanos. Nesse sentido, concordamos plenamente com ela,  a  nossa resposta é não. Para proporcionar aos nossos alunos, a formação integral não é possível no capitalismo, principalmente se defendemos a ideia que essa formação deve ser para todos. As próprias competências da BNCC sugerem que precisamos de um outro tipo de sociedade, de uma outra escola, de uma outra família, de um outro Estado (governo) de um outro docente. As 10 responsabilidades sobre cidadania, entre elas, “Tomar decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários” contrastam com os princípios capitalistas, lucro, mercado e individualismo. A essência do modo de produção capitalista é irracional e predatória.   Mas é bom afirmar que a luta e as conquistas dessas competências, ainda que parciais, começam no capitalismo. É uma luta que tem um dos “palcos armados” na própria escola, a sala-de-aula. É a luta dos contrários da dialética sobre as formações econômicas criadas e conhecidas até agora:  a tese, (o socialismo utópico ou científico), a antítese (o capitalismo neoliberal) e a síntese: (o capitalismo de Estado) ou (o socialismo renovado), em direção ao (bem comum ou ao comunismo). Claro que a educação burguesa não discute abertamente e não aprofunda em sala de aula esses modelos. Quando muito os conteúdos dos livros abordam essas formações de forma precária e preconceituosa. De qualquer forma é importante rassaltar que o objetivo final dessas “lutas de classes” para a conquista de uma dessas formações econômicas, dependem do partido e da classe social que está no comando da nação, dos estados e dos municípios. Mas isso é uma nova tese que não temos a pretensão de abordá-la em profundidade por aqui.  

É nesse contexto complexo e contraditório que os profissionais da EREFEM Arnaldo Alves Cavalcanti iniciam em 2021 a implantação do ensino integral. O corpo docente da escola tem sido muito elogiado pelo histórico de conquistas.  Por isso   não é exagero afirmar que o coletivo da escola,  agora reforçado com novos colegas, vai dar conta de mais esse desafio. Evidente que muitas doficuldades sugirão no caminho que terão que ser superadas, pois sabemos que em todo início tropeçamos em algum obstáculo desconhecido. Porém  com "fé na vida" e o "pé na estrada" defendemos a idea de que se a educação não muda o país e o mundo sozinha, sem ela também não há mudanças. Sabemos também que as mudanças progressistas só ocorrem com muita luta e unidade ampla. O país está atravessando uma crise sanitária, política, econômica e social. A democracia e os direitos sociais estão ameaçados e precisam ser preservados e ampliados. a formação de uma frente ampla pela vida, pelos direitos sociais e pela democracia torna-se urgente. Acreditamos que a EREFEM Arnaldo Alves Cavalcanti vai dar a sua contribuição  para a concretização das mudanças que se fizerem necessárias no município, no Estado e no país.  

 

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