No dia 13 de janeiro de 2021, na
Escola Arnaldo Alves Cavalcanti, a Equipe Gestora, tendo a frente Solange
Morato, promoveu com a professora Maria José, que faz parte da Coordenação
Geral de Formação Integral da GRE (Afogados da Ingazeira) a primeira formação
dos profissionais que implantarão o programa de educação integral na referida
escola neste ano de 2021. A formação foi rica em debates, mas consideramos que
algumas opiniões e temas levantados e defendidos pelos colegas docentes da
referida instituição carecem de mais reflexão, aprofundamento e respostas. Não temos a
pretensão de responder os questionamentos, conceitos e opiniões de forma definitiva,
até porque o conhecimento é infinito, mas vamos propor algumas questões inspiradas
no encontro e procurar apresentar algumas respostas como contribuição para
futuros debates e formações.
Nesse sentido consideramos importante
refletir sobre o seguinte: Como se conquistou as escolas de tempo integral? O
pragmatismo docente tem relação com a educação bancária? É possível separar o professor do educador? Qual
é o significado da vida e da riqueza? As escolhas que fazemos são independentes das
oportunidades que temos? Como estimular e proporcionar aos discentes o acesso
ao poder? É possível formar um ser
humano integral, conquistar a cidadania e os direitos humanos no capitalismo? As
questões levantadas dão conta dos enormes desafios que se apresentam no primeiro
dia de formação. Cada uma delas pode equivaler a uma tese. Por isso esse
artigo, não tem a pretensão de encerrar o debate, apenas inicia a
problematização. Mas, apesar de considerarmos que, além de ser preciso ter
objetivo e ter ideal para enfrentar tantos problemas, acreditamos que o coletivo
da nossa escola fará a sua parte, ou seja, vai dar a sua contribuição para a
formação humana integral.
A promoção e o acesso à escola pública e integral no Brasil é uma conquista das lutas
promovidas pelos sindicatos de professores e pelo movimento estudantil, ao lado
do movimento social. É um avanço da nossa democracia, no geral defendidas e implementada
por governantes progressistas, ligados a
partidos de esquerda, como o PDT, o PT, o PC do B e o PSB , etc. A implantação da escola de tempo integral em
Pernambuco, por exemplo, se deve ao governador Eduardo Campos, do PSB em
2007-2008. Os partidos de direita,
liberais e neoliberais, MDB, DEM, PSDB, PSL, entre outros, historicamente nunca
tiveram, como prioridade, a educação pública integral e de qualidade. Essas
correntes liberais e conservadoras no comando do país, dos Estados e dos
municípios, no geral, servem ao “deus mercado”, ao lucro e ao capital
finananceiro e não ao interesse público. Esses grupos, de vieses ideológicos
muito semelhantes, como comandaram o
país nas três esferas de poder a maior parte do tempo em nossa história, são os
principais responsáveis pelo que MEDEIROS, (2015) escreveu no artigo, “Todos os
motivos do mundo” para viajarmos para Marte. Eles produziram em nosso país a prática da corrupção,
pagam mal aos professores, distribuem pouco a renda, deixam aumentar o custo de
vida, defendem a educação privada, em detrimento da educação pública etc. No
caso da extrema direita, viés ideológico produzido pelos conservadores, ela promove
fanáticos religiosos, ataca a democracia, retira direitos sociais e despreza a Ciência e a vida, a exemplo do Governo Federal de extrema direita atual, de
viés liberal na economia e autoritário na política.
Segundo a filosofia do programa de escola integral esse modelo “fundamenta-se
na concepção da educação interdimensional, como espaço privilegiado do
exercício da cidadania e o protagonismo juvenil como estratégia imprescindível
para a formação do jovem autônomo, competente, solidário e produtivo. Desse
modo, ao concluir o ensino médio nas escolas de Educação Integral, o jovem
estará mais qualificado para a continuidade da vida acadêmica, da formação
profissional ou para o mundo do trabalho”.
Essa Filosofia da escola de tempo intergral
nos faz refletir sobre o pragmatismo docente, problema surgido no debate da
formação na escola, que definimos aqui como a ideia de que a educação deve ter
resultado práticos imediatos, como por exemplo, preparar o jovem para o mercado
de trabalho, negligenciando ou descartando a formação humana integral. Essa
concepção de educação tem relação com a educação bancária que considera o estudante
como mero receptor e reprodutor de contúdos. Nesse sentido a constatação da professora
Elvira Fernanda no encontro de que “nos
preocupamos mais com os conteúdos do que com a formação integral”, faz sentido,
pois essa preocupação está muito presente em nossas práticas pedagógicas.
Essa educação bancária, citada no
parágrafo anterior, produz equívocos, como por exemplo: tentar separar o professor do educador. Essse
problema, surgido também na formação, faz uma certa defesa de que a educação humana,
voltada para volores, seria responsabilidade exclusiva dos pais. Mas é
importante ressaltar que pelo menos uma
parte dessa formação humana, fica sob a responsabilidade do docente e da escola, mais ainda com o ensino integral. Passamos muito tempo com os nossos alunos
para ficarmos presos só a conteúdos desligados da vida real. Para a escola
oferecer uma formação humana integral não pode haver essa separação. Isso tem relação com a suposta
neutralidade docente, como bem nos
ensinava Paulo Freire. Todos nós temos “uma visão de mundo” e a partir do nosso
planejamento, da medologia de ensino, dos
critérios de avaliação, nós apresentamos, mesmo sem alguns perceberem,
os objetivos que queremos para o nosso aluno e para o nosso mundo. Por isso é
importante refletir e responder o questionamento da professora, responsável
pela nossa formação, Maria José, “Em que mundo eu quero viver”? Todos nós somos professores e educadores ao
mesmo tempo. Infelizmente, na prática pedagógica, por exemplo, podemos também
ser deseducadores. O autoritarismo, a rotulação depreciativa, a perseguição ao
aluno, a competição negativa, o individualismo etc. Contribuem para a deseducação
dos nossos alunos. A nossa prática pode
estimular, inspirar e ensinar valores positivos ou antivalores. O amor, a
solidariedade, a empatia, a liberdade, a democracia, a tolerância, a resiliência etc. Podem
ser substituídos pelos seus antônimos em nossa prática. Um mundo sustentável,
justo e fraterno necessita de um professor progressista e democrático. Necessita
de um(a) docente que dissemine e sensibilize os alunos para praticarem os
volores humanos. Portanto é falsa a
ideia que tenta separar o professor do educador.
A professora Maria José, (GRE) nos
auxilia nesse debate quando afirma: “os valores que a gente ensina estão
ralacionados com a nossa prática pedagógica”. Nesse sentido é bom todos nós professores
fazermos uma reflexão e uma autoavaliação sobre a nossa prática pedagógica e
sobre os valores que ensinamos em sala – de - aula. A prática não é o critério
da verdade? Um exemplo não vale mais do
que mil palavras? A teoria não deve estár associada à prática?
Nesse sentido para ampliarmos o campo
conceitual sobre a complexa tarefa de educar duas questões levantadas no
encontro carecem de respostas: O que é a vida e o que é a riqueza para você? Cabe
aqui algumas respostas que ajudam no debate. A educadora Lourdes Cesário
respondeu no encontro: “riqueza é a junção de tudo aquilo que nos faz bem e que
é necessário para vivermos com dignidade”. Observem que o conceito de riqueza
para essa educadora é muito mais abrangente do que a quantidade de bens
materiais que cada um consegue acumular.
A professora Márcia Feitosa
respondendo sobre o signifcado da vida disse que na sociedade capitalista
“algumas vidas valem mais do que outras”. Para confirmar tal afirmativa ela
cita o caso das crianças pobres que não têm as mesmas oportunidades nem os
mesmos direitos garantidos nessa sociedade, como as crianças mais abastadas e ricas.
Respondendo a esse questionamento a Professora Adelma defende que “todos devem
ser tratados iguais”.
Se a vida é o mais básico e universal
dos valores, cabe aqui lembrar uma frase bíblica de (João 1010): “ Eu vim para que tenham
vida e a tenham em abundância”. Isso quer dizer que para um bom cristão é
inadimissível haver desigualdade social e miséria. Todo antivalor ou situação
que contrarie a “abundância” é produto da ignorância e da deseducação.
Ainda sobre os valores a professora
Josefakele alfineta o modelo de sociedade que nós temos dizendo que em nossa
sociedade o capital, o lucro e o ter desprezam os valores humanos. Para ela o
capital ensina ilusão passando a ideia de que quanto mais você tem mais você é
feliz. Ela fez uma constatação muito importante no
encontro em relação a nossa prática docente, dizendo que exercitamos muito
pouco a dialética. Para ela esse problema tem relação com as nossas
dificuldades na implementação de uma formação integral. A autossuficiência e o
individualismo docente concorrem para isso. Concordamos plenamente com ela,
pois a “gente só dar o que tem”. A pouca vivência e experiência no exercício
docente da dialética nos limita e nos coloca cada um no seu “gueto”, como se as
disciplinas existissem de forma isoladas. Essa separação tem origem na
estrategia ideológica burguesa ao instituir a escola pública: “dividir para
reinar. Para dialética a parte está
ligada ao todo, portanto não é possível formar o ser humano de forma integral
ensinando de forma isolada. Nesse sentido, além da necessidade de
contexturalizar-mos os conteúdos, uma disciplina para ser bem ensinada precisa
das outras, o que chamamos de interdisciplinalidade. Cada vez mais, vivenciando
o contraditório, torna-se necessário o diálogo frequente, fraterno e respeitoso
entre as disciplinas.
Na conclusão do artigo três questões discutidas
no referido encontro precisam também da nossa reflexão. A primeira é como estimular e proporcionar aos discentes o
acesso ao poder? A segunda questão que carece de resposta é: As escolhas que fazemos são independentes das
oportunidades que temos? E a terceira questão. É possível formar um ser humano
integral, conquistar a cidadania e os direitos humanos no capitalismo?
Percebe-se que as três questões,
apesar de terem relação, não são pouca coisa. Inicialmente para dar conta da
primeira questão sobre ensinar o exercício do poder para nosso aluno, nós precismos
de uma educação profundamente democrática. É na sala de aula onde começa o exercício da cidadania e a
vivência prática da democracia. A eleição do representante de turma, o estímulo
a particiapação dos estudantes no Grêmio Estudantil e a CONSTRUÇÃO COLETIVA de
um “contrato didático”, ajudam nesse objetivo. Precisamos ensinar a importância do poder e da cidadania
desde cedo.
A segunda questão apresentada na
reunião em forma de opinião abordava-se a questãos da oferta de vagas no ENEM
sempre maior do que a procura. Para alguns docentes o problema maior está na
“falta de norte” ou mesmo de escolhas do nosso aluno nesse período. É verdade
que muitos alunos não sabem ainda fazer a própria escolha do curso, da
profissão ou deixam passar a oportunidade de fazer o próprio ENEM. É uma falha
também da educação geral do discente.
Mas é bom que se diga que o próprio ENEM, SSA, SISU, entre outros, são
programas de governos. As ofertas das nossas oportunidades estão diretamente
ligadas ao tipo de governo e de Estado que tivemos ou temos. No caso do Brasil
foram criados ou ampliados no Governo Lula. Clareando a questão: foi preciso um
governo de esquerda no país que tomasse uma decisão política para implantar ou
ampliar esses programas educacionais.
Por fim, para responder se é possível formar um ser humano integral,
conquistar a cidadania e os direitos humanos no capitalismo, nós retomamos a
professora Josefakele quando ela disse que o capitalismo vende ilusão e
massacra os valores humanos. Nesse sentido, concordamos plenamente com ela, a nossa
resposta é não. Para proporcionar aos nossos alunos, a formação integral não é
possível no capitalismo, principalmente se defendemos a ideia que essa formação
deve ser para todos. As próprias competências da BNCC sugerem que precisamos de
um outro tipo de sociedade, de uma outra escola, de uma outra família, de um
outro Estado (governo) de um outro docente. As 10 responsabilidades sobre
cidadania, entre elas, “Tomar decisões com base em princípios éticos,
democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários” contrastam com os
princípios capitalistas, lucro, mercado e individualismo. A essência do modo de
produção capitalista é irracional e predatória. Mas é bom afirmar que a luta e as conquistas dessas
competências, ainda que parciais, começam no capitalismo. É uma luta que tem um
dos “palcos armados” na própria escola, a sala-de-aula. É a luta dos contrários
da dialética sobre as formações econômicas criadas e conhecidas até agora: a tese, (o socialismo utópico ou científico), a antítese (o capitalismo
neoliberal) e a síntese: (o capitalismo de Estado) ou (o socialismo renovado),
em direção ao (bem comum ou ao comunismo). Claro que a educação burguesa não
discute abertamente e não aprofunda em sala de aula esses modelos. Quando muito
os conteúdos dos livros abordam essas formações de forma precária e
preconceituosa. De qualquer forma é importante rassaltar que o objetivo final dessas
“lutas de classes” para a conquista de uma dessas formações econômicas, dependem
do partido e da classe social que está no comando da nação, dos estados e dos
municípios. Mas isso é uma nova tese que não temos a pretensão de abordá-la em profundidade por aqui.
É nesse contexto complexo e
contraditório que os profissionais da EREFEM Arnaldo Alves Cavalcanti iniciam
em 2021 a implantação do ensino integral. O corpo docente da escola tem sido
muito elogiado pelo histórico de conquistas. Por isso não é
exagero afirmar que o coletivo da escola, agora reforçado com novos colegas, vai dar
conta de mais esse desafio. Evidente que muitas doficuldades sugirão no caminho
que terão que ser superadas, pois sabemos que em todo início tropeçamos em
algum obstáculo desconhecido. Porém com "fé na vida" e o "pé na estrada" defendemos a idea de que se a educação não muda o país e o
mundo sozinha, sem ela também não há mudanças. Sabemos também que as mudanças
progressistas só ocorrem com muita luta e unidade ampla. O país está atravessando uma
crise sanitária, política, econômica e social. A democracia e os direitos
sociais estão ameaçados e precisam ser preservados e ampliados. a formação de uma frente ampla pela vida, pelos direitos sociais e pela democracia torna-se urgente. Acreditamos que
a EREFEM Arnaldo Alves Cavalcanti vai dar a sua contribuição para a concretização das mudanças que se
fizerem necessárias no município, no Estado e no país.
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