Eleição na
Câmara: Bolsonaro vence, mas oposição se amplia
Publicado 01/02/2021 23:18 | Editado 02/02/2021 00:25
Do Editorial do Portal Vermelho
Deputados federais elegeram novo presidente da Câmara l Foto: Cleia
Viana/ Câmara dos Deputados
A vitória, por
larga margem, do deputado Arthur Lira (PP-AL) à presidência da
Câmara dos Deputados, ostensivamente apoiado pelo Palácio do Planalto,
inegavelmente, dá um folego ao presidente Bolsonaro, que se vê, ao menos no
curto prazo, coberto por uma muralha de proteção. Contudo, a oposição mesmo
tendo perdido essa disputa, se ampliou a partir da candidatura de Baleia Rossi
que concorreu pela Frente Câmara Livre, composta por uma dezena de legendas: de
direita, centro-direita, centro-esquerda e esquerda.
Diante da perda de
popularidade, do agravamento da pandemia de Covid-19, do crescimento do
desemprego, da fome e da miséria e de mais vozes para além da esquerda
vocalizando o apoio ao impeachment, o Palácio do Planalto entendeu que o
confronto pela presidência da Câmara dos Deputados, mais que uma batalha se tratava
de uma guerra.
Assim, os agentes
políticos do governo federal operaram, conforme documentado na imprensa, um
balcão de barganhas por votos que abarcou bilhões de reais do orçamento federal
em forma de emendas de todo naipe, cargos no governo e promessa de uma réstia
de ministérios.
Desencadeou-se um
rolo compressor para solapar, a qualquer preço, a Frente Câmara Livre,
desidratar a candidatura de Baleia Rossi, além de um ataque cerrado contra
ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Para presidente do
Senado Federal, venceu o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Ele foi respaldado
pelo governo Bolsonaro, mas recebeu também o voto de partidos de oposição.
Os grandes
confrontos, como este em tela, são reveladores de quem é quem na jornada contra
o neofascismo no Brasil.
A disputa deu
evidencias do grau de maturação da frente oposicionista e a força real do
governo Bolsonaro.
Apesar de
rachaduras no bloco das classes dominantes e dos grandes grupos econômicos e
financeiros, a maior parte ainda respalda Bolsonaro, e, portanto, deu cobertura
a candidatura de Arthur Lira. A deserção do DEM da candidatura de Baleia Rossi,
e as tensões no PSDB ao final positivamente controladas, mostram para além do
fisiologismo que setores dessas legendas seguem associados ao presidente
genocida.
Em síntese, embora
tenha se desgastado, se isolado, a força gravitacional do governo Bolsonaro
ainda prossegue relevante.
No âmbito da
esquerda, prevaleceu a orientação de frente ampla, pioneiramente defendida e
praticada pelo PCdoB, daí a formação do amplo bloco constituído por MDB, PSDB,
Solidariedade, Cidadania, Rede, PV, PSB, PT, PDT, PCdoB. Houve defecções em
algumas legendas desta aliança, mas o importante é que este bloco resistiu ao
pesado bombardeio do Bolsonarismo.
Com outras
palavras, a oposição perdeu um confronto de fortes consequências políticas, mas
avançou uma vez que pontes foram erguidas entre a esquerda e a direita, a
partir de um interesse comum: preservar a democracia e defender os direitos e a
vida dos brasileiros e brasileiras.
Na esquerda, o PSOL
foi a exceção. Optou por uma candidatura solitária, sem chance alguma e
objetivamente divisionista, o que favoreceu, para além das boas intenções, a
candidatura bolsonarista.
A vitória de
Bolsonaro não pode ser superdimensionada tão pouco menosprezada. Como já se
disse, uma muralha se ergueu para blindar o tirano que está arruinando o Brasil
e seu povo. Todavia, as contradições seguem, como se diz, em processo. No
âmbito do Parlamento, haverá a cobrança da fatura e ela é vultosa. E Bolsonaro
mais do que parceiro se tornou refém do Centrão que outrora amaldiçoou.
Como já sublinhado,
o grande confronto travado a partir da frente larga que sustentou a candidatura
de Baleia Rossi tem como saldo positivo uma trilha aberta para se constituir
uma oposição mais ampla, dentro e fora do Congresso Nacional, único caminho
eficaz para enfrentar e derrotar o neofascismo de Bolsonaro.
Finalmente, Arthur
Lira, imediatamente após posse, como primeiro ato, dissolveu arbitrariamente o
bloco partidário que apoiou Baleia Rossi, com objetivo de tentar excluir as
legendas que compuseram a Frente Câmara Livre da disputa dos demais cargos da
mesa diretora. Começa sua gestão com arrogância e conduta antidemocrática.
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