“Sejamos claros: a
perseguição anticomunista no Ocidente liberal ou promovida por ele é tudo menos
uma novidade. (…) a perseguição anticomunista não é realizada em defesa da
segurança, mas da memória das vítimas. O crime de comunismo é, mais claramente
do que nunca, um crime de opinião” (LOSURDO, 2022).
por A. Sérgio Barroso, Elias Jabbour
Publicado 25/02/2023 11:14 | Editado 27/02/2023 19:26
Na tradição do
pensamento do filósofo, historiador e cientista político italiano Domenico
Losurdo encontramos duas âncoras poderosas (e atadas): totalidade e
contradição.
Apossado dessas
categorias centrais da dialética, a riqueza das teorizações na vasta obra de
Losurdo busca articular sempre o todo (ali examinado) e suas partes em
movimento. Há uma epistemologia a escavar a história para escrutínios rigorosos
da tessitura política, sob o olhar da filosofia. Dito de outra maneira, como
marxista e hegeliano que era convencera-se do caráter intrinsecamente político
da filosofia; ou a política como sendo o primeiro e mais importante laboratório
da filosofia. [1]
Por exemplo, já
em “Fuga da História? A revolução russa e a revolução chinesa vistas de
hoje”( Rio de Janeiro, Revan, 2004), ele exibe pleno domínio sobre as
marcas profundas da tempestade contrarrevolucionária que desabou sobre a
condição comunista militante, desde 1989-91; interpreta polemicamente a derrota
sistêmica da construção socialista, bem como o insolúvel desengano de náufragos
em ataque furioso às experiências revolucionárias; e ainda aborda de maneira
criativa êxitos e vicissitudes da grandiosa epopeia em defesa de uma sociedade
socialista e de sua superioridade à irracionalidade do capital – Karl Polanyi
sentenciava-a de “moinho satânico” liberal burguês.
Leia mais: A China e uma
nova globalização
Decifra naquele
livro Losurdo, inusitadamente, que o regime soviético “foi obrigado a enfrentar
uma permanente situação de exceção”, onde, de 1917 a 1953 (ano da morte de
Stálin), aconteceram “pelo menos quatro ou cinco guerras, e duas revoluções”
(pp. 43-44). A propósito, ao lado da dura crítica de Losurdo a Stálin –
“ditador”; “horrores” do stalinismo -, ele ataca implacavelmente os que o
igualam a Hitler: “deixemos essa comparação tão absurda aos anticomunistas
profissionais” (p. 49); acusa os próprios comunistas que “demonizam” Stálin
(pp. 50-51); e pergunta: seria possível imaginar “a radical mudança” ocorrida
no mundo, em relação a raça e racismo “sem a contribuição da URSS de
Stálin?”(p.51).
Marxismo, comunismo
Losurdo, naquele
estudo publicado no Brasil em 2004, adianta uma tese, a seguir sofisticada
em “O Marxismo ocidental: como nasceu, morreu e como pode renascer” (2018):
a da crítica à ideia do utopismo espectral marxista rondando tenazmente o
comunismo.
Lá para as tantas,
pergunta então Losurdo (2004, p.121), ali: como Trotski, devemos considerar,
que no comunismo, junto com o Estado, estão destinados a desaparecer também o
dinheiro e toda forma de mercado? Para o filósofo, a carnificina da Primeira
Guerra Mundial, e a criação de “estado de exceção” – depois agravado -, gestaram
uma “utopia abstrata”, assim como a necessidade da “desmessianização” do
projeto comunista. [2]
Aliás, Segundo
Losurdo, Gramsci “talvez” tenha sido o que mais se empenhou na
“desmessianização do projeto comunista”; colocou em discussão o “mito” do
desparecimento do Estado e de sua “reabsorção” na sociedade civil; que o
internacionalismo “não tem nada a ver” com se desconhecer as peculiaridades e
identidades nacionais; que convém é se falar em “mercado determinado, não em
mercado em abstrato” (2004, pp. 121-2).
Nessa síntese aqui
descrita, Losurdo repisa fortemente a temática em “O marxismo ocidental”, a
partir de uma dupla negatividade: a) o ataque e desconhecimento ao marxismo
oriental convergente às lutas de anticoloniais de libertação nacional antes e depois
da Primeira Guerra Mundial à Revolução de 1917;[3] b) a própria
auto-expiação do marxismo ocidental, vez que sua “crítica” do movimento
realmente existente resvala a um projeto messiânico e utópico. Conclui (também)
o italiano:
“Tendo atrás de si
a tradição judaico-cristã, o marxismo ocidental…não poucas vezes evoca motivos
messiânicos (a espera por um ‘comunismo’ concebido e sentido como uma resolução
de todos os conflitos e contradições e, portanto, uma espécie de fim da
história”) (p. 210).
A questão comunista
No derradeiro
estudo “A questão comunista: história e futuro de uma ideia” (2022;
uma introdução, uma premissa, quatro capítulos e uma conclusão), G.
Grimaldi [4] disserta uma instrutiva apresentação da
construção teórica presente na versão final do texto de Losurdo. Onde dois
problemas dão sequência aos dois livros aqui brevemente citados: a) o marxismo
de Losurdo “expulsa” elementos de caráter utópico e messiânico que nele teimam
em se entronizar; e (b) na medida em esse enfoque é integrante de um propósito
geral de “repensamento do marxismo” – salienta Grimaldi (p.8).
Leia mais: A Nova Rota da
Boa Esperança e a paz na Ucrânia
Na vigorosa
denúncia que faz sobre o “antitotalitarismo” e a vigência do anticomunismo como
doutrina de Estado, Losurdo inicia seu estudo afirmando que essa ideologia vem
sendo imposta e protegida por lei; que essa criminalização anda abraçada não
apenas com a falsificação da história, mas violando as regras da própria
democracia burguesa, incluindo hoje “provocações sangrentas”, e a truculência
cotidiana (“Reapolitik”) da prática coercitiva e despótica “marcadas por um
cinismo sem limites” (pp. 24-31).
Prossegue,
nucleando dissertar dialeticamente ao que denomina de transformação de uma
utopia em “utopia invertida”, e “utopia concreta”, ou “utopia realizada”,[5] onde
a crítica de várias fontes e vertentes converge à busca de um futuro messiânico
que desaguou em “catástrofe e horror” (N. Bobbio; K Popper, F. Nietszche); no
exame do “mito e realidade do homem novo”, quando a ideologia hegemônica, ao
isolar as revoluções de teor marxista de todas as demais, zombam da ação e do
cultivo do homem novo por elas perseguidas (pp. 33-69). Ressalta com precisão,
aqui, Losurdo:
“O fato é que, ao
agitar o tema do novo homem, Marx, Engels e o movimento comunista questionaram
radicalmente as relações fundadas na mais brutal opressão e que, não obstante,
eram tidas pela ideologia dominante como naturais e eternas” (p.62).
Ainda nesse
capítulo, Losurdo impressiona ao localizar e criticar brilhantemente a ideia
atualmente em voga do “decrescimento” (econômico) – para nós, também
neomalthusiana -, concentrando-se numa tese nodal de sua elaboração: o
decisivo desenvolvimento das forças produtivas. Esta questão merece
um tópico mais alargado.
Ora, Domenico
Losurdo chama a atenção para algo que passa despercebido ao olhar da grande
maioria dos marxistas, sobretudo no Ocidente: a totalidade intrínseca entre ser
humano x natureza em Marx. Algo que encerra um grande relevo de análise e
construção de argumentos, conceitos e novos marcos teóricos no sentido de
enfrentar o dogmatismo do ecologismo e da arbitrária separação entre ser humano
x natureza.
Em Marx, e isso
possui ênfase na obra de Losurdo, essa unidade e totalidade intrínseca nas
relações entre ser-humano e natureza cria condições à própria superação do que
se poderia chamar de esgotamento dos recursos naturais. Trata-se, portanto, de
uma visão onde o progressismo é algo inerente ao desenvolvimento das forças
produtivas e não seu contrário.
A elevação da
técnica levada às suas últimas consequências cria um recurso natural
inesgotável ao processo de desenvolvimento. Esta possibilidade de um
desenvolvimento sem precedentes das forças produtivas é resgatada por Losurdo
ao retomar um verdadeiro libelo contido nos Grundrisse sob o nome de “Fragmento
sobre as máquinas”.[6]O ponto alto das relações entre
ser-humano e natureza é o surgimento do “trabalho cientificamente
objetificado”. Neste caso, ao pensarmos em uma chamada “questão comunista”
estaríamos diante do socialismo se realizando enquanto “força do saber
objetivada”. Ou, de forma mais simples, via construção consciente do futuro
munido da razão humana no comando do processo.
Leia mais: Cinco eventos
que marcam um ano da guerra na Ucrânia
Irresistível,
assim, não relacionarmos o cerne da “questão comunista” no “trabalho
cientificamente objetificado” sem nos atermos às possibilidades abertas pelo
extraordinário desenvolvimento das forças produtivas na China, [7] abrindo
margem ao surgimento de novos esquemas tanto de divisão social do trabalho
quanto em matéria de planificação econômica. A “questão comunista” não estaria
se realizando materialmente na China com a razão humana sob o comando não
somente de um extraordinário processo de desenvolvimento, mas também da
planificação da transição entre campo e cidades de cerca de 200 milhões de
pessoas nos últimos anos, evitando com que a China não sentisse os duros
traumas de urbanizações desordenadas e geradoras de desumanização via formação
de imenso exército industrial de reserva?
Aqui, cumpre notar
que essa outra tese inovadora de Losurdo, qual seja, a de que o
socialismo-comunismo tendo tudo a ver com o fenômeno ativador do
desenvolvimento das forças produtivas, como patamar necessário ao projeto
societário humanista universal passou mais recentemente a ser parte integrante
das estratégias revolucionárias dos partidos comunistas de influência na
evolução do pensamento leninista, notadamente em renovação da luta de classes nos
países em desenvolvimento. Por exemplo, a teorização do Partido Comunista
do Brasil (PCdoB), em seu “Programa Socialista” (2009)
entrelaça um “Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento” como mediação
necessária à transição para a passagem ao socialismo. [8]
Extenso, o capítulo
2 (pp. 72-125) trata essencialmente da questão que relaciona as interfaces e
antagonismos entre o “liberal-socialismo” e o comunismo. A crítica geral parte
da ideia de Norberto Bobbio, por sua feita inspirada em J. Stuart Mill, e se
alarga no estudo de autores como J. Hobson, C. Rosselli, L. Hobhouse, A. Caillé
e exaustivamente do citado filósofo Bobbio. E onde o centro das reflexões de
Losurdo é a contra-crítica a trajetória antimarxista do liberal-socialismo e
suas variantes.
Crítica e relação
entre marxismo, liberalismo e comunismo, pois capaz de elaborar uma complexa
teorização dos direitos civis e políticos, e, a seguir construir uma ideia
madura e articulada questão do poder político, o liberalismo simultaneamente
andou de mãos dadas com a escravidão moderna! Para Losurdo, ademais, em seus
objetivos, a universalidade do ideário comunista sempre conflitou com a
parcialidade da intenção da proposta liberal.
De outra parte, o
liberal-socialismo se manifesta no colonialismo, no imperialismo, no seu apoio
à Primeira Guerra Mundial, à marcha do nazifascismo; e ao buscar se afastar
desse último sempre esteve pressionado pelo movimento socialista e comunista.
Não à toa, para Losurdo, a ruptura posterior de Bobbio com o liberal-socialismo
é mais que uma regressão, e sim parte integrante do caminho que o levou a
apoiar “com regularidade as guerras que o ocidente e em primeiro lugar os
Estados Unidos travavam”. Para Bobbio, “A democracia venceu o comunismo
histórico, devemos admitir”, quando da onda contrarrevolucionária que os anos
1989-1991 (p.119). [9]
O comunismo em seu
“labirinto”
“É também por outra
razão que a acusação de utopismo dirigida ao movimento comunista se mostra
muito mais problemática do que imaginam os adversários desse movimento” (LOSURDO,
2022).
O capítulo final
apresentado no estudo (“O comunismo como evasão ou ‘real’’) é precedido pelo
terceiro “O renascimento do projeto comunista e a herança liberal”. Neste, três
questões merecem nosso destaque no livro de Losurdo: a) a relação entre
“messianismo e populismo”; b) o quixotismo da tentativa do retorno a um
“socialismo utópico”; c) as marcas da passagem socialista da utopia à ciência.
Leia mais: Quem quer a paz
e quem estimula a guerra na Ucrânia?
Assim, Losurdo
reexaminando Benjamin, Zizek, Badiou, Bloch e Hardt principalmente, considera
que o movimento comunista “procurou escapar do “messianismo totalmente do
Outro” – representação das religiões de salvação; mas não houve “um
acerto de contas” com o populismo nem com o messianismo; a nova ordem imaginada
e desejada são o “resultado de uma negação abstrata e não dialética”: no
“populismo”, a condição de escassez material se generaliza e é ou deveria ser
aceita por todos; no “messianismo’, na aparência a mudança é tão radical que a
ordem jurídico-política “limita-se a desaparecer de uma vez por todas”
(p.146). Escreve ele:
“Pode-se fazer uma
consideração geral: Marx e Engels por vezes falam de ‘extinção do Estado no
atual sentido político’, outras vezes falam de ‘extinção do Estado’ enquanto
tal; durante muito tempo o movimento comunista do século XX adotou
exclusivamente a segunda fórmula que é declaradamente messiânica” (p.148). [10]
Visível, então, que
após a “tragédia” e “derrota” sofridas nos países socialistas do Leste Europeu
são muitas as vozes e apelos que convidam os comunistas “a retornar à utopia”,
num impulso à tradição do messianismo ou a um futuro luminoso absolutamente
livre de contradições e conflitos. Como no caso do subcomandante zapatista
Marcos (“mudar o mundo sem mudar o poder”), ou Badiou que “saúda o colapso do
socialismo estatal”, ou de Zizek que tem “ternura pelos que exigem a abolição
do Estado” (p.162).
Na teorização,
crucial, de Losurdo, enfim, o “socialismo científico” vem no rastro de duas
revoluções ou é seus desdobramentos: a Revolução Industrial, e seu avanço
poderoso das forças produtivas; e a Revolução Francesa, política, e suas
transformações político-sociais sem precedentes. Seguinte a elas, a emancipação
do gênero humano passou a ser um objetivo perfeitamente realista: apenas se
deveria perguntar sobre “o tempo e maneira do processo de emancipação” (p.
167).
Importa frisar que,
Losurdo faz duas considerações – conclusões – da maior relevância ao movimento
comunista atual. A primeira, em que afirma ter Lênin, em sua fase última da
vida ter voltado á atenção sobre “como promover a extinção do Estado”: proceder
à sua “edificação”, construindo um aparato estatal “verdadeiramente novo, que
mereça de fato o nome de socialista soviético” – tomada de consciência
acompanhada de importante alerta, diz Losurdo (p.153).
Noutro ângulo, para
Mao Zedong, entretanto, a revolução chinesa estava convocada à luta para
“construir um grande Estado socialista”; onde, “daqui a dez mil anos” os
tribunais “serão ainda serão necessários” (2022, p. 156). Segundo o filósofo
italiano, e de modo categórico, em oposição à “expectativa messiânica”, na
China a “redenção” ocorreu em função de um “partido comunista que soube evitar
o evolucionismo e o messianismo” (p.151).
Mais uma vez com
brilhantismo, em seu texto apresentado, Domenico Losurdo encerra concluindo na
metáfora da viagem de Colombo às Américas, comparando-a às revoluções. Ou seja,
se “nunca nos aproximamos” em chegar aos objetivos pretendidos por Lênin e os
líderes da Internacional Comunista (República mundial soviética, desparecimento
final das classes, Estado, nações, mercados e religiões), estaríamos diante de
um evidente e completo fracasso. Não é bem assim:
“Na realidade, a
discrepância entre programas e resultados é inerente a toda a revolução. (…) A
história de Cristóvão Colombo, que sai em busca das Índias, mas descobre a
América, pode servir de metáfora para a compreensão dialética dos processos
revolucionários”. [Marx e Engels, ao examinaram as revoluções inglesa e
francesa, sublinham não partir da consciência subjetiva de seus protagonistas,
mas das contradições objetivas], “portanto [d]o descompasso entre o projeto
subjetivo e o resultado objetivo”. (…) “Por que deveríamos proceder de forma
diferente diante da Revolução de Outubro?” (pp. 199-200).
*À memória de
Silvio Costa (03/1953- 02/2023), intelectual comunista de elevado nível de
compromissos com a causa da sociedade integralmente solidária
NOTAS
[1] Ver: Stefano
Azzarà em “Domenico Losurdo 1941-2018 in memoriam”. Em: “Losurdo:
Permanência e presença”, MORAES, J. Q. (org.), São Paulo, Fundação
Maurício Grabois/ Anita Garibaldi, 2020. Grande estudioso da obra de Losurdo,
Azzarà o apresenta como “hegeliano e marxista”; nós invertemos a ordem da
afiliação teórica-ideológica.
[2] Segundo
Losurdo, Gramsci “talvez” tenha sido o que mais se empenhou na
“desmessianização do projeto comunista”; colocou em discussão o “mito” do
desparecimento do Estado e de sua “reabsorção” na sociedade civil; que o
internacionalismo “não tem nada a ver” com se desconhecer as peculiaridades e
identidades nacionais; que convém é se falar em “mercado determinado, não em
mercado em abstrato (2004, pp. 121-2).
[3] A análise
demolidora de Losurdo atinge espectros distintivos, principalmente, do
pensamento de Perry Anderson, M. Merleu-Ponty, Max Horkheimer, Ernest Bloch,
Teodoro Adorno, Hanna Arendt, Slavov Zizek, Walter Benjamin, Hardt, Negri, A.
Badiou entre outros; e noutra dimensão, a crítica a H. Marcuse e G.
Lúckács. “É inegável que a tendência messiânica e utópica do marxismo
ocidental se arrastou por um longo tempo”, afirma ele (São Paulo, Boitempo,
p.38).
[4] O livro de
Losurdo é inconcluso, muito denso e abarca inúmeros temas complexos, tendo como
epicentro a Revolução de Outubro. Nós nos concentramos em aspectos que
consideramos os principais. Por outro lado, é uma pena que Grimaldi não se
referencie na obra de Losurdo “Fuga da história”? publicada no Brasil em
2004, para nós integrante duma espécie de triologia onde a questão
comunista avulta, e entrelaça “Marxismo ocidental” e “A questão
comunista”.
[5] Esclareça-se,
definitivamente, que Domenico Losurdo é defensor intransigente da doutrina
elaborada por Marx e Engels. O que nada tem a ver com a invenção de um
‘marxismo sem utopia’, como por exemplo criou J. Gorender, no Brasil. Ver a
crítica em “Revoluções e materialismo histórico em Domenico Losurdo”, de A.
Sérgio Barroso, publicado originalmente em 2005. Aqui: https://vermelho.org.br/coluna/revolucoes-e-materialismo-historico-em-domenico-losurdo/
[6] O chamado
“fragmento sobre as máquinas” pode ser encontrado no recém intitulado
item “Capital fixo e desenvolvimento das forças produtivas da
sociedade”, da edição dos “Grundisse”, da Boitempo (2011), no denominado
Capítulo do capital, às páginas 578 a 592. Genial, é ali que Marx apresenta
também o conceito de “intelecto geral” (“general intellect”),
já identificando a tendência de autonomização da tecnologia da maquinaria, onde
as “máquinas inteligentes” a Inteligência artificial, a nanotecnologia, poderiam
servir hoje claramente de exemplos. Ainda, escreveu Marx ali: “A natureza não
constrói máquinas nem locomotivas, ferrovias, telégrafos elétricos, máquinas de
fiar automáticas etc. Elas são produto da indústria humana; (…) Elas são órgãos
do cérebro humano criados pela mão humana; força do saber objetivada”. E mais
adiante: “Há ainda outro aspecto em que o desenvolvimento do ‘capital
fixo’[maquinaria] indica o grau de desenvolvimento da riqueza geral, ou o
desenvolvimento do capital” (todos os grifos de Marx; p.589).
[7] Sobre a China,
Losurdo exalta inúmeras vezes seus êxitos revolucionários e conquistas atuais;
e Grimaldi informa que estava previsto um capítulo denominado “Pensar a China,
repensar o pós-capitalismo”, que não se encontra nos textos por ele examinado.
[8] Em: “Transição
ao socialismo e questão nacional na África do Sul, na Índia e na Rússia”, Ronaldo
Carmona apresenta os partidos comunistas que nesses países passaram a
compreender o vínculo incontornável entre a questão nacional e o socialismo.
Equacionando dialeticamente uma problemática fundamental, Carmona aponta “a
coincidência essencial entre socialismo e nação”, ou “combinação orgânica” que
passaram a ser decisivas, onde nos grandes países em desenvolvimento a
resistência ao “neocolonialismo passa a ser uma exigência permanente” (São
Paulo, Anita Garibaldi, 2009, pp. 103-104)
[9] Losurdo faz
ainda importante digressão, no subtítulo em que pergunta: “Renascimento
ecológico do liberal-socialismo?”, liderado por Allain Caillé. Onde afirma: “E
é precisamente a luta de classes o grande ausenta no quadro traçado pelo
liberal-socialismo em versão ecológica”; ou ainda: “o novo liberal-socialismo
mostra todos os seus limites também no que se refere à luta em defesa do Estado
social”. Para Caillé – afirma, por exemplo, Losurdo -, passado os Trinta Anos
Gloriosos de crescimento econômico, “é necessário despedir-se do Estado de
bem-estar que dele resultou” (p. 122).
[10] Mais adiante
ele exemplifica, também: durante anos a Internacional Comunista apresentou-se como
“partido bolchevique mundial”; desdenhava das fronteiras e identidades
nacionais como “preconceitos ultrapassados” (p. 149).
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