Maioria dos 9 milhões de MEI não é de microempreendedores – mas, sim, de trabalhadores vítimas da “pejotização”
por André Cintra
Publicado
22/01/2024 18:15 | Editado 22/01/2024 19:11
Em 2009, o governo Lula criou uma
modalidade de pessoa jurídica, o MEI (microempreendedor individual), voltada a
trabalhadores autônomos. Era uma forma de estimular a formalização de milhões
de profissionais que, mesmo exercendo atividade econômica, estavam na
informalidade.
Pode-se dizer que, passados 15 anos,
o programa foi bem-sucedido. Até 2019, havia 9 milhões de MEIs no Brasil, que
podiam faturar até R$ 81 mil por ano.
Ao mesmo tempo, esse expediente
passou a ser usado por empresas para burlar a legislação, retirar direitos e
precarizar o trabalho. Embora contratem profissionais como autônomos, os
empregadores forçam esses trabalhadores a exercerem uma jornada fixa ou
trabalho contínuo, como no regime CTL (com carteira assinada).
É o que revela um estudo da
economista Bruna Alvarez, professora da Escola de Economia de São Paulo da
Fundação Getulio Vargas (EESP/FGV). De acordo com a pesquisa, a maioria dos 9
milhões de MEI registrados em 2019 não é de microempreendedores – mas, sim, de
trabalhadores vítimas da “pejotização”.
Eles prestam serviços como se fossem
trabalhadores formais comuns, mas são contratados como MEIs e, assim, não
recebem direitos. É um falso empreendedorismo, o que, segundo Bruna, prejudica
não apenas o profissional. “Se não existisse o MEI, as empresas produziriam
mais e haveria maior arrecadação de impostos”, resume a economista em
entrevista ao Blog do Fernando Dantas.
Um trabalhador com carteira assinada
tende a se aproximar do chamado “trabalho decente”. Segundo a OIT (Organização
Internacional do Trabalho), trata-se do “trabalho adequadamente remunerado,
exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, capaz de garantir uma
vida digna”.
Porém, ao ser contratado
irregularmente como MEI – e não como celetista –, o trabalhador deixa de
receber direitos como férias e 13º salário. A empresa troca a qualidade do
trabalho pela precarização, de olho na redução de custos.
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