Estudo mostra que Brasil conseguiu reverter a péssima reputação do governo anterior, na mídia estrangeira. Mas internamente, governo encontra dificuldade para superar a polarização
por André Cintra
Publicado 01/02/2024 08:00 | Editado 01/02/2024 08:14
Foto: Ricardo Stuckert / PR
O jornalista
Elielson Lima, da CBN Recife, aproveitou o início da entrevista com o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta terça-feira (30), para
agradecer às rádios de Pernambuco que compartilhavam a transmissão. Ao todo,
mais de 30 emissoras integraram o pool – e Elielson fez
questão de citá-las uma a uma.
“Só isso de
rádio?”, brincou Lula. “Pois é, é para o senhor ver como Pernambuco está lhe
ouvindo hoje”, respondeu, aos risos, o apresentador da CBN. “Não tem aí nenhuma
rádio da França ou da Inglaterra?”, emendou o presidente.
Fazer com que o
governo federal fale mais – e melhor – com os brasileiros é o principal desafio
que a Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência da República se
impôs para 2024. O ajuste nas diretrizes é inevitável. Há poucos ministérios
mais criticados hoje no Planalto do que a Secom.
Entre setembro e
outubro, quando Lula se licenciou do cargo por quase um mês para se recuperar
de duas cirurgias – uma no quadril e outra na região dos olhos –, a impressão
generalizada foi a de que o governo estava em silêncio. Não por acaso, houve um
aumento da rejeição ao presidente nesse período de aparente mutismo.
Não que 2023, o
primeiro ano do mandato, tenha sido inteiramente perdido. Um estudo do Radar
55, hub do GrupoBCW, mostrou que, com Lula de volta ao poder, o Brasil
conseguiu reverter a péssima reputação deixada pelo governo de destruição de
Jair Bolsonaro (PL).
Batizado de Índice
de Desempenho de Mídia, o estudo mostra que, em todos os meses de 2023, as
menções à economia do Brasil na grande mídia estrangeira foram mais positivas
do que negativas. Sob Bolsonaro, ao contrário, o País viveu permanentemente “no
vermelho”.
Vale lembrar que o
levantamento não aborda o noticiário sobre meio ambiente, defesa da democracia
ou combate à pandemia de Covid-19, áreas nas quais a atuação de Bolsonaro levou
o Brasil a ser visto como um “pária internacional”. Só a economia já foi o
suficiente para que jornais de sete países (Alemanha, Argentina, China, Estados
Unidos, França, Inglaterra e México) revissem suas impressões sobre o governo
brasileiro.
Isso se deveu,
acima de tudo, aos bons indicadores econômicos de 2023, que surpreenderam não
apenas ao “mercado” e à mídia no Brasil – mas também a instituições como o
Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional). De acordo com o Radar
55, dados sobre “estimativa do PIB, controle inflacionário, queda no desemprego
e recordes de exportações” impactaram a percepção jornalística sobre o País,
bem como a reforma tributária.
Internamente,
porém, Lula encontra dificuldades para superar a polarização que tem marcado o
cenário político nos últimos anos. Um dado revelado na semana passada pela
pesquisa do Instituto MDA e da Confederação Nacional do Transporte (CNT) ajuda
a identificar o estorvo: 66% dos brasileiros dizem não ter notado “alguma ação
direta do governo Lula” onde moram, “seja investimentos em rodovias, educação,
saúde, segurança, infraestrutura, melhora na economia local, dentre outras
ações”.
Já está claro que a
Secom apostou fichas demais no Conversa com o Presidente, live
semanal em que Lula era entrevistado pelo jornalista Marcos Uchoa, da EBC. Por
melhor que pudesse ter sido o desempenho do programa, a estratégia de
comunicação de um governo popular não pode ser tão limitada.
Para 2024, ao que
tudo indica, as entrevistas a emissoras de rádio e TV – com retransmissão nas
redes sociais de Lula – serão mais frequentes. Só em janeiro, a contar com seu
depoimento à CBN Recife e às demais emissoras pernambucanas, o presidente
concedeu seis entrevistas (cinco exclusivas e uma coletiva), dando prioridade a
veículos locais.
Haverá nova
coletiva à imprensa em 8 de fevereiro, data em que o presidente estará em Belo
Horizonte e falará à imprensa mineira. Será a primeira visita de Lula a Minas
Gerais desde o início de seu terceiro mandato. Minas foi o único dos sete
estados do eixo Sul-Sudeste em que o petista teve mais votos que Bolsonaro nas
eleições presidenciais de 2022.
Segundo o Poder360,
a Secom também planeja a realização de uma coletiva com Lula nos moldes do
programa Roda Viva, da TV Cultura. Em vez do tradicional formato
pergunta-resposta, o evento seria mais interativo e dinâmico, com direito a
réplicas por parte dos jornalistas. Ainda é pouco, mas a mera inferência de que
a comunicação oficial precisa avançar – e muito – já sinaliza para avanços na
imagem do governo.
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