Por Eduardo Guimarães
Até o fim de 2005, Lula era dado como um zumbi político. A
cada pesquisa de opinião sua popularidade caía mais um pouco.
Quando explodiu o escândalo do mensalão, em 2005, o PT e
alguns poucos partidos aliados mergulharam em uma verdadeira hibernação. Eu
mesmo brincava, àquela época, dizendo que os petistas e simpatizantes estavam
todos escondidos debaixo da cama, pois o Partido dos Trabalhadores havia se
tornado maldito, um símbolo de “corrupção”.
A avalanche midiática criminalizando o governo Lula e um
partido inteiro – que, então, já tinha mais de um milhão de filiados –
estabelecera um fenômeno: ninguém – nem os próprios petistas – tinha coragem de
se contrapor à corrente opinativa forjada pelos grandes meios de comunicação.
Pensar diferente, então, tornara-se praticamente um crime –
o cidadão acabava sendo acusado de “cumplicidade” com os “corruptos” petistas.
Este blogueiro, por exemplo, àquela época era colaborador
frequente de colunas de leitores dos maiores jornais do país. Foi a forma que,
desde uma década antes – em meados dos anos 1990 –, encontrara para participar
do debate público.
Porém, quando explodiu o escândalo, nadar contra a corrente
e escrever àqueles veículos criticando o linchamento de todo um partido me
rendeu ser banido dos espaços em que podia dar a minha opinião. Eu, que vivia
sendo convidado pela Folha e por outros jornais para seus eventos, de repente,
do dia para a noite, “desapareci”.
Eu padecia de uma “doença” opinativa que costuma ser chamada
nos meios jornalísticos de “opinião impublicável”. Ou seja: aquela opinião que
discorda do que parece ser “consenso” de uma esmagadora maioria e que ninguém
quer reproduzir com medo de ser acusado de “conivente”.
A força da “maioria” opinativa era tão avassaladora, à época
em que estourou o escândalo do mensalão – no terceiro ano do primeiro governo
Lula, assim como estamos no terceiro ano do primeiro governo Dilma –, que havia
uma certeza praticamente inabalável: o então presidente da República
“sangraria” até a eleição de 2006 e, ali, seria fragorosamente derrotado.
Qualquer semelhança com a situação política de hoje em
relação a Dilma Rousseff, não é mera coincidência.
A semelhança entre o passado e o presente se dá até na época
de 2005 em que eclodiu o escândalo do mensalão. A entrevista demolidora de
Roberto Jefferson à jornalista da Folha de São Paulo Renata Lo Prete
denunciando o escândalo foi publicada em 6 de junho e foi nesse mesmo dia e mês
que eclodiu a primeira grande manifestação do Movimento Passe Livre, que
marcaria a derrocada de Dilma nas pesquisas, assim como a denúncia de Jefferson
marcou a perda de popularidade temporária de Lula no segundo semestre daquele
ano.
Até o fim de 2005, Lula era dado como um zumbi político. A
cada pesquisa de opinião sua popularidade caía mais um pouco, chegando a
dezembro daquele ano – a menos de um ano da eleição presidencial de 2006 -,
segundo o Datafolha, com apenas 31% de bom é ótimo, coincidentemente o mesmo
índice que Dilma tem hoje.
A precipitação dos que, nesta mesma época do ano, há oito
anos, comemoraram antecipadamente a destruição política de Lula e do PT, pouco
mais de um ano depois resultou na capa da Folha que você vê no topo deste
texto, publicada naquela segunda-feira, 30 de outubro de 2006, quando ele
obteve 60% dos votos válidos.
Nunca me arrependi de me manter fiel aos meus princípios. No
ano seguinte ao da eleição presidencial, o blog que criei lá em 2005 para dizer
o que ninguém dizia, já que os petistas estava escondidos debaixo da cama, fez
com que jamais me arrependesse ao contrariar as “maiorias”.
Em setembro de 2007, a partir de post em que considerei
inaceitável a aceitação pelo STF do indiciamento de José Dirceu no escândalo do
mensalão sob pressão da mídia – conforme conversa do ministro Ricardo
Lewandowski captada por uma repórter da Folha –, através deste Blog convoquei o
primeiro ato público contra um grande meio de comunicação após o retorno da
democracia, conforme mostra matéria publicada no Terra Magazine que você pode
ler aqui.
A partir daquele ato público, junto a leitores desta página
fundei o Movimento dos Sem Mídia, que, nos anos seguintes, produziria as
primeiras ações de cidadãos comuns e sem partido ou interesses particulares em
prol da democratização da comunicação e contra os abusos midiáticos.
No primeiro semestre de 2008, o Movimento dos Sem Mídia
ajuizaria representação no Ministério Público Federal contra alarmismo
midiático em torno de uma suposta epidemia de febre amarela que haveria no
Brasil, amplificada pela mídia. Entrevista que dei à época ao portal Vermelho
explicando o caso pode ser lida aqui.
Em 2009, o mesmo Movimento dos Sem Mídia, a partir de
convocação feita neste Blog, reuniu, segundo a polícia militar, cerca de 300
pessoas diante da Folha de São Paulo para protestar contra afirmação do jornal
de que a ditadura militar brasileira fora uma “ditabranda” por ter “matado
pouca gente”. A informação consta no verbete da Folha na Wikipedia, aqui.
Em 2010, durante a eleição presidencial, o Movimento dos Sem
Mídia conseguiria fazer sumir polêmica entre os quatro maiores institutos de
pesquisa do país, que se dividiam – dois para cada lado – sobre as posições de
Dilma Rousseff e José Serra nas pesquisas. Representação junto à Procuradoria
Geral Eleitoral fez a titular do órgão determinar abertura de inquérito na
Polícia Federal e, a partir dali, uma semana depois as pesquisas todas
convergiram para os mesmos números. Matéria do portal IG sobre o caso pode ser
lida aqui.
Estes são só alguns exemplos de ações do MSM entre 2007 e
hoje.
Atualmente, manifestações contra meios de comunicação se
tornaram comuns. Há, inclusive, ações sendo ajuizadas contra eles no Ministério
Público. As pessoas comuns estão se mexendo, agindo sem esperar que alguém faça
alguma coisa em seu lugar.
Um dos objetivos desta página, ao ser criada lá em 2005, era
justamente esse: estimular os cidadãos comuns a se mexerem, a não ficarem só
reclamando. Daí a razão de este Blog ter sido intitulado como Blog da
Cidadania, pois nos últimos cerca de oito anos a tônica do que se fez aqui foi
estimular as pessoas a fazerem o que hoje estão fazendo.
Em 2005/2006, a internet não era nem sombra do que é hoje e
quem discordava da Onda de consenso compulsório estava escondido debaixo da
cama. Assim mesmo, a destruição política artificial de um partido inteiro não
foi possível. Esteja certo, leitor, de que hoje será bem mais fácil impedir que
mistificações do mesmo jaez obtenham sucesso.
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