Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
Acabo de ler essa notícia no 247:
"Mídia Ninja: Senador investiga uso de dinheiro
público"
Esse tipo de coisa me dá vontade de rir e chorar ao mesmo
tempo. É incrível que diante da revelação de uma sonegação bilionária da
família Marinho, o excelentíssimo senador Aloysio Nunes decida investigar a…
Mídia Ninja. E volte a atacar os blogs.
A fala de Nunes representa uma ameaça grave à democracia, à
pluralidade, à liberdade de expressão e de imprensa. Observe que ele não cita
nenhum fato que justifique sua determinação de criminalizar a mídia
alternativa. Ele mesmo admite, com um descaramento delinquente, que se trata de
perseguição política.
Nunes diz o seguinte: “Continuo na minha tarefa de
identificar os financiadores desses blogs e movimentos pretensamente
independentes, mas que estão a serviço do governo e de partidos políticos,
financiados com dinheiro público”.
A asserção é absurda, discriminatória e anti-democrática. As
exibições do Mídia Ninja ajudaram a derrubar em mais de 20 pontos a aprovação
da presidente Dilma, e abriu caminho para a oposição em 2014. Os Ninjas se
tornaram heróis da grande mídia tucana.
Aí quando o Datafolha publica outra pesquisa, que mostra
declínio de Aécio Neves, e dois integrantes do coletivo se declaram de
“esquerda”, o PSDB decide atacá-los.
Quanto aos blogs, o senador finge desconhecer o fato mais
elementar de um ambiente de liberdade democrática: a pluralidade ideológica
pressupõe necessariamente que existam blogs a defender ou atacar todos os
partidos, governos e tendências políticas. Há blogs tucanos, petistas, do PPS,
comunistas. Há blogs que defendem o governo de São Paulo, outros que defendem o
governo federal. Há blogs que atacam todos os governos, ou que fingem fazê-lo.
Em torno de tudo isso, há a liberdade de expressão. Eu tenho a liberdade de
apoiar ou não apoiar qualquer governo ou partido político. O senador Aloysio
Nunes, ou qualquer outro senador ou político, não tem o direito de patrulhar o
que dizem ou defendem os blogs políticos brasileiros.
Agora, um depoimento. Sou blogueiro desde o início dos anos
2000. Nunca ganhei dinheiro do Estado. Nesse ínterim, a Globo ganhou dezenas de
bilhões de reais do governo federal, e mais outros bilhões de governos
estaduais e prefeituras. Isso tudo depois de ter ganhado sabe-se lá quanto
antes disso, e ter se consolidado financeiramente durante o regime militar, do
qual se locupletou.
O Cafezinho, desde que foi fundado há dois anos, tem vivido
de assinaturas, doações, um pouquinho de publicidade privada, e agora também da
venda de títulos-fantasia.
Agora estou muito bem, graças a Deus, mas a minha vida de
blogueiro full time foi sofrida demais para aceitar que um biltre como esse
Aloysio Nunes me ofenda com suas acusações genéricas à blogosfera. Paguei, com
orgulho, um preço altíssimo pelo exercício da crítica independente: anos e anos
vivendo na linha da pobreza, contando centavos para comprar um pão francês. O
senhor Nunes não tem ideia do quanto sofre um intelectual no Brasil, sobretudo
quando tem postura progressista e defende um governo do PT. Defender governo de
esquerda no Brasil de Lula, senhor Nunes, jamais nos trouxe qualquer lucro.
Muito pelo contrário, quando se quer ganhar dinheiro, basta dar uns pauladas no
PT, para aparecer rapidamente algum laranja da Globo oferecendo dinheiro.
Mas não quero cair na armadilha da direita, que pretende
ficar com o dinheiro público apenas para si mesma. A estratégia de distribuição
de verbas das entidades públicas é reacionária. Defendo todo o tipo de
iniciativa que democratize os recursos públicos para a mídia alternativa.
O Cafezinho aceita como muito gosto qualquer publicidade
pública e privada, desde que o anunciante não interfira em nossa linha
editorial. Pago meus impostos honestamente, sem usar paraísos fiscais. Não
tenho nenhuma offshore chamada Cafezinho Overseas Investments BV, nem adquiro
apartamentos em Miami através de nenhum Cafezinho Assas JB Corporation.
Por outro lado, acho extremamente positivo que o senhor
Alosyo Nunes peça informações aos órgãos de Estado sobre os gastos com
publicidade. Só que eu já dei essa informação, senador. Está tudo na internet.
Eu já fiz esse levantamento. Se você parasse com sua implicância com os blogs,
pouparia seu tempo e ficaria melhor informado. Leia esse post:
http://www.ocafezinho.com/2012/09/13/secom-abre-caixa-preta-da-publicidade-institucional/
Você poderia então agir que nem o ladrão da música do
Bezerra da Silva, que foi assaltar a casa de um pobre, e ficou tão horrorizado
com a pobreza do cidadão que saiu correndo, surtado, gritando: “pega eu, que
sou ladrão”.
A Secom, cujo secretário-executivo é um reacionário raivoso
que deseja prisão de Pizzolato “porque sim” (apesar dele mesmo estar muito mais
envolvido nas relações entre DNA e o BB do que Pizzolato), distribui duzentas
vezes mais verbas para sites do Rupert Murdoch no Brasil (Fox), do que para a
nossa aguerrida, franciscana e esfomeada blogosfera.
Você irá ficar espantado, senhor Nunes, que apesar da
blogosfera progressista ser, sim, um dos poucos ambientes em que a grande mídia
tucana recebe um contraponto à altura, o governo do PT também nos persegue e
tenta nos matar de fome, porque entregou a distribuição de verbas federais para
a global e tucana Helena Chagas e para o cafumango Roberto Messias.
Eu até apoio, portanto, a sua iniciativa, senador, desde que
tenha coragem de publicar, com transparência e honestidade, os dados que lhe
forem fornecidos. Mas publique mesmo!
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