Por Bepe Damasco, em seu blog:
As agências de rating, de classificação de risco, cuja
expertise é avaliar a capacidade dos países de saldar suas dívidas e o
consequente nível de solvência das nações, sempre a partir do ponto de vista
dos interesses do mercado financeiro e do rentismo, se prepararam para, às
vésperas da campanha eleitoral do ano que vem, rebaixarem a nota do Brasil.
Isso dificultaria a rolagem da dívida brasileira e a captação de empréstimos no
mercado internacional, além de jogar mais lenha na fogueira do pessimismo em relação
à nossa economia. É o papel que cabe à Moody's e à Standard & Poor's,
típicas agências 171, conforme já denunciou o ex-ministro Delfim Neto, no
sofisticado script montado para tentar derrotar a presidenta Dilma nas eleições
de 2014.
Matéria da edição de
CartaCapital desta semana, sob o título "O pessimismo eleitoral - setores
do governo temem uma ataque especulativo em 2014", assinada pelo
jornalista André Barrocal, um dos melhores repórteres da casa, joga luz sobre a
abrangente e profunda trama do mercado financeiro com o objetivo de reverter o
favoritismo da presidenta Dilma.
Essa articulação tem como ponto de partida, como sempre, a
velha mídia brasileira, mas possui braços e ramificações internacionais.
Cruzando as informações contidas na matéria da revista, com tudo que a oposição
midiática tem dito e escrito sobre a economia brasileira, cheguei à conclusão
de que essa engrenagem funciona assim :
1) O PIG abre manchetes contra a política fiscal do governo,
carregando nas tintas em relação ao desequilíbrio das contas, os gastos
excessivos e, muitas vezes, insistindo no alarmismo sobre o risco de uma
tragédia inflacionária que os barões da mídia estão carecas de saber que não
existe, já que a inflação brasileira está e sempre esteve dentro da meta nos
últimos 11 anos.
2) Economistas ligados a bancos, corretoras e fundos de
investimento vão na mesma linha, apontando sua baterias para a gastança do
governo. No país que imaginam como saudável economicamente, não há espaço para
gasto com programas sociais e todas as políticas públicas devem ser enxugadas.
Muitos não se envergonham nem mesmo pregar o desemprego como antídoto contra a
inflação, contendo o consumo.
3) O desmoralizado FMI, campeão de receitas fracassadas e
que não apita mais nada no Brasil da era Lula/Dilma, além de dever dinheiro ao
nosso país, entra em cena com a ladainha neoliberal
costumeira : o governo gasta mal, os bancos públicos estão
muito fortes e os salários pagos por aqui põem em risco as empresas.
4) A OCDE ( Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico), organismo internacional atualmente dirigido pelo
mexicano Angel Guirria, ligado ao seu compatriota Carlos Slim, o homem mais
rico do mundo, divulga relatório apontando como males crônicos da economia brasileira
a política de correção permanente do salário mínimo e os direitos trabalhistas.
E, como em todo catecismo conservador, não podia faltar a defesa da reforma da
Previdência Social.
5) Os porta-vozes do mundo globalizado das finanças, o
semanário The Economist e o diário Financial Times batem cada vez mais forte
nos fundamentos da economia brasileira, em linha com a mídia brasileira e com
os organismos citados anteriormente.
6) Por fim, as agências do risco, as tais 171, criadas com a
exclusiva finalidade de proteger o dinheiro de quem se nega a investir na
produção e aposta na espiral especulativa global, vazam informações sobre o
quase certo rebaixamento do rating brasileiro, previsto para acontecer em
breve, engrossando a onda de pessimismo que, num movimento circular, volta para
as manchetes dos jornalões e revistas do Brasil, garantindo à engrenagem contra
o governo brasileiro uma movimentação pendular e incessante, tipo Brasil -
exterior; exterior-Brasil.
Vale a pena citar duas visões sobre esse ataque
especulativo, expressas na matéria de CartaCapital :
Arno Augustin : "O secretário do Tesouro do governo
federal, Arno Agostin, está convencido da existência de um ataque especulativo.
À frente da ação estariam economistas ligados a bancos e dispostos a interferir
nas decisões oficiais, no debate público e, no limite, na eleição. Seria uma
reação contra medidas que afrontam os interesses do mercado, entre elas a
redução de juros e o uso de instituições financeiras públicas para concorrer
com as privadas."
Francisco Lopreato (economista, especialista em política
fiscal) :" A dívida pública aumentou, acredita Lopreato, pelo fato de o
governo ter tomado duas decisões corretas : comprar dólares na tentativa de
conter as flutuações da moeda e estimular a atuação dos bancos públicos para
impedir um drástica redução dos financiamentos a indivíduos e empresas. As
críticas ao Brasil ignoram esses fatos, pois o governo não faria o jogo do
sistema financeiro. Para o economista, não se pode dizer que há qualquer tipo
de descontrole das finanças públicas e não há razão para defender um processo
de consolidação fiscal como propõe o FMI."
Moral da história : a eleição de 2014 será um guerra.
0 comentários :
Postar um comentário