O milagre, aspas, é o “BV”, uma propina pela qual a Globo
escraviza as agências e, por elas, os anunciantes
O Conversa Afiada reproduz artigo de Paulo Nogueira do
Diário do Centro do Mundo (foi o Nogueira quem mostrou como o Ataulfo Merval
(*) e o Gilberto Freire com “i” (**) disputam para ver quem concorda mais com
um Marinho):
Dirceu teria que trabalhar 100 anos para levantar o que um
Marinho tira num mês com uma concessão pública
O que me pergunto é o seguinte: a mídia não percebe que a
perseguição assassina movida a Dirceu e a Genoino tem efeito oposto ao
desejado?
É um comportamento tão abjeto, tão descarado que gera imensa
onda de solidariedade aos dois e, por extensão, ao PT.
Não há um barão da mídia, um colunista que pare para
refletir sobre uma estratégia que se provou fracassada?
Vai chegar 2014 e o resultado vai ser o óbvio: o sentimento
de injustiça será um forte componente na mais que provável eleição de Dilma
para um segundo mandato.
Quer o poder? A batalha é dura: é nas urnas. É convencendo
milhões de brasileiros de que você tem um plano honesto para melhorar a vida
deles. Dos desvalidos, sobretudo.
No grito, no golpe, já tivemos 1954 e 1964. Sempre a mesma
falácia da “corrupção”, do “mar de lama”.
Ora, esse truque já ficou velho. Tirada uma classe média
reacionária, preconceituosa e hidrófoba – a única classe de pessoas que
acreditam na mídia – ninguém mais entra nessa ladainha.
Fora dessa classe média, o leitor se emancipou nos últimos
anos. Acordou. Sabe que quando a elite predadora começa a falar sobre
“corrupção” – sem se importar com demonstrações épicas de gatunagem como a
sonegação bilionária da Globo – é porque estão querendo tomar, mais uma vez,
sua carteira.
Quem não acordou foi essa elite. O blablablá comove os
leitores da Veja – que foi ocupada por Olavo de Carvalho por meio de discípulos
– e quem se orienta pela Globonews e pela CBN.
Fora disso, ninguém leva a sério o moralismo cínico e
criminoso da mídia.
Quem acredita na “indignação” de qualquer colunista com o
salário que ia ser pago a Dirceu? Todos eles ganham duas, três, quatro vezes
aquilo para reproduzir, como cãezinhos levados na coleira, as opiniões de seus
patrões.
Uma palestra de Jabor ou Merval – uma hora contada – dá mais
que o salário tirado de Dirceu antes do expediente.
A quem eles pensam que enganam?
Alguém tem ideia da retirada de um Marinho? Quantos milhões
por mês? Ou de um Civita?
Dirceu teria que trabalhar 100 anos, pelo salário que
provocou “indignação”, para ganhar o que um Marinho retira num mês graças a uma
concessão pública e a expedientes como sonegação contumaz (é o paraíso dos PJs
de mentirinha).
Isso para não falar do milagre de receitas publicitárias
crescentes com Ibopes que minguam espetacularmente. Tudo na Globo tem o pior
Ibope de todos os tempos – do Jornal Nacional ao Fantástico, das novelas ao
Faustão.
O milagre, aspas, é outra contravenção legalizada, o chamado
“BV”, Bônus por Volume, uma propina pela qual a Globo escraviza as agências e,
por elas, os anunciantes.
Claro que este milagre, aspas, morrerá com Ibopes
raquíticos, porque o golpe só funcionava quando era um drama para o anunciante
ser boicotado pela Globo se não se sujeitasse a ela.
Mas isso acontecia quando era um problema para uma marca
ficar de fora de uma Globo em que um final de novela podia ter simplesmente
100% do Ibope.
O problema para as marcas, daqui por diante, vai ser ficar
de fora da internet, pela magnífica razão de que o público que consome está,
todo ele, conectado.
O consolo, diante desse panorama desolador para a mídia, é
caçar Dirceu e Genoino.
Isso pode dar, no curto prazo, uma satisfação momentânea,
brutal e sádica – mas não dá voto.
Antes, na verdade, tira.
A mídia corporativa brasileira não é apenas a voz dos
predadores. É também o porta-estandarte dos obtusos.
Clique aqui para ler “Altman: Dirceu não quer mais trabalhar no hotel”
Aqui para “Kamel conseguiu: jn fica na casa dos 10%”
E aqui para “Não há provas contra o Dirceu. Logo, ele é o mandante”
Aqui para “Kamel conseguiu: jn fica na casa dos 10%”
E aqui para “Não há provas contra o Dirceu. Logo, ele é o mandante”
(*) Ataulfo de Paiva foi o mais medíocre – até certa altura
– dos membros da Academia. A tal ponto que seu sucessor, o romancista José Lins
do Rego quebrou a tradição e espinafrou o antecessor, no discurso de posse .
Daí, Merval merecer aqui o epíteto honroso de “Ataulfo Merval de Paiva”, por
seus notórios méritos jornalísticos,
estilísticos, e acadêmicos, em suma. Registre-se, em sua homenagem, que
os filhos de Roberto Marinho perceberam isso e não o fizeram diretor de redação
nem do Globo nem da TV Globo. Ofereceram-lhe à Academia.E ao Mino Carta, já que
Merval é, provavelmente, o personagem principal de seu romance “O Brasil”.
(**) Ali Kamel, o mais poderoso diretor de jornalismo da
história da Globo (o ansioso blogueiro trabalhou com os outros três), deu-se de
antropólogo e sociólogo com o livro “Não somos racistas”, onde propõe que o
Brasil não tem maioria negra. Por isso, aqui, é conhecido como o Gilberto
Freire com “ï”. Conta-se que, um dia, D. Madalena, em Apipucos, admoestou o
Mestre: Gilberto, essa carta está há muito tempo em cima da tua mesa e você não
abre. Não é para mim, Madalena, respondeu o Mestre, carinhosamente. É para um
Gilberto Freire com “i”.
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