Por Mauricio Dias, na revista CartaCapital:
Dilma enfrentou e superou a mais forte crise provocada por
um partido da própria base política. Não foi um confronto qualquer. Ela
bateu-se com o PMDB, o maior e mais influente aliado da base de apoio
governista no Congresso. Falou-se até mesmo, para susto nos mais ingênuos, em
rompimento da aliança.
A presidenta pagou um preço pela pacificação. Principalmente
aos deputados. Relutante, como de outras vezes, entregou um naco da
administração, liberou verbas parlamentares e recuou em alguns pontos para
resgatar a votação do Marco Civil da Internet. Tudo isso e algo mais, dentro
das distorcidas regras das alianças políticas e do inchaço de uma administração
com 39 ministérios. Assim diluiu gradualmente o chamado “blocão” de governistas
e oposicionistas. Por onde passou um boi passou, em seguida, toda a boiada.
Alguns fanáticos da base governista chegaram a acreditar que
muito mais gente, além deles próprios, romperia com a presidenta. Blefe. Quem
desafiaria até o fim uma candidata que tem enorme chance de se reeleger?
Tentaram alguns golpes baixos. Não terá sido por
coincidência a simultaneidade do grande debate no Congresso na quarta-feira 19,
sobre a compra, pela Petrobras, da refinaria de Pasadena (EUA) com o boato de
que a pesquisa Ibope, a ser divulgada no dia seguinte, apontava uma queda de 8
pontos nas intenções de voto para ela. Houve quem ganhou dinheiro com isso. Era
especulação do mercado.
O Ibope trouxe o resultado: Dilma 43%, Aécio 15%, Eduardo
Campos 7%.
Nada diferente das sondagens anteriores de quatro institutos
(tabela). Todas indicam que, se Dilma ainda não pode se dizer reeleita, os
adversários estão em maior dificuldade. Aécio e Eduardo tentam criar condições
para um deles travar a batalha de segundo turno. As pesquisas são de datas
diferentes, mas não distantes.
Os porcentuais mostrados, quando traduzidos em votos
válidos, assustam mais os opositores. O número de votos brancos e nulos varia
em torno de 24%. Um porcentual bem próximo dos resultados do primeiro e do
segundo turno nas eleições de 2002 (Lula e Serra), 2006 (Lula e Alckmin) e 2010
(Dilma e Serra).
Dilma Rousseff chega, seis meses antes da eleição, com uma
supremacia de votos arrasadora sobre Aécio Neves e Eduardo Campos. Se a eleição
fosse hoje, ela se reelegeria no primeiro turno, com mais de 60% dos votos
válidos. Aécio Neves e Eduardo Campos teriam, no melhor cenário, 25% e 12%,
respectivamente. Juntos, alcançariam 37% dos votos.
Imbatível a presidenta não é. Na perspectiva de hoje, ela
tem, entretanto, mais possibilidade de se reeleger do que de perder a eleição.
Além das virtudes pessoais, carrega com o cargo os vícios de
regras eleitorais que favorecem a quem está no poder. Exemplo: a presidenta,
pela atração dos partidos pelo poder, terá um tempo de 13 minutos no rádio e na
tevê. Aécio Neves terá pouco mais de 3 minutos e Eduardo Campos, em torno de 2
minutos.
É bom lembrar que a reeleição no Brasil foi inventada no
governo FHC, para evitar a chegada de Lula ao poder. Retardou, mas não evitou.
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