Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Logo na primeira semana de treinamentos da seleção
brasileira, em Teresópolis, a Granja Comary já foi transformada numa grande
cidade cenográfica. Um verdadeiro circo do futebol está montado na
concentração, com prioridade para a Globo, é claro, a emissora que tomou conta
do pedaço e é quem dá as cartas, como se aquilo fosse uma filial do Projac.
Tudo bem, a Globo pagou uma nota para ter os direitos de
transmissão da Copa no Brasil, mas não me consta que também tenha contratado,
com exclusividade, o elenco da seleção. Já fiz a cobertura de dois Mundiais e
sei como é difícil conseguir entrevistas com a comissão técnica e os jogadores.
Durante os treinos e dentro da concentração, era impossível.
Com Zagalo no comando, em 1974, na Alemanha, e Telê, no
México, em 1986, havia horários rígidos e limites para o trabalho da imprensa,
que todo mundo respeitava. Ninguém tinha privilégios. Agora, com o sargentão
Felipão de técnico, com sua cara de mau e intransigente zelador das regras,
está virando uma festa do caqui.
Durante a semana, Felipão chegou a interromper um
treinamento - por conta própria ou atendendo a ordens superiores - para que um
apresentador global, acompanhado dos filhos e de um cadeirante, pudesse gravar
cenas do seu programa dentro do campo, quando os jogadores já tinham feito o
aquecimento.
No domingo, só faltou cobrir a Granja Comary com uma lona.
Apareceu - e como apareceu! - até a mocinha da novela das nove, namorada de
Neymar, que se tornou a grande estrela do primeiro treino coletivo, ofuscando
as estrelas de Felipão. Bruna Marquezine estava à vontade, como se estivesse
gravando mais um capítulo da novela, não se vexando de ficar aos amassos com o
jogador na beira do campo, ao vivo, para todo o Brasil.
Para não perder o protagonismo na mídia, e mostrar que é ele
quem manda, ao final do treino o técnico deu um esporro geral nos jogadores na
frente dos jornalistas. "Não gostei do treino, não gostei de nada. Tudo
errado. Muita coisa errada. Muita liberdade, muito contra-ataque, uma série de
detalhes que não são normais na seleção", esbravejou. Deve ter algum
lugar, imagino eu, mais reservado naquele latifúndio para o técnico acertar os
ponteiros com seus jogadores e para que eles recebam suas namoradas.
De fato, Felipão tem toda razão, mas sua bronca não deveria
se limitar ao time. Até o seu parceiro de comando na comissão técnica, Carlos
Alberto Parreira, levou os netos para dentro do campo na granja da CBF.
Começamos mal.
Ao contrário do que vi na Alemanha e no México, onde não
fomos campeões, mas todos levaram o trabalho a sério, este clima de oba-oba
lembra mais o da concentração da seleção brasileira em 1950, quando todo mundo
comemorou o título antes da hora e até hoje tem gente chorando a derrota na
final contra o Uruguai em pleno Maracanã. A diferença é que, em 2014, ainda não
apareceram os políticos em campanha, como naquele ano fatídico, em que a
televisão estava engatinhando no Brasil. Menos mal. Nem o cacique-mor José
Maria Marin foi visto por lá no furdunço de domingo.
Ainda é tempo de botar ordem na casa. É bom lembrar que
faltam apenas dez dias para o jogo de estreia contra a Croácia. Para começar,
acho que o grande ídolo Neymar não pode continuar aparecendo mais na telinha,
em comerciais, programas de televisão ou namorando, do que dentro dos campos de
treinamento. Treino é treino, jogo é jogo e, na hora de trabalhar, é trabalhar
duro. Convém deixar para fazer festa depois do último jogo.
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