Essa é a única
forma de enfrentar a crise, reduzir tributos para os mais pobres, garantir
renda e salvar vidas
Publicado 22/11/2020 17:24
Quem paga mais
impostos no Brasil? Em geral, é essa a pergunta mais comum quando se trata de
tributação. Mas a verdadeira questão é: quem não está pagando? Conhecer a forma
como tributamos são elementos-chave nesse contexto. O tema tributário está na
ordem do dia, ainda mais instigado pela taxação das grandes fortunas aprovada
na Câmara Federal da Argentina nessa semana.
Cada vez que se
inicia um debate sobre tributar as mais altas rendas e o patrimônio, enfim, as
grandes fortunas, surgem as surradas justificativas contrárias: é muito
complicado cobrar, não é tanta gente, não vale a pena; precisamos cobrar de
quem ganha R$ 10 mil – nesta faixa teremos o retorno necessário; precisa
entregar o dinheiro direto à população (o tal “voucher”); o dinheiro vai
escapar do país… E assim segue.
Além de serem
argumentos que não se sustentam, devemos levar em conta que o sistema
tributário não se pauta somente pelo resultado econômico, se arrecada o
suficiente ou não. Ele precisa ser aceito socialmente por um princípio de
justiça fiscal, independentemente do volume de arrecadação.
Se existem poucas
pessoas que possuem jatinhos, helicópteros, iates e lanchas, não vale a pena
cobrar IPVA destas? Claro que vale! Por que o caviar, sendo um artigo de luxo,
deve ser mais tributado se é consumido por poucos? Por ser mais justo! Justiça
fiscal, essa é a questão fundamental. Quanto mais injusto o sistema, mais se
legitima o deslocamento da carga para os mais pobres, o não pagamento
espontâneo dos tributos, a sonegação.
Cobrar mais imposto
de renda de quem tem mais a contribuir, assim como tributar o patrimônio
excedente, as propriedades rurais – que até hoje quase não contribuíram, cobrar
mais dos setores altamente lucrativos – como bancos (basta ver os resultados
deste setor, na pandemia, inclusive), são medidas que contribuem para uma
arrecadação mais justa, que onera mais quem pode mais.
Para entender quem
não está pagando o que deveria, precisamos retroceder ao final dos anos 80,
quando se iniciou uma grande onda de adaptação dos países às políticas liberais
que defendem austeridade, corte de gastos e Estado mínimo.
Ao sair da
ditadura, o Brasil promulgou uma nova Constituição, baseada nos princípios de
solidariedade e redução das desigualdades sociais e regionais, incluindo
assistência social, previdência e saúde. Buscava um Estado de bem-estar social,
uma sociedade mais justa e menos desigual, em contraponto às políticas
liberais.
Para atender aos
preceitos constitucionais, era necessário buscar financiamento para as
políticas públicas. Porém, prevaleceu a implementação de medidas liberais, como
aumentar a tributação sobre consumo e desonerar as altas rendas de pessoas
ricas e muito ricas; não cobrar dos altos patrimônios, nem cobrar mais impostos
da propriedade sem uso, o latifúndio, muito menos tocar nas grandes fortunas.
A decisão foi não
cobrar mais dos mais ricos e jogou-se a conta para os trabalhadores, os
pequenos comerciantes, os que podem pagar menos, sem atingir quem efetivamente
pode arcar com o peso dos tributos.
Por essa razão
estamos propondo a campanha Tributar os Super-Ricos para onerar apenas 0,3% dos
mais ricos do país. Estão sendo propostas oito leis tributárias para obter um
volume de recursos estimado em R$ 290 bilhões anuais e enfrentar a crise
econômica, agravada pela pandemia da covid-19.
As medidas
emergenciais compreendem a revogação da isenção da tributação de lucros e
dividendos distribuídos para pessoas físicas, correção da tabela de alíquotas
do IRPF, criação de contribuição sobre altas rendas, instituição do Imposto
sobre Grandes Fortunas, ampliação das alíquotas do imposto sobre heranças e
doações, passando por novas regras de repartição de receitas da União com
Estados e Municípios e revisão na concessão de benefícios fiscais.
Precisamos
fortalecer o Estado de bem-estar, não o contrário. Nesse momento de crise
profunda, imaginemos como seria se não fosse a presença do Estado para a saúde
e educação. O SUS é responsável por 96% dos transplantes no Brasil e por
milhares de procedimentos de quimioterapia e radioterapia. O acesso aos
medicamentos, às vacinas, à prevenção, tudo é feito pelo SUS, que é público e
utilizado por 75% da população brasileira.
Mais de 80% das
crianças estão na escola pública. E temos bombeiros, defesa civil, instituições
importantes para a vida. Ninguém quer precisar, mas os serviços estão
disponíveis. Saneamento, estradas, grandes obras de infra-estrutura para escoar
produção, enfim, o Estado está presente.
Quem ganha se ele
for diminuído? É o mercado, que vai oferecer o serviço por um preço. Esta é a
grande diferença: o que é público se baseia no direito, na garantia deste
direito, universal. Enquanto o bem privado é para quem puder pagar.
Para enfrentar toda
esta crise, tributar os super-ricos é urgente e imprescindível. É a única forma
de enfrentar a crise, reduzir tributos para os mais pobres, garantir renda,
salvar vidas, recuperar a economia, reduzir o desemprego e produzir Justiça
Social.
Mais de 70
entidades nacionais já aderiram a esta campanha e o movimento cresce em volume
e importância. As informações detalhadas das propostas legislativas estão
disponíveis em www.ijf.org.br/calculadora-irpf e nas mídias sociais da
campanha. A correção de distorções tributárias profundas é possível e exige
mobilização.
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